São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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O São Paulo finalmente alia técnica a garra

DARIO PEREYRA
especial para a Folha

O vencedor da semifinal entre São Paulo e Corinthians entra na decisão como favorito ao título, não tenho dúvida. E não é uma afirmação que faço por ter saído do Atlético-MG, que disputa com o Vitória a outra semifinal, magoado. É uma afirmação baseada no desempenho do Corinthians durante todo o campeonato e, principalmente, na ascensão do São Paulo nas últimas rodadas.
Os pontos que o tribunal tirou do São Paulo fizeram o time se unir. Quando os jogadores ameaçaram fazer greve para defender o Sandro Hiroshi, percebi que, se o São Paulo chegasse às quartas-de-final, apareceria como sério candidato ao título.
E foi o que aconteceu. A garra que o time mostrou nos jogos contra a Ponte Preta lembra a que eu via no final dos anos 70. Quando fui defender o clube, e o São Paulo se tornou o campeão brasileiro de 1977, no início do ano seguinte, todos os jogadores, na época comandados pelo Minelli, tinham muita garra.
Hoje, além da garra, vejo um time com muita técnica, melhor do que aquele de 1977/1978 e, portanto, até com mais chances de ser o campeão.
O Corinthians, por sua vez, teve uma vantagem em relação ao Atlético-MG. Soube compreender que, num campeonato que dá três pontos para uma vitória e apenas um para o empate, você tem que se arriscar, ir ao ataque, procurar o gol... No afã de vencer, sofrer algum revés é normal.
O Corinthians, por exemplo, chegou a levar quatro gols do Vasco em pleno Pacaembu. Eu, que comandei o Atlético-MG em, digamos, 90% dos jogos do time no Brasileiro, tinha a mesma filosofia. E foi por isso que o Atlético-MG se classificou. Tropeços, claro, aconteceram. Levamos duas ou três goleadas, mas conquistamos várias vezes os três pontos, somando o necessário para ficar com uma das oito vagas.
A diretoria, infelizmente, não entendeu assim e me dispensou. Chateado, claro, eu fiquei, porque peguei o time em um momento difícil, sofremos com lesões e suspensões na primeira fase, chegamos lá, mas eu não pude continuar meu trabalho. Mesmo assim, sinto orgulho vendo o Atlético-MG, que já esteve no fundo do poço, hoje no topo, tendo vencido o sempre rival Cruzeiro com tanta propriedade.
Para mim, apesar das críticas que vinham sendo feitas desde o início do campeonato, o Brasileiro é um torneio emocionante, muito mais do que a maioria dos que acontecem na Europa.
Um exemplo, agora reconhecido por todos, são os jogos das quartas-de-final. O clássico mineiro foi repleto de gols e emoção. Corinthians x Guarani, pelo menos os dois jogos disputados em São Paulo, também foram de bom nível. São Paulo x Ponte, então, nem se fala. Três jogos de muitos gols, reviravoltas, talento, garra... E o confronto entre Vitória e Vasco, desde os 5 a 4 de Salvador, foi disputadíssimo também.
Mesmo assim, decepções não deixaram de ocorrer. Na primeira fase, o Flamengo, de quem eu esperava mais, não foi bem.
Mas pior ainda foi o desempenho do trio gaúcho, que surpreendeu não só o Rio Grande do Sul, mas todo Brasil.
Não deu para entender como Inter e Grêmio, que sempre se mostram tão fortes em Brasileiros, tenham caído tanto de produção, a ponto de lutar contra o rebaixamento. Mas dos males o menor. Pelo menos não acabaram como o Juventude, que, depois de ter conquistado a Copa do Brasil, teve de amargar o rebaixamento.


Dario Pereyra, 43, é técnico de futebol

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