São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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TOSTÃO
Quatro melhores

Das quatro equipes que tinham a vantagem, apenas o Corinthians se classificou para as semifinais. Vasco e Ponte Preta, que eram mais fortes nas apostas, caíram fora. No futebol, os mistérios e o imprevisível continuam sendo mais importantes que a lógica. E não aprendemos.
O Vasco novamente perdeu um importante título. Tudo por causa de seus antigos erros técnicos e táticos, pelo menosprezo ao Vitória simbolizado nas palavras do Eurico Miranda -que declarou, após a primeira partida no São Januário, que o Vitória tinha perdido sua chance- e, principalmente, pela qualidade técnica, juventude e garra da equipe baiana, muito bem comandada pelo Toninho Cerezo. Além da contratação do Romário, está na hora de o Antônio Lopes mudar de tática e de camisa.
Se o Atlético-MG se iludir de que tem um excepcional time, por causa da vitória sobre o Cruzeiro, e não ter garra e humildade, dança como o Vasco.
O São Paulo, ferido pelos pontos perdidos no tribunal e com dez jogadores, despachou heroicamente a Ponte Preta. O Corinthians tem maior número de excelentes atletas (João Carlos deve fazer falta), a vantagem do empate, mas não passa por um bom momento, ao contrário do São Paulo, que está inflamado e unido
Hoje, não há favoritos. Aposto no resultado triplo nos dois jogos, sem vacilar.


Decisão mundial

Nesta terça-feira, o Palmeiras disputa o título do Mundial interclubes, o mais importante de sua história.
O Manchester United tem mais chances, não porque tem uma equipe maravilhosa, mas porque o Palmeiras não encanta há muito tempo, mesmo com a conquista da Libertadores. As grandes vitórias foram no Parque Antarctica, mais por entusiasmo e superação do que por um belo futebol.
O time inglês joga com uma linha de quatro zagueiros, outra de quatro armadores que recuam e avançam e dois atacantes. O ponto forte é o ataque. Os quatro armadores chegam à frente e os dois atacantes são muito bons. A principal jogada (anulada pela Fiorentina na última semana pela Copa dos Campeões) são os cruzamentos de curva, do lado direito, feitos por Beckham, na cabeça dos atacantes Cole e Yorke e do armador Sholes.
Os pontos fracos são a lentidão e pouca habilidade dos zagueiros, a falta de um jogador na cobertura da defesa e os espaços deixados entre o meio campo e a zaga.
O Palmeiras precisa anular os cruzamentos do Beckham, torcer para que Alex esteja inspirado e jogue nas costas dos armadores ingleses, que os atacantes não se coloquem em impedimento ao receber os lançamentos atrás dos adiantados zagueiros e que Marcos continue agarrando até pensamento. Importante é rezar para que Júnior Baiano não cometa mais um pênalti desnecessário.
Luiz Felipe tem sua segunda chance em Tóquio e não quer desperdiçá-la. Se o Palmeiras vencer, será o campeão do mundo com todos os méritos, independentemente do outro torneio (oficial da Fifa) que acontece em janeiro, no Brasil.


Errado está certo

Kafunga, ex-goleiro do Atlético-MG depois cronista esportivo, dizia que, no Brasil, o errado é que estava certo. Era sua crítica social à esperteza, aos conchavos e ao jeitinho brasileiro.
No futebol, em que dezenas de fatores são responsáveis pelas derrotas e vitórias, frequentemente o errado dá certo. A nova diretoria do Galo, que faz um ótimo trabalho de reestruturação, estranhamente despediu o treinador na última rodada. Foi um tiro no escuro, que deu certo. Provavelmente, a equipe estaria hoje na mesma situação com Dario Pereyra. No entanto, talvez a saída do treinador tenha dado chances para que surgisse um técnico brilhante. O futuro vai dizer, pois um profissional só deve ser analisado pela média de suas atuações, num longo período.
O Cruzeiro planejou tudo, tem ótimos jogadores e uma das melhores estruturas de treinamento e concentração do mundo, além de fisiologistas, nutricionistas, calistas etc. etc., mas perdeu para o Galo, que só agora se organiza e não tem nem campo fixo de treino.
O Guarani, que nada planejou, não tinha técnico nem bons jogadores antes de iniciar o campeonato, classificou-se entre os oitos melhores e quase derruba o Corinthians.
Frequentemente o técnico faz uma substituição errada que dá certo. Depois da partida, ele é elogiado e, diante dos microfones, conta detalhes de sua jogada de mestre. Aproveita para exaltar os lances decisivos que aconteceram na partida e para lembrar que todos eles foram treinados e exigidos dos jogadores. Nós, comentaristas, fazemos o mesmo após a partida: ""Eu tinha previsto que tudo isso aconteceria". Vaidades!
Não quero desvalorizar o que é certo nem incentivar o errado, mas no futebol eles andam muito próximos. Se o certo der errado, resta o consolo de que se tentou fazer o certo, mesmo que ele esteja errado.


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras

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