São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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TÊNIS
Para por fim à banalização do posto, entidade impõe corrida por resultados em toda a temporada
ATP troca o nº 1 por "campeão do ano"

ROBERTO DIAS
enviado especial a Hannover

"Esqueça a idéia de líder do ranking. Isso acabou. Agora, só existirá o campeão da temporada."
A frase é de Mark Miles, o principal executivo da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
Com ela, Miles prenuncia o fim de mais de 26 anos de história do ranking mundial, parâmetro que norteou o tênis profissional durante todo esse tempo.
A classificação conhecida hoje dará lugar, no ano que vem, ao que a ATP chama de ""corrida".
Será algo bastante semelhante ao sistema adotado pela F-1.
Ninguém, durante a temporada, poderá ser chamado de número um do mundo -pelo menos não no sentido usado hoje. Só o será quem conseguir estar nessa posição ao final do ano.
Enfim, assim como se tem atualmente ""o campeão da F-1", o tênis passará a conhecer a partir do ano que vem ""o" campeão.
O novo sistema acarretará uma importante quebra no sentido histórico/estatístico do tênis. Por exemplo: torna-se insuperável o recorde de Pete Sampras, o homem que mais tempo liderou o ranking (276 semanas).
""Ele certamente não ficará bravo por não poder aumentar seu recorde. Deve, sim, ficar contente porque ninguém jamais poderá desbancá-lo. Vai se aposentar recordista", disse Miles à Folha.
A mudança ocorre justamente porque a ATP quer evitar que o tênis veja, como hoje, a alternância de diversos nomes no topo.
O que, do ponto de vista histórico, faz sentido. Se o ranking tivesse o novo formato desde sua criação, 8 dos 17 líderes que teve em sua história jamais teriam sido número um do mundo, entre eles o alemão Boris Becker.
Essa banalização da posição máxima chegou ao ápice nesta temporada, quando cinco jogadores se revezaram na liderança do ranking, um recorde histórico.
A ATP quer o fim, no ano que vem, de situações como as ocorridas nesta temporada com o brasileiro Gustavo Kuerten, com o australiano Patrick Rafter ou com o norte-americano Andre Agassi.
O primeiro chegou à melhor posição de sua carreira, o terceiro lugar, justamente na época em que estava afastado do circuito.
Fato semelhante se passou com o segundo, que virou líder em julho, após uma sucessão de resultados no máximo medianos, mas impulsionado por pontos obtidos em agosto e setembro -de 1998.
Com Agassi, a situação foi ainda mais curiosa. Ele ultrapassou Pete Sampras e virou líder um dia depois de perder a final de Wimbledon para o próprio Sampras.
Isso porque o atual sistema leva em consideração os resultados do tenista no período de um ano anterior à data do ranking.
Por exemplo: uma classificação de julho de 1999 é feita com base no ocorrido desde julho de 1998 (entram os 14 melhores resultados de cada jogador).
Instala-se, com isso, um sistema de defesa de pontos. Se determinado jogador é campeão em Wimbledon, ele usufrui desses pontos até a próxima edição do torneio, quando os perde. Precisa, então, reconquistá-los durante a competição -sob pena de despencar no ranking mundial.
Esse sistema não cessará com a nova classificação. Continuará existindo, mas de uma forma ""hibernada". Servirá, sobretudo, para determinar os cabeças-de-chave das competições.
Tanto que a ATP já inicia sua pregação à mídia para que ela dê toda a ênfase ao novo ranking. No qual não será possível a um jogador passar outro sem que tenha sido melhor do que ele na semana imediatamente anterior.
E que, paradoxalmente, deverá ter uma alternância ainda maior de jogadores na frente. Mas sobre eles não recairá o rótulo de melhor tenista no momento.
Além da mudança principal, o novo sistema terá também algumas outras alterações laterais.
Primeira: para a formação do ranking, serão computados os 18 melhores resultados de cada jogador, quatro a mais do que hoje.
Segunda: dos 18 resultados, 13 já têm local predeterminado para serem obtidos. Ou melhor: todos os que tiverem ranking suficiente deverão jogar os quatro Grand Slams e o Super 9 inteiro. Se não o fizerem, mesmo contundidos, um dos resultados válidos será zero.
Terceira alteração: não haverá pontos de bônus (ganhos ao derrotar tenistas bem classificados), numa mudança que leva em conta o equilíbrio cada vez maior do circuito profissional.


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