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Suíça coroa reabilitação de cartola
Beto Barata - 10.abr.01/Folha Imagem
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Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, em depoimento à CPI da CBF/Nike, na Câmara, em 2001 |
Teixeira troca escudo do baixo clero do Congresso por convivência com governadores e com o presidente da República
Para assessor de Serra, ficar fora da foto do anúncio oficial da Fifa, em Zurique, na terça-feira, significará prejuízo eleitoral certo
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ricardo Teixeira que terça-feira estará com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e com
os governadores tucanos José
Serra (São Paulo) e Aécio Neves
(Minas) em Zurique é o mesmo
que em 2001, devassado por
duas CPIs no Congresso, tinha
na linha de frente de sua defesa
em Brasília o grupo de parlamentares do baixo clero que ficaria conhecido pelo sugestivo
nome de "bancada da bola".
De lá para cá, no entanto, a
reabilitação política do cartola,
coroada com a escolha do Brasil
para sediar a Copa de 2014, foi
de tal maneira bem-sucedida
que hoje seus adversários não
formariam um time de futebol
nas "peladas" que a CBF patrocinava até 2001 em Brasília.
A reação começou em 2002,
quando Lula venceu Serra no
segundo turno da eleição presidencial. O primeiro canal de inserção do cartola no PT, até então hostil à CBF, entidade historicamente ligada aos partidos
descendentes da ditadura militar (1964-1985), foi o senador
Delcídio Amaral (MS).
Teixeira também não gostava do PT, mas tinha declarado o
PSDB inimigo porque a sigla do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso turbinara as
CPIs. O cartola sabia que os
únicos adversários dos tucanos
com chances de chegar ao poder eram os petistas. Seu instinto de sobrevivência política
e um assessor com trânsito no
PT o levaram até Delcídio.
Assim, iniciou-se um namoro
entre a entidade e o partido que
se transformaria em noivado
quando Teixeira abriu mão de
US$ 1 milhão para enviar a seleção para o "amistoso da paz" no
Haiti, em 2004, a pedido de Lula. O Brasil receberia os dólares
para jogar contra a Itália.
Ao contrário de FHC, Lula é
fã de futebol. De cara, o pragmatismo dele, do PT e do ex-ministro José Dirceu fizeram
com que o governo acreditasse
na empreitada da Copa.
O ministro do Esporte escolhido por Lula no primeiro
mandato, Agnelo Queiroz (PC
do B-DF), também foi do agrado do cartola, que viu nele um
político "sensível" aos interesses da entidade. Se no Planalto
as coisas iam bem para a CBF,
faltava melhorar o ambiente no
Parlamento, e Teixeira, com a
ajuda de Lula, lançou o projeto
da Timemania, a loteria para
salvar os clubes endividados.
Como muitos parlamentares
possuem algum vínculo com as
associações desportivas, o cenário começou a mudar, e o céu
de Brasília virou de brigadeiro
para a CBF após a entrada dos
governadores em cena.
Um assessor de Serra resume
o espírito: "Aparecer na foto
que será feita em Zurique terça-feira pode não trazer muitos
dividendos, mas ficar fora dela
é prejuízo eleitoral certo".
Assim como o governador tucano paulista, o mineiro Aécio é
nome forte para a sucessão de
Lula em 2010. Sérgio Cabral
(PMDB-RJ), Eduardo Campos
(PSB-PE) e Jaques Wagner
(PT-BA) também sonham com
o Planalto e em sediar jogos da
Copa. Nenhum deles quer ver
suas bancadas brigando com a
CBF. O deputado federal Ciro
Gomes (PSB-CE) e a ministra
do Turismo, Marta Suplicy
(PT-SP), outros presidenciáveis, vão na mesma linha.
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