São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999 |
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Mata-mata de ponta-cabeça
RODRIGO BUENO da Reportagem Local O clássico entre Corinthians e São Paulo está de ponta-cabeça. Nunca o Corinthians se pareceu tanto com o São Paulo e jamais o São Paulo teve tantas características do Corinthians como agora. Quando se enfrentarem hoje, no Morumbi, às 18h30, pelas semifinais do Brasileiro -Atlético-MG e Vitória, no mesmo horário, no Mineirão, iniciam a outra chave-, corintianos entrarão com estrutura, planejamento, técnica e favoritismo, e são-paulinos apostarão na improvisação, na empolgação e no fator surpresa. Essa situação, porém, difere do perfil original dos eternos rivais. O Corinthians registra em sua história times de pouca qualidade e de muita disposição, conquistas heróicas e dramáticas e amadorismo administrativo. Já o São Paulo sempre foi marcado por equipes refinadas, títulos em profusão e vanguarda em gerenciamento. Hoje, os corintianos têm o HMTF, fundo norte-americano, como parceiro, o que lhe rendeu um investimento recorde de US$ 25 milhões para este Brasileiro. Já o São Paulo, que tem suado nos últimos anos para manter o seu estádio em pé, não fechou nenhuma parceria até agora, e a Cirio, seu patrocinador, não tem intenção de renovar contrato. De quebra, o São Paulo tem José Augusto Bastos Neto na presidência, um dirigente que, por declarações folclóricas e descontraídas, chega a ser comparado com Vicente Matheus, principal líder da história corintiana. No elenco do Corinthians, há símbolos da atual seleção brasileira, como o goleiro Dida e o volante Vampeta, craques renomados, como Edílson e Marcelinho, e até ídolo de seleção estrangeira, caso do meia colombiano Rincón. Até o técnico Wanderley Luxemburgo, no comando da seleção, ampara o ex-auxiliar Oswaldo de Oliveira na hora da decisão. Já o São Paulo, desde a venda de Serginho, não empresta jogadores à seleção. Sobraram remanescentes do time do técnico Carlos Alberto Parreira, campeão mundial em 1994, como Márcio Santos, 30, Raí, 34, e Jorginho, 35. A qualidade técnica do elenco é questionada até por sua própria torcida, acostumada a ver seu time dar grande base à seleção. O técnico do time, Paulo César Carpegiani, fez fama internacional ao fazer sucesso com o Paraguai, seleção de segunda linha. Dida e Rogério, os goleiros dos times, são antagônicos. Enquanto o corintiano esbanja frieza, pouco conversa e é especialista em pegar pênaltis, o são-paulino adora ser protagonista, fala demais e é mestre em cobranças de falta. Tecnicamente, o Corinthians beira a perfeição. Atual campeão, venceu os sete primeiros jogos que fez no Brasileiro, foi o primeiro a garantir vaga na segunda fase, teve o maior número de vitórias (15) e o melhor ataque (52 gols). Apesar de tudo isso, a equipe não empolga sua torcida, que cobrou o time mesmo durante a liderança folgada na fase de classificação. Com a vantagem de mando de campo e de jogar por três empates até a final, o time tem jogado com o regulamento, como pede Oswaldo de Oliveira. Nas quartas-de-final, a equipe superou burocraticamente o Guarani, empatando o primeiro e o terceiro jogo do confronto. Inversamente, o São Paulo emocionou ao eliminar a Ponte Preta em três duelos históricos -3 a 2, 1 a 2 e 3 a 2, todos os jogos com viradas e muitas alternativas. Já na fase de classificação, o São Paulo protagonizou cenas dramáticas. Perdeu quatro pontos após decisões polêmicas da Justiça esportiva, viu seu principal reforço do ano, o atacante Sandro Hiroshi, ser suspenso por adulteração de idade. Até seu goleiro reserva, Roger, gerou discussão ao posar nu para revista voltada aos gays. Hoje, a democracia corintiana deu lugar à ""lei do silêncio", e o exemplo de profissionalismo do São Paulo virou ""churrasco". Próximo Texto: Lealdade põe Corinthians em xeque-mate nas finais Índice |
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