São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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FUTEBOL
Time é traído por seu próprio espírito de disciplina no Brasileiro
Lealdade põe Corinthians em xeque-mate nas finais

MAÉRCIO SANTAMARINA
da Reportagem Local

O espírito de time leal, disciplinado, que o Corinthians manteve desde o início do Brasileiro-99 acabou se transformando no principal inimigo da equipe nesta fase decisiva do campeonato.
Com um regulamento que aumentou de três para cinco o número de cartões amarelos necessários para que um jogador seja suspenso, o Corinthians estaria mais tranquilo se seus atletas tivessem abusado da indisciplina.
A equipe, que ficou em sétimo lugar no ranking dos times com menos cartões na primeira fase, entra nas semifinais com cinco jogadores ""pendurados" com quatro cartões amarelos, enquanto o São Paulo, a terceira mais indisciplinada, começa a fase livre da ameaça de suspensões.
O Corinthians somou 46 cartões amarelos e dois vermelhos na primeira fase. O São Paulo teve 53 amarelos e cinco vermelhos, atrás apenas do Juventude e do Vasco.
Jogadores considerados fundamentais nos mais diferentes setores da equipe corintiana, como o meia-atacante Marcelinho, o goleiro Dida, o atacante Edílson e o zagueiro João Carlos, além do meia reserva Edu, terão de cumprir suspensão, caso recebam mais um cartão amarelo, no momento em que o time mais estará precisando deles.
No São Paulo, o único problema de cartão amarelo era com o lateral-direito Ânderson, que vai cumprir suspensão hoje, juntamente com Vágner, que recebeu vermelho na última partida.

Prejuízo
""Acabamos sendo prejudicados por essa regra de cinco cartões. Se fossem três, nossos jogadores já teriam cumprido suspensão e estariam livres para esta fase decisiva. Vamos tentar administrar a situação até o ponto em que for possível", disse o técnico Oswaldo de Oliveira, do Corinthians.
Ele foi contra a possibilidade de a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) zerar os cartões ao final da primeira fase achando que a disciplina beneficiaria seu time.
O treinador começou a perceber que sua equipe estava sendo traído pelo espírito de lealdade nas quartas-de-final, quando viu que a defesa melhorava na medida em que cometia mais faltas.
A média de 24,7 faltas por jogo na fase de classificação -abaixo da média de 28 por equipe- subiu para 31,3 na etapa seguinte. O São Paulo teve média de 28,9 na primeira fase e de 35 na segunda, de acordo com o Datafolha.
Aumentando as faltas, o Corinthians, com 31 gols sofridos nos 21 jogos iniciais (quase 1,5 por partida), tomou apenas um gol nos três jogos das quartas-de-final.
Agora, no entanto, devido à ameaça dos cartões, até para usar essa arma os jogadores terão de manter uma precaução maior, vivendo uma espécie de xeque-mate, conforme admite Oliveira.
""Não há como pensar em eliminar cartões nesta fase, provocando, por exemplo, um terceiro jogo para isso. Em decisões, a idéia é um absurdo. Temos de buscar a vaga o quanto antes, se possível em dois jogos apenas."
Oliveira ainda completou: ""Se quisermos chegar ao título, não podemos pensar em poupar nada. O jogador não pode ficar preocupado com cartão. Vale a força máxima em campo. Temos de acreditar que o nosso grupo é forte para suprir a possível ausência de titulares no futuro".
""Vamos ter que marcar forte, sem pensar em nada. A recomendação é essa, e vamos seguir à risca", confirmou o zagueiro Márcio Costa, que vai substituir João Carlos, que está contundido.
A marcação nos são-paulinos em cobranças de escanteio foi uma das jogadas mais repetidas pela defesa corintiana nos últimos treinos. Foi dessa forma que o São Paulo conseguiu chegar ao gol contra a Ponte Preta que valeu sua classificação nas quartas-de-final.
Oliveira, que deve optar pelos laterais mais aplicados na marcação -Índio, na direita, e Kléber, na esquerda-, pensa até em colocar durante o jogo o volante Gilmar, que participou das jogadas de defesa ensaiadas, no lugar de Vampeta, mais ofensivo, para tentar assegurar um empate.
O jogo de precaução, defendido pelo treinador, pode ser um risco, na visão do meia-atacante Marcelinho. ""Temos que entrar com o pensamento de vitória, jogando para frente, com ousadia. Sempre que quisemos nos defender, acabamos nos prejudicando."
Uma vitória, afinal, além de ampliar a desvantagem do São Paulo -o Corinthians, por ser líder na primeira fase, joga por três empates-, colocaria o time na frente no tira-teima dos duelos de 1999.
As duas equipes já se enfrentaram seis vezes este ano, incluindo as semifinais do Campeonato Paulista. Foram duas vitórias para cada lado e dois empates.
""É melhor não pensar dessa forma. Retrospecto não quer dizer nada nem prova nada. O que vale é o atual título em disputa", disse o meia Ricardinho.

Ambição
Numa década marcada por conquistas de técnicos de larga experiência, Oswaldo de Oliveira quer ultrapassar o obstáculo do São Paulo para provar que não é preciso fama para ganhar um dos campeonatos mais importantes.
No Corinthians, as semifinais são encaradas como antecipação das finais do Brasileiro-99.
Embora evitem declarações nesse sentido, diretores e integrantes da comissão técnica acreditam que se passarem pelo São Paulo nesta fase praticamente estarão com o título nas mãos.
Os últimos campeonatos foram conquistados por técnicos já consagrados: Wanderley Luxemburgo, em 1993 e 1994, pelo Palmeiras, e em 1998, pelo Corinthians, Luiz Felipe Scolari, em 1996, pelo Grêmio, e Antônio Lopes, em 1997, pelo Vasco. Mesmo Paulo Autuori, quando foi campeão pelo Botafogo-RJ, em 1995, já tinha conquistado o título português pelo Benfica.
Este seria o segundo título de Oliveira em um ano como treinador. O primeiro foi o paulista.


NA TV - Bandeirantes e Globo (menos para a cidade de SP e BA) e Sportv (menos para a cidade de SP e PR), às 18h30



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