São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Erramos

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Não são os jogadores, apenas, que precisam saber que o Brasil não entra em campo com o jogo ganho. A torcida também precisa -e isso inclui dirigentes e jornalistas. No último dia 25, o site da CBF anunciava: "Ricardo Teixeira, confiante na classificação, telefona e deseja boa sorte aos brasileiros". Qualquer jornal publicaria a manchete "Só falta um empate".
Todos nós achamos que o resultado contra o Paraguai estava garantido. Perdemos por 1 a 0, o que é péssimo -mas não uma afronta à honra nacional. É só um jogo, sujeito a surpresas, azares e panes temporárias. Ainda mais no futebol, em que é possível jogar mal e vencer, como tantas vezes o fez a seleção brasileira.
"O Brasil pentacampeão do mundo" é uma entidade que não existe. Cinco seleções diferentes ganharam a Copa. Não existe "o time pentacampeão". "O Brasil pentacampeão" não ganha jogos porque não joga; quem joga são 11 pessoas diferentes de cada vez.
Nesse caso, pessoas muito jovens. Onde nós estávamos com 19, 20 anos de idade? Éramos estudantes, estagiários, auxiliares, aprendizes. Cometemos erros por insegurança ou excesso de confiança, mas não fomos massacrados em rede nacional. Alguns de nós (jornalistas, principalmente) somos tão "mascarados" quanto os jogadores que acusamos. Mas ficamos indignados com a vergonha que nos fizeram passar e colocamos em dúvida sua capacidade, seu caráter, seu futuro. Ou torcemos, de coração, para que quebrem a cara. Belo exemplo para os nossos filhos... E queremos que o atleta aprenda com a derrota.
Temos memória curta e seletiva. Em um instante esquecemos a bela jogada de um, a boa partida do outro. Execramos e exaltamos Rochemback em dias alternados. Um lançamento perfeito tem prazo curto de validade, mas um passe errado é inesquecível.
Desculpamos nossos erros quando estamos cansados, mas não reconhecemos o imenso estresse a que são submetidos os atletas da seleção. Que só têm uma opção: vencer. E nem podem ficar felizes após uma grande vitória em um jogo sofrido.
Queremos atletas pé-no-chão, mas recorremos a mitos: "Se fosse o Leão, o Felipão, o Luxemburgo, o Bernardinho...". Todos têm episódios recentes de finais perdidas por times apáticos ou nervosos, inseguros demais ou confiantes em excesso. Quem é infalível?
Ricardo Gomes, tentando acertar, errou. Gomes, Maicon, Alex, Edu, Wendell, Dudu, Fábio, Paulo, Elano, Diego, Daniel, Robinho, Dagoberto, Marcel, Nilmar, todos erraram. A CBF errou. O Paraguai também errou bastante, mas acertou um cruzamento. A Argentina -outro mito de perfeição, paradigma do brio infalível, apesar do penúltimo Pré-Olímpico e da última Copa- errou, mas acertou uma cobrança de falta.
Nós acertamos muito, mas os bons golpes não contam pontos como no boxe. Só vale o nocaute. Caímos... Mas torço para que os jogadores sejam bons de verdade. Alguns parecem torcer para que sejam fraudes.

É rei
Se Alex jogasse no Real Madrid, seria deus do futebol mundial. Cobra faltas e escanteios como Beckham, tem visão de jogo e criatividade como Zidane, faz gols de letra e outras pinturas como os Ronaldos. Mas joga no Brasil, em condições piores que eles, e continuam achando que talvez seja só um caolho em terra de cego. Sacanagem, Mags!

Primeira pergunta
Por que os rankings de Estados e clubes, usados como base para definir as equipes da Copa do Brasil, só foram atualizados até o dia 1º de dezembro? A lista de classificados para a Taça Libertadores (e, portanto, excluídos da Copa do Brasil) só foi definida no final do Campeonato Brasileiro; por que o ranking não foi atualizado também?

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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