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Genética e talento tornam Romário, 40, exceção
Para médicos, treinamento e herança explicam longevidade
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Está registrado no departamento médico do Vasco: Romário, 40,
1,69 m, está com cerca de 8% de
gordura corporal e aproximadamente 72 kg, valores bem inferiores aos que começou o ano. São
também menores do que os números do craque em 1988, há 17
anos, pela seleção brasileira. Então, o jogador tinha 2% a mais de
gordura e 2 kg a mais -era considerado acima do ideal pela comissão técnica da equipe nacional.
Ao fazer seus 40 anos, hoje, o
atacante alia a genética privilegiada a uma dedicação física inédita
para se manter no topo e lutar pela marca de mil gols. Ele melhorou seus índices de testes médicos
e reduziu seu desgaste muscular.
"Nos exames de sangue e urina,
que fez quando chegou ao Vasco,
o Romário tinha físico compatível
com um homem de 39 anos. Mas
agora ele tem índices de um atleta", explicou o vice-presidente
médico do clube, Pedro Valente.
Foi o dirigente e médico que o
convenceu a adotar a dieta do higienismo, surgida nos Estados
Unidos e usada por lutadores de
jiu-jitsu no Brasil. Segundo Valente, ele pratica 60% do regime,
mais do que lhe foi pedido.
O refrigerante do vestiário foi
trocado por sucos de frutas e
água-de-coco. Na churrascaria,
passou da carne vermelha para o
sushi, o frango e a salada.
Sem comer alimentos pesados,
o jogador tem mais facilidade para digerir, o que melhora o seu
rendimento físico. E perdeu de 5
kg a 6 kg em 2005, disse Valente.
Se diminuiu seu peso, Romário
evitou a redução do ritmo da
morte das células do seu tecido
muscular do tipo 2, que têm reação mais rápida e são ideais para
piques. A maior parte das suas fibras musculares tem essa característica, o que lhe permite chegar à
frente em distâncias curtas.
Mas elas sofrem um desgaste
com a idade. Esse processo é conhecido como sercopenia. Segundo o médico André Pedrinelli, especialista no esporte, depois dos
30 anos, o homem perde 1% de
seus músculos por ano.
Romário minimiza o processo
com uma ou duas sessões em aparelhos de musculação e outras
duas de piques por semana. A interlocutores, disse que não dava
tanta atenção aos treinos antes.
"Ele está entre os melhores do
grupo [nas corridas curtas], incluindo os mais jovens. Assim
consegue ganhar dois ou três centésimos na frente do marcador, o
que representa 50 cm de vantagem no campo", diz o fisiologista
vascaíno, Daniel Gonçalves.
Nesta parte, entra a inteligência
de Romário. Sabendo que perderá dos rivais nos piques de
10 a 15 metros, prefere jogar nos espaços curtos.
"Normalmente, os
caras adaptam seu
jogo quando ficam
mais velhos", disse
Pedrinelli. "Mais de
70% da performance
de um atleta depende
do fator genético."
Mais uma vez a herança ajuda. Neste ano,
os dados genéticos do jogador foram verificados
por avaliação isocinética e
pela análise das impressões
digitais, método russo usado
para atletas olímpicos. Ambos os
testes apontaram que sua musculatura é menos propensa às contusões por ter fibras mais coordenadas. Para conservar esse patrimônio, o fisioterapeuta Marcelo
Coutinho acompanha Romário
até nos treinamentos em casa.
Viagens longas, especialmente
de avião, são evitadas pelo desgaste das articulações e mudanças de
campos. Entretanto, neste início
de ano, em forma, Romário
agüenta até duas partidas por semana, afirma a comissão do Vasco. E assim se aproxima da marca
dos mil gols na carreira.
Colaborou Mário Hugo
Monken, da Sucursal Rio
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