São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Confederação de judô paga viagem de cartolas ao país

Encontro da federação internacional à revelia de entidade continental ameaçava tirar Brasil do tatame na Olimpíada

E-mails comprovam que confederação nacional fez contato com dirigentes, a fim de viabilizar presenças em evento no Rio de Janeiro


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em encontro marcado com jornalistas nesta manhã para falar sobre a reunião de dirigentes do judô pan-americano no Rio, o presidente da confederação brasileira, Paulo Wanderley, deverá também tratar de quem bancou as viagens dos presidentes de federações.
Desde que a reunião foi revelada pela Folha na segunda-feira, o comandante do judô brasileiro insistia que a viagem dos cartolas para o encontro de ontem e hoje não tem custo para a entidade -versão repetida a seus colaboradores. Mas troca de e-mails a que a reportagem teve acesso revela o contrário.
Em mensagem pela qual convidou um presidente de federação, Ingrid Camara, uma funcionária da CBJ , afirma que mandará a passagem aérea para ele assim que receber algumas informações.
Além de pedir o envio ao fax da entidade de dados como número do passaporte, uma das demandas é que o viajante seja membro da federação nacional de seu país e que venha com uma procuração para representar legalmente a entidade.
No convite, a reunião não é citada como "encontro particular", como definiu o presidente da CBJ ao longo da semana. Mas como "Reunião da Federação Internacional de Judô".
Em outra série de mensagens recebidas pela reportagem, o presidente da federação uruguaia, Ignacio Aloise, trata com outro presidente de federação do assunto. Depois de receber uma pergunta do convidado sobre a possibilidade de ajuda de custo, "uma vez que nossa entidade tem orçamento raquítico para isso", ele tranqüiliza o cartola. Informa que Paulo Wanderley fará contato para enviar a passagem e que a estadia será coberta pela Federação Internacional de Judô.
Um bilhete eletrônico também teve cópia enviada à reportagem. Para acessá-lo, o contemplado com a viagem clicava num link remetido na segunda-feira. "Seguem as informações sobre sua passagem aérea para o Rio de Janeiro. Atenciosamente, Paulo Wanderley" é o texto da mensagem.
Antes de o encontro, no hotel Copacabana Palace, ser revelado, com a ameaça de desfiliação do Brasil da União Pan-Americana de Judô, a CBJ não havia se manifestado sobre o assunto, uma vez que não pretendia dar publicidade à reunião.
Mesmo após ser amplamente comentado na mídia (inclusive após o anúncio do apoio da federação internacional, com a presença de Marius Vizer, seu presidente), o evento continuou sem merecer uma linha no site oficial da confederação.
O caso veio a público graças a uma carta de advertência da UPJ contra a entidade nacional. No texto, Jaime Casanova Martinez, presidente da união continental, ameaça o Brasil de desfiliação e acusa o país de orquestrar "um golpe de Estado" contra sua entidade.
Anteontem, o dominicano descartou o risco de os brasileiros não competirem em Pequim -o que poderia decorrer da desfiliação, já que a UPJ é quem indica as vagas para a Olimpíada e a filiação à entidade continental é condição para o país ser membro da FIJ.
Mas criticou a forma como a CBJ conduziu o episódio. Casanova foi procurado para comentar as mensagens recebidas ontem pela Folha, mas não respondeu a e-mails enviados.


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