São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS

Valeu, manezinho

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Você se decepcionou com o fato de Gustavo Kuerten, que no ano passado acabou como número um do mundo, ter fechado 2001 na segunda posição, atrás do jovem Lleyton Hewitt?
Achou que Kuerten pisou na bola ao perder de Hewitt em um jogo de "vida ou morte" para o Brasil na Copa Davis? E que foi péssimo isso ter rolado em pleno saibro em Florianópolis, com a torcida gritando "Guga! Guga!"?
Ou você foi até a Bahia e se frustrou com a atitude dele contra Flávio Saretta, achando que entregou aquele jogo?
E, na sua opinião, ele errou feio ao deixar de ir jogar em Wimbledon, o templo do tênis mundial?
Ou você ficou chateado porque quando ele retornou de Roland Garros não quis falar com ninguém, ficou mascarado, nem deu um "oi" para as câmeras de TV e ainda mentiu dizendo para onde ia?
Ah, você não se importa com o que ele faz fora das quadras e só ficou mesmo triste com aquele match point que ele desperdiçou na rede contra o Max Mirnyi em Stuttgart? Bobeada feia?
Não? Você acha que ele bobeou foi perdendo tantos jogos seguidos, como nunca nenhum outro número um do mundo havia perdido? Que foi duro engolir nosso campeão perdendo de Julien Boutter, Ivan Ljubicic, Sjeng Schalken?
Enfim, o que você tira desta temporada é que Gustavo Kuerten, quando mais se esperava dele, na reta final, perdeu nove dos últimos dez jogos e "deixou" aquele moleque chato e arrogante levantar o troféu de melhor do mundo?
Se é isso o que você tem na cabeça (e sei que muita gente tem, pois todas essas "frustrações" foram enviadas nas últimas semanas ao e-mail publicado aqui embaixo), lamento. É melhor repassar a temporada do brasileiro e começar a perceber que Kuerten merece muitas palmas pelo ano.
É preciso levar em conta também os seis títulos da temporada, incluindo aí o terceiro em Roland Garros e dois Masters Series, em Cincinnati e Montecarlo (mais conquistas em Stuttgart, Acapulco e Buenos Aires, mais finais em Roma e Indianápolis, mais semifinal em Los Angeles...).
No Aberto da França, Kuerten mostrou que atualmente domina a quadra como poucos. A temporada como um todo deixou claro que o brasileiro hoje, inspirado, coloca a bola onde quiser, dentro da quadra, a pouco centímetros da linha, com uma regularidade impressionante. Melhorou muito nesse aspecto.
Mais: Kuerten atuou com uma desenvoltura como nunca havia exibido, jamais deixando-se intimidar por adversários e/ou situações. Maturidade é a palavra do ano para Kuerten. Dentro e fora das quadras, ele cresceu.
É de se tirar o chapéu, por fim, pela marca de 39 semanas como líder no ranking mundial, aquele que leva em conta o desempenho do tenista ao longo das temporadas. Pouquíssimos são os que ostentaram tal regularidade até hoje. Kuerten se sentiu mais número um do mundo neste ano, em que terminou como número dois, do que no ano em que terminou número um. Faz sentido. Todo o sentido.
Ainda lá em Sydney, ao fim da temporada, ele afirmou: "Tenho de comemorar e agradecer pelo ano que eu tive".
Comemore você, Guga. Nós é que agradecemos pelo ano.

Recado
Joana Cortez avisa que está de técnico novo. Aliás, técnicos novos. Paulo Gusmini e Émerson Gusmini ocupam o posto de Juan Pablo Etchecoin. Joana faz pré-temporada no Rio e viaja na antevéspera de Natal para a Oceania. O Aberto da Austrália é o maior objetivo.

Aviso
Depois dessa, só no ano que vem: a Copa Ericsson faz sua última etapa a partir de segunda-feira, no Jockey Clube do Rio de Janeiro. Confirmados pelos menos cinco brasileiros: Flávio Saretta, Alexandre Simoni, Ricardo Mello, Daniel Melo e Marcos Daniel.

Lembrança
É neste fim de semana o confronto entre Austrália e França, que decide o país campeão da Copa Davis. Lleyton Hewitt e Patrick Rafter têm a faca e o queijo na mão para saírem realmente consagrados (o primeiro, da temporada, e o segundo, da carreira).

E-mail: reandaku@uol.com.br


Texto Anterior: Blatter vai à festa e afia a campanha
Próximo Texto: Vôlei: Osasco bate zebra e leva o Paulista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.