São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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VÔLEI

Entidade decide acabar com exames de feminilidade em suas competições

Federação extingue "cartão rosa", mas veta transexuais

DA REPORTAGEM LOCAL

As jogadoras de vôlei não precisam mais apresentar o "cartão rosa" para entrar em quadra. A federação internacional decidiu abolir os testes de feminilidade de suas principais competições.
Mais do que uma questão médica, a decisão foi motivada pelo dinheiro que tem sido gasto nos campeonatos internacionais.
"É um custo muito pesado para os organizadores das competições. E, nos últimos dez anos, não encontramos mais de um caso", afirmou Rubén Acosta, presidente da FIVB, que está com seu Conselho Administrativo, reunido em Acapulco, no México.
O único resultado positivo é o da brasileira Érika, jogadora do Osasco e da seleção de José Roberto Guimarães.
A atacante foi submetida ao exame durante o Mundial juvenil, em setembro de 1997, e teve detectado excesso de testosterona (hormônio masculino).
A jogadora possuía uma má formação dos órgãos reprodutores e teve de ser submetida a uma cirurgia e a tratamento hormonal.
Ela só conseguiu ser liberada para atuar pela seleção em 1998, um ano após ser suspensa.
Para pode defender a equipe adulta no Mundial do Japão, a atleta teve de viajar a Lyon (França) para entregar o resultado dos testes que havia feito no Brasil e fazer um último exame em laboratório licenciado pela federação internacional de vôlei.
Na época, Acosta foi duro: obrigou o Brasil a tirar Érika do Mundial juvenil, sem tempo para qualquer defesa, sob a ameaça de a equipe ser eliminada do torneio.
Hoje, minimiza o caso: "O médico comprovou que não era assunto de masculinidade. Ela tinha certas condições que a faziam apresentar mais hormônios masculinos, mas foi tratada e seguiu jogando vôlei normalmente".
O drama vivido por Érika na seleção juvenil, no entanto, ainda pode ser repetido por outras atletas. A federação internacional pode manter os testes para obtenção do "cartão rosa" em suas competições de base. A decisão terá de ser ratificada pelo Conselho da FIVB, que se reunirá em maio.
Ao anunciar o fim dos exames de feminilidade, o presidente da FIVB alertou que a entidade não seguirá outra medida encampada pelo COI: abrir as portas das competições para os transexuais.
O anúncio foi feito em novembro do ano passado. Segundo o comitê, novas regras estão sendo estudadas para permitir que atletas que mudaram de sexo possam competir após serem submetidos a uma série de exames.
"Apesar de estarem insistindo muito em nome dos direitos humanos e da liberdade individual, não acredito que devemos permitir [a presença de transexuais em torneios de vôlei]", declarou Acosta. "Existem direitos humanos que já são abusos humanos."


Com agências internacionais

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