São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAULO VINICIUS COELHO Receitas para ir às compras
EM 1980 , ao comprar Renato Pé-Murcho, do Guarani, o São Paulo deu uma de suas primeiras demonstrações de como é possível ser melhor do que os concorrentes no período de reforços. Daquela vez, além do meia Renato, reserva de Zico na Copa de 82, o Tricolor comprou o zagueiro Nei, o ponta-direita Paulo César, o meia Aílton Lira e uniu-os a Valdir Peres, Getúlio e Serginho Chulapa. Era o esboço da equipe, apelidada de Máquina, que seria bicampeã paulista. Aquele período trazia uma lição aprendida em 1978. Era preciso ter agilidade para comprar antes da concorrência. A lição tomada do antigo presidente Antônio Leme Nunes Galvão foi lembrada nesta semana pelo diretor de futebol João Paulo Jesus Lopes para explicar por que o São Paulo contratou, de novo, mais e melhor do que os rivais. "Aprendemos quando o Vicente Matheus passou a perna no Galvão, que já tinha tudo acertado para comprar o Sócrates. O Matheus foi mais ágil." Janeiro ainda não chegou, mas já parece consenso de que será difícil alguém montar um time, no papel, mais impressionante do que o novo Tricolor. Para os rivais, a questão agora é entender por que o São Paulo consegue ser tão certeiro. Neste ano, ainda houve um ingrediente que exigiu estratégia, aliada à agilidade: a reação no Brasileirão. "Fizemos várias sondagens, mas paramos todas as negociações em novembro. Ressaltamos o interesse, mas deixamos claro que só voltaríamos a negociar ao término do campeonato", conta Jesus Lopes. Qualquer notícia que vazasse poderia criar mal-estar. O negócio com Júnior César foi fechado na quinta-feira, 18 de dezembro, horas depois de João Paulo Jesus Lopes saber que sua transferência para o Hertha havia fracassado. Agilidade pura. Mas alguns casos exigiram planejamento, mais do que rapidez. Visão, mais do que esperteza. E contaram com alguns vacilos dos adversários. Arouca é o melhor exemplo. Há um ano e meio, o Brasil inteiro sabe que o contrato do volante com o Fluminense venceria em abril. Sabe também que, estranhamente, havia gente do Flu que não julgava imprescindível sua renovação. Arouca era negócio de ocasião. O Palmeiras tratou do assunto no início do ano, com o Fluminense. Soube como seria difícil o acerto. O Cruzeiro tentou em setembro e teve resposta parecida. Mas o acerto com o Flu era desnecessário, porque Arouca estaria livre ao final de seu contrato. Há dez dias, o empresário Richard Alda foi questionado se Arouca jogaria no São Paulo em 2009. Descartou: "Só vamos pensar nisso em abril. A prioridade é renovar com o Fluminense", disse. João Paulo Jesus Lopes explica a razão do desmentido: "Outra parte importante do negócio é o sigilo". O time de 1980 foi bi paulista, mas não ganhou o Brasileiro. É possível que o time mais bem montado do país para 2009 não ganhe a Libertadores. Mas não se poderá negar o trabalho para chegar lá. Também é difícil negar que o São Paulo é quem melhor se adaptou à legislação, que deixa os jogadores livres ao final de seus contratos. Em 1980, Renato Pé-Murcho tornou-se o jogador mais caro da história do Brasil. Custou 11 milhões de cruzeiros. O Tricolor de 2009 ainda não gastou nenhum real. pvc@uol.com.br Texto Anterior: Juca Kfouri Próximo Texto: Mano iguala Ronaldo a Michael Jordan Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |