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O São Paulo finalmente alia técnica a garra
DARIO PEREYRA
especial para a Folha
O vencedor da semifinal entre
São Paulo e Corinthians entra na
decisão como favorito ao título,
não tenho dúvida. E não é uma
afirmação que faço por ter saído
do Atlético-MG, que disputa com
o Vitória a outra semifinal, magoado. É uma afirmação baseada
no desempenho do Corinthians
durante todo o campeonato e,
principalmente, na ascensão do
São Paulo nas últimas rodadas.
Os pontos que o tribunal tirou
do São Paulo fizeram o time se
unir. Quando os jogadores ameaçaram fazer greve para defender o
Sandro Hiroshi, percebi que, se o
São Paulo chegasse às quartas-de-final, apareceria como sério candidato ao título.
E foi o que aconteceu. A garra
que o time mostrou nos jogos contra a Ponte Preta lembra a que eu
via no final dos anos 70. Quando
fui defender o clube, e o São Paulo
se tornou o campeão brasileiro de
1977, no início do ano seguinte,
todos os jogadores, na época comandados pelo Minelli, tinham
muita garra.
Hoje, além da garra, vejo um time com muita técnica, melhor do
que aquele de 1977/1978 e, portanto, até com mais chances de ser o
campeão.
O Corinthians, por sua vez, teve
uma vantagem em relação ao
Atlético-MG. Soube compreender
que, num campeonato que dá três
pontos para uma vitória e apenas
um para o empate, você tem que
se arriscar, ir ao ataque, procurar
o gol... No afã de vencer, sofrer algum revés é normal.
O Corinthians, por exemplo,
chegou a levar quatro gols do Vasco em pleno Pacaembu. Eu, que
comandei o Atlético-MG em, digamos, 90% dos jogos do time no
Brasileiro, tinha a mesma filosofia. E foi por isso que o Atlético-MG se classificou. Tropeços, claro,
aconteceram. Levamos duas ou
três goleadas, mas conquistamos
várias vezes os três pontos, somando o necessário para ficar
com uma das oito vagas.
A diretoria, infelizmente, não
entendeu assim e me dispensou.
Chateado, claro, eu fiquei, porque
peguei o time em um momento
difícil, sofremos com lesões e suspensões na primeira fase, chegamos lá, mas eu não pude continuar meu trabalho. Mesmo assim, sinto orgulho vendo o Atlético-MG, que já esteve no fundo do
poço, hoje no topo, tendo vencido
o sempre rival Cruzeiro com tanta
propriedade.
Para mim, apesar das críticas
que vinham sendo feitas desde o
início do campeonato, o Brasileiro é um torneio emocionante,
muito mais do que a maioria dos
que acontecem na Europa.
Um exemplo, agora reconhecido
por todos, são os jogos das quartas-de-final. O clássico mineiro foi
repleto de gols e emoção. Corinthians x Guarani, pelo menos os
dois jogos disputados em São
Paulo, também foram de bom nível. São Paulo x Ponte, então, nem
se fala. Três jogos de muitos gols,
reviravoltas, talento, garra... E o
confronto entre Vitória e Vasco,
desde os 5 a 4 de Salvador, foi disputadíssimo também.
Mesmo assim, decepções não
deixaram de ocorrer. Na primeira
fase, o Flamengo, de quem eu esperava mais, não foi bem.
Mas pior ainda foi o desempenho do trio gaúcho, que surpreendeu não só o Rio Grande do Sul,
mas todo Brasil.
Não deu para entender como
Inter e Grêmio, que sempre se
mostram tão fortes em Brasileiros,
tenham caído tanto de produção,
a ponto de lutar contra o rebaixamento. Mas dos males o menor.
Pelo menos não acabaram como
o Juventude, que, depois de ter
conquistado a Copa do Brasil, teve de amargar o rebaixamento.
Dario Pereyra, 43, é técnico de futebol
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