São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Ah, que saudades daquele negrão...


Falta hoje aquele verdadeiro centroavante, tal qual foi Serginho Chulapa, matreiro, forte, bom na bola e na briga


NÃO, malevolente leitor e malevolente leitora, o título acima não é o que vocês estão pensando. Esta saudade é uma saudade futebolística. É que sinto falta daquele centroavante-centroavante, aquele sujeito que ficava no pequeno espaço entre a marca do pênalti e o meio círculo da grande área, apenas esperando a bola chegar para fazer seus gols.
Era sempre um grandalhão e raramente tinha grande habilidade. Mas nós, os torcedores, sabíamos que naquele brutamontes sem coordenação motora estava nossa maior esperança de gol. Ele era nosso Golias, nosso Sansão, nosso Hulk. Antes que algum leitor politicamente correto (ou seja, literariamente chato) venha inquirir-me sobre o "negrão" do título, deixo claro que a história traz muitos brancões jogando com a 9. Mas é que, quando penso em centroavante, penso imediatamente em Serginho Chulapa. Ele tinha tudo o que um centroavante deve ter: era grande, forte, matreiro, cabeceava bem e brigava melhor. Sim, porque um bom centroavante tinha que ser brigão, como César Maluco ou Leônidas da Silva. Para se tornar um centroavante-centroavante, você não precisa ter muita habilidade. Pode ser como Nunes, do Flamengo, ou Jardel, do Grêmio. E não precisa estar em grande forma. Pode ser gordo como Beijoca, do Bahia, ou já um tanto idoso, como Robgol, do Paysandu. O centroavante-centroavante também não deve ter nome e sobrenome, algo como..., sei lá..., Rafael Moura. Ele tem que ter apelido, como Paulinho Mclaren, Roberto Biônico, Roberto Dinamite ou, quem sabe?, He-Man. O grande Dario até abusou nesse quesito e conseguiu quatro célebres codinomes: Dadá Maravilha, Dadá Beija-Flor, Dadá Jacaré e Dadá Peito de Aço, E, se ele tiver "ão" no nome, melhor ainda. É um centroavante destes que falta aos principais times brasileiros. O líder São Paulo adoraria ter um. Aloísio e Lima foram boas tentativas, mas o segundo deu errado e o primeiro ainda não deu certo. Quem sabe o homem seja Edgar, o novo contratado? Ele tem 1,90 m, o que já é um bom começo. O Santos tem Wellington Paulista e Rodrigo Tiuí, mas eles fazem parte dessa nova geração de atacantes que saem muito da área. Não são grandalhões da estirpe do célebre Marcão, que tinha 2 m e fez sucesso na década de 80 pela Ferroviária. O Inter tem Fernandão, mas ele é muito habilidoso para ser um centroavante-centroavante. O Palmeiras tem Enílton, mas ele é rápido demais. Um legítimo centroavante-centroavante não pode fazer firulas nem dar arrancadas de mais de 5 m. Adriano, o Imperador, poderia ser digno da linhagem. Seu problema é que ele não se contenta em jogar fixo. Quer sair da área, fazer coisas que não sabe e não precisa. Ronaldo, pela idade e pelo peso, talvez venha a se tornar um centroavante-centroavante logo, logo. O futebol moderno empurrou os grandões para a zaga. Por exemplo, Júnior Baiano me parece ter vocação para ser um centroavante-centroavante. Tanto que às vezes faz seu golzinho, só para matar a vontade. Pena que marque contra o próprio goleiro, mas vocação é vocação. Enfim, a correria de hoje em dia talvez não permita mais a existência dos Chulapas da vida. Ah, que saudades desses negrões...
Série B
A rodada da Série B deste meio de semana trouxe mortos de volta à vida. O Avaí, que já foi líder, mas estava em décimo lugar, venceu o bom Paulista e subiu para 39 pontos (sétimo lugar). E o Ceará, que já esteve na lanterna, venceu o Gama fora de casa. Não foi o suficiente para sair da zona de descenso, mas agora ele só está lá por conta do desempate no número de vitórias.

torero@uol.com.br


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