|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Ingresso caro e violência
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Ingresso caro e violência nos
estádios foram as duas explicações escolhidas por dirigentes,
técnicos e jogadores para a queda
de público no Campeonato Brasileiro deste ano, segundo enquete
realizada pela Folha. Foi a pior
média da história: apenas 8.085
torcedores por partida.
Antes de discutir as causas desse
fenômeno, que não tem nada de
novo, falemos um pouco sobre as
conseqüências. A mais óbvia é o
desperdício de uma fonte fundamental de receita para os clubes
-a bilheteria. Esse é um problema que se tornou crônico no futebol brasileiro. Enquanto na Europa a bilheteria pode representar
mais de 40% dos recursos dos clubes, aqui depende-se cada vez
mais da venda de direitos para a
TV e transferência de jogadores.
Um outro aspecto negativo reside no fato de que a perda de público é também a perda de uma
"cultura": pais que deixam de levar seus filhos aos estádios interrompem o processo de renovação
de público. O hábito de ir ao campo torna-se descontínuo e rarefeito. Não raro, pais que se enchem
de coragem e elegem uma partida
importante para ir com a família
ao estádio acabam se arrependendo. O resultado é que se vai
criando, especialmente na classe
média, o torcedor de TV.
Não há dúvida de que a insegurança é uma das principais causas do esvaziamento. Não se trata
apenas da violência dentro dos
estádios, mas no caminho de ida e
volta. O futebol como espetáculo
ao vivo ficou no Brasil muito
atrás de outras opções de lazer em
termos de acesso e conforto.
Na grande maioria dos estádios, tudo conspira contra o público: meios de transporte públicos precários e lotados, ausência
de estacionamento, assentos ocupados por terceiros etc. Não há cidadania, não há respeito ao consumidor. É como se os clubes não
precisassem de público, tão mal
tratam seus torcedores.
Quanto ao preço do ingresso,
nessas condições, ele é de fato
muito caro. A alternativa do chamado ingresso popular, no entanto, se realmente aumenta o público, acaba reproduzindo a desigualdade e o preconceito: para os
mais pobres, que têm menos alternativas de lazer, podem-se oferecer péssimas condições que eles
topam, desde que seja baratinho.
Não creio que no Brasil seja desejável simplesmente reproduzir o
modelo europeu que elitizou o
acesso ao campo. É preciso chegar
a uma forma conciliadora, que
reserve espaço para o público de
menor poder aquisitivo e ofereça
à classe média alternativas a preços mais altos.
O fundamental, no entanto, é
que todos sejam tratados dignamente e que haja condições decentes de segurança, acesso e conforto. O Estatuto do Torcedor foi
uma tentativa de melhorar a situação. Mas no Brasil as leis, como se sabe, nem sempre "pegam".
Ou os dirigentes se organizam
com os representantes do poder
público e com grupos de investidores para mudar esse modelo ou
continuaremos no círculo vicioso:
estádios anacrônicos e vazios, clubes pobres, êxodo de jogadores, times medíocres e assim por diante.
Tite fica?
Eleito o melhor treinador do
Brasileiro pelo Júri Folha e tantos outros cronistas esportivos,
Tite, ao que tudo indica, chegou
a um acordo com o Corinthians
e vai ficar. Apesar de ser o preferido de alguns representantes
da diretoria, ele já havia entrado em conflito com a nova parceira do clube, a MSI, que sonhava com Vanderlei Luxemburgo. Chegou a dizer que o negócio com a empresa representada pelo iraniano Kia Joorabchian era "antiético", mas acabou cedendo. Não se sabe se isso quer dizer que tenha mudado de opinião. De qualquer
forma, para o time é melhor assim. Tite faz ótimo trabalho no
Corinthians. Resta saber se o
futuro lhe reservará dias de glória ou de intromissões e confusões. Mas com dinheiro no bolso, tudo fica mais suportável.
E-mail mag@folhasp.com.br
Texto Anterior: Basquete - Melchiades Filho: Penso, logo existo Índice
|