São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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TOSTÃO

A cegueira no futebol


O futebol brasileiro mudou o estilo e outras coisas, e as pessoas se acostumaram. Falam que está tudo bem

A SELEÇÃO e o futebol brasileiro só terão grandes times se tiverem grandes jogadores de meio-campo.
Como diz um trecho da bela música "É Uma Partida de Futebol", do Skank, "o meio-campo é lugar dos craques, que vão levando o time todo pro ataque".
Todas as principais seleções da Europa, além da Argentina, possuem melhores volantes que o Brasil. O melhor jogador da Eurocopa de 2008 foi o volante Xavi. Desapareceram também os meias armadores, organizadores, típicos jogadores de meio-campo. Kaká é meia-atacante. Lucas, Hernanes e Anderson, bons volantes, são ainda promessas na seleção. Não parece que vão se tornar craques.
Fernando Calanzas destacou em sua coluna um depoimento de Somália, do Fluminense, sobre Anderson, dito em uma reportagem do jornal "O Globo" sobre a saída precoce de jogadores brasileiros para o exterior: "Joguei com Anderson no Grêmio. Aquele jogador habilidoso, que fazia fila driblando, com toque refinado, não existe mais. É agora volante no Manchester United. Ainda é bom, mas não é o mesmo que foi eleito o melhor de todos no Mundial sub-17".
É exatamente o que penso. Após ver Anderson atuar nesse Mundial e em alguns jogos do Grêmio, pensei que ele se tornaria um Ronaldinho (no auge). Ele é hoje apenas um bom volante, burocrático, igual a tantos outros.
Muitos vão falar que Anderson é ainda jovem, em formação. Não é isso que quero dizer. Ele é outro jogador, com outro estilo. Deve melhorar, porém não tem nada a ver com o jovem que encantou a todos.
Mancini deve jogar de atacante, no lugar de Ronaldinho, pela esquerda, como faz há muito tempo na Itália. Apesar de ter sido correta a troca neste momento, o fato é mais uma demonstração da involução do futebol brasileiro. Sai um craque, que foi um dos maiores jogadores da história, e entra apenas mais um bom atacante.
Há muitas outras coisas fora do lugar. A seleção tem, há muitos anos, melhor defesa que ataque. Júlio Baptista joga mais na frente, na criação (ele seria um bom volante), e Anderson mais atrás, na marcação. Josué ataca, e Lucas, que finaliza bem, apenas defende, como no jogo contra a Bolívia. Partida boa é a com muita pegada. Jogador bom é o tático, que faz somente o que o técnico manda e atua em várias posições, mesmo sem brilho em nenhuma.
E existem muitas pessoas satisfeitas, ou melhor, mal-acostumadas. Dizem que está tudo bem, da mesma forma que se cumprimentam nas ruas. É a cegueira no futebol. Quem disser que está ruim é pessimista. É a ditadura do conformismo e da mediocridade.

Brasileirão
São Paulo e Cruzeiro têm níveis técnicos parecidos, mas estilos diferentes. Como o São Paulo tem um aproveitamento no Morumbi de 77%, possui um pouco mais de chances de vencer, embora o Cruzeiro seja o segundo melhor fora de casa. Os dois técnicos são agitados (durante o jogo) e detalhistas. Muricy, por justiça, já é um excelente treinador. Adilson Batista é uma promessa. Poderá se tornar um Muricy, o mais provável, ou um Mário Sérgio, um Professor Pardal.


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