São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Futebol na Espanha é front de nacionalistas

Regiões do país criam seleções próprias para jogos amistosos e geram polêmica

Atletas bascos vetam jogo por causa de nome do time; catalães fazem propaganda para promover uma partida que termina na Justiça


PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol é mais um "campo de batalha" dos movimentos nacionalistas na Espanha.
Depois das tradicionais seleções do País Basco e da Catalunha, outras regiões do país, como Andaluzia, Murcia, Canarias, Galícia e Extremadura montaram times e convidaram outros países para amistosos -hoje, por exemplo, a Colômbia desafia o time catalão no Camp Nou, em Barcelona.
Mas, em boa parte dos casos, esses jogos festivos viraram tema para acaloradas disputas, que vão do campo esportivo até a política espanhola, passando por uma guerra de propaganda contra e a favor das regiões do país que pedem mais autonomia ou até querem criar um Estado independente.
A mais grave do momento ocorreu no País Basco, que cancelou o amistoso que sua seleção faria contra o Irã no último dia 23. Isso por decisão dos próprios jogadores, incluindo todo o elenco do Atlético de Bilbao, o mais tradicional clube da região, a mais radical no separatismo do Estado espanhol.
Os atletas queriam jogar sob a denominação Euskal Herria, o que na língua local significa as províncias do País Basco espanhol e também do lado francês e de Navarra, outra região espanhola. Mas os próprios cartolas, pressionados por políticos mais moderados na questão separatista, optaram por Euskadi, termo que só engloba as províncias bascas da Espanha, o que gerou o fim do amistoso contra os iranianos e um manifesto assinado pelos atletas.
"Não estamos dispostos a voltar atrás. Queremos representar uma nação de sete territórios, 21 mil quilômetros quadrados, cujo nome hoje é Euskal Herria", escreveram os jogadores, que, segundo o governo central espanhol, foram usados pelos nacionalistas.
O governo espanhol, aliás, é acusado pelos nacionalistas, ao lado da federação de futebol, de sabotarem os planos de as seleções regionais disputarem competições oficiais -o que só pode acontecer com Estados independentes, segundo normas da Fifa, ou com autorização do país de que fazem parte.
"É impossível pensar numa competição internacional, num confronto entre uma seleção de uma região autônoma e o resto da Espanha", já disse o presidente do governo espanhol, José Luiz Zapatero.

Calendário
A tentativa de trocar os amistosos por campeonatos importantes já rendeu outra grande polêmica no país europeu.
Uma propaganda catalã promoveu um amistoso da seleção local com um filme publicitário em que um menino com a camisa da equipe era impedido de participar de um jogo por outro com a camisa vermelha da Espanha. Junto, o slogan "uma nação, uma seleção".
O Partido Popular, de oposição a Zapatero, conseguiu na Justiça vetar a propaganda.
Mas, segundo os cartolas da federação catalã, logo sua seleção terá mais espaço para jogar, incluindo a promoção de torneio com a várias seleções.
Isso por um acordo que também já é motivo de polêmica.
Em troca de apoio dos clubes e cartolas catalães (que quase sempre antes fizeram oposição a ele) para a sua última reeleição, Angel Villar, o presidente da federação espanhola, prometeu deixar 3 das 15 datas no calendário da Fifa para a temporada 2009/2010 para as seleções regionais jogarem em detrimento da seleção nacional.


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