São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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Porco, 25

De provocação e ofensa gravíssima dos rivais a xodó dos torcedores, mascote do Palmeiras completa 25 anos

DE SÃO PAULO

A mascote mais emblemática dos clubes paulistas está fazendo mais um aniversário.
E, quando nasceu, o porco era um filho rejeitado.
O Palmeiras completa agora 25 anos da adoção do animal que não substitui o periquito como mascote oficial, mas que domina os gritos de guerra e adereços da torcida.
Foi nas finais do Paulista de 1986 , em agosto daquele ano. Os palmeirenses, antes dessa época, estrilavam quando ouviam os rivais chamando-os de porcos -até então, uma ofensa gravíssima.
Contra a Inter de Limeira, na decisão, no dia 31 de agosto -e, dizem, até na semifinal contra o Corinthians, dias antes- a torcida, enfim, ignorou os rivais. O que era uma ofensa virou apoio.
E, 25 anos depois, virou um símbolo de orgulho para os palmeirenses. Mas o processo de adoção começou antes, em 1983. E não foi simples.

PROVOCAÇÕES
"Assumir o porco? Você ficou maluco?", foi o que ouviu o então diretor de marketing do clube, João Roberto Gobbato, em 1983.
Munido de um desenho, feito à mão pela sua mulher, e uma carta chamada "A bem da verdade", ele iniciou um processo de adoção do porco que levaria três anos para enfim ser aceito e concluído.
"Na época, soava tão absurdo como se hoje o São Paulo assumisse o bâmbi e o Corinthians assumisse o gambá", declarou Gobbato, empresário, já fora do clube.
Ele usou um argumento que passava pelo orgulho verde. Tiraria uma arma das mãos dos rivais, que não poderiam mais chamar o Palmeiras de porco. "É absorvendo certos apelidos que acabamos com a ação de sermos alvo de gozação", diz a carta.
A ideia era adotar o porco sem tirar do periquito o status de símbolo do clube.
Consequentemente, isso diminuiria, também, a violência nos estádios paulistas.
Aos poucos, ele foi convencendo os cartolas palmeirenses. Então, em 1986, Gobbato juntou as duas principais torcidas organizadas do clube, Mancha Verde e TUP. Conversou com alguns jogadores, como Jorginho. Todos apoiaram a ideia do porco.
Então, nas finais do Estadual de 1986, o porco estreou. "E dá-lhe porco, e dá-lhe porco, olê, olê, olê", gritaram os palmeirenses no Morumbi.
Dois meses depois, o clube foi além: promoveu a entrada de torcedores e jogadores em campo segurando um porco em uma partida contra o Santos, pelo Nacional. Jorginho, ex-atacante, posou com o bicho na capa da "Placar".
Desde então, o porco virou o símbolo máximo do Palmeiras, embora, até hoje, encontre alguma resistência.
"O símbolo do Palmeiras é o periquito. Está no estatuto. O porco foi adotado como medida de amenizar as provocações rivais. Mas dizer que é o símbolo do Palmeiras é demais", afirmou o diretor de futebol Roberto Frizzo, que fazia parte do clube já naquela época, 25 anos atrás.
O incômodo da velha guarda tem explicação. A origem do apelido mexe com o brio dos italianos -foi na Segunda Guerra que surgiu a alcunha. Com o tempo, a ofensa foi alimentada pelos rivais, principalmente pelo Corinthians. "Quero ver se eles [corintianos e são-paulinos] vão assumir o gambá e o bâmbi", provoca Gobbato. (LUCAS REIS)


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