São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

À cubana, Venezuela naufraga

Com maior delegação da história e previsão de 5 medalhas, país conquista só um bronze em Pequim

Incentivador da importação de técnicos de Cuba, que foi mal na China, Hugo Chávez quer dinheiro do petróleo para forjar campeões


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

No rastro da péssima participação de Cuba nos Jogos Olímpicos (antes potência, o país foi apenas o 28º colocado em Pequim), também naufragou a pretensão de grandeza esportiva da Venezuela e de seu presidente, Hugo Chávez.
Amigo e confidente de Fidel Castro, Chávez apostou todas as suas fichas no modelo cubano de gestão esportiva e, com a maior delegação da história de seu país, esperava recepcionar uma equipe bem mais medalhada do que o modesto bronze solitário exibido por Dalia Contreras, atleta de taekwondo, a única venezuelana premiada entre 109 membros.
O resultado foi pior do que há quatro anos, em Atenas, quando ganhou dois bronzes, com 47 atletas. Na 81ª posição, o país ficou atrás da vizinha Colômbia (65º), com quem mantém uma rivalidade parecida à de Brasil e Argentina.
Diante da frustração, Chávez -principal incentivador da importação de diversos treinadores cubanos- agora quer usar o dinheiro do petróleo para atingir seus objetivos.
Ele designou a principal empresa da Venezuela, a estatal petrolífera PDVSA, cujo faturamento equivale a um terço do PIB nacional, para gerenciar o esporte de alto rendimento. "Que a PDVSA abra escritório para atender aos atletas de alto rendimento, fazer assembléias e ouvir competidores, seus problemas e necessidades."
A intervenção da estatal em outros setores que não a exploração de petróleo tem sido uma constante desde que Chávez assumiu. É dele uma proposta que cria filiais não petrolíferas da companhia para cuidar de coisas díspares, como a produção de bens de consumo (eletrodomésticos e sapatos).
Sob o slogan "Ouro à Revolução Olímpica", a delegação venezuelana embarcou rumo a Pequim incensada por um bombardeio publicitário e com a previsão do governo de cinco medalhas. Voltou humilhada pelos inimigos americanos e em meio a um bate-boca em torno da politização do esporte pelo seu presidente.
Nas semanas que antecederam os Jogos, comerciais de TV, outdoors gigantescos e declarações oficiais inundaram o país martelando o slogan oficial. O softbol, maior esperança de medalha, fez um jogo de despedida em Caracas contra Cuba no qual Chávez estava no banco como treinador assistente.
Foi justamente o softbol o primeiro de uma série de decepções. Logo na estréia, foi atropelado pelos EUA: 11 a 0. Desnorteado, o time nem sequer passou à segunda fase.
No meio dos Jogos, já com o iminente fracasso, Chávez esnobou na TV que "o quadro de medalha não nos importa" e acusou os "oligarcas" de celebrar as derrotas no softbol (no final, os EUA perderam o ouro para a seleção japonesa).
"Os vende-pátrias estão alegres pelas derrotas diante dos EUA e da China. Os filhos de pedra se alegram porque não têm pátria", afirmou Chávez, no último dia 17, usando "pedra" para suavizar um xingamento conhecido.
As críticas à atuação do governo aumentaram nos últimos dias, quando o fracasso já estava decretado. "Influenciou muito o peso político que se colocou nos ombros dessas meninas. Foi como nomear uma jovem recém-formada para gerente de uma empresa", disse a jornalistas Jesús Suniaga, presidente da Federação Venezuelana de Softbol. "As meninas se sentiram como um presunto dentro de um sanduíche."
No Congresso, o deputado Ismael Garcia, um ex-aliado de Chávez, criticou principalmente a campanha publicitária. "Mais do que revisar o gasto investido na preparação dos atletas, seria necessário revisar quanto dinheiro foi gasto pelo governo em propaganda."


Texto Anterior: Santos: Exemplo, Brum espera fazer gol no clássico
Próximo Texto: Atletismo: Bolt chegará ao auge em dois anos, diz técnico
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.