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Equador põe tacos e luvas no vale que gera craques
DO ENVIADO A GUAYAQUIL
O Equador só deixou de ser
um saco de pancadas no futebol
sul-americano -disputou sua
primeira Copa só em 2002-
quando um batalhão de jogadores negros de uma das mais pobres regiões do país surgiu.
E o prêmio dado ao Vale do
Chota, onde moram cerca de 30
mil descendentes de africanos
e que é a terra dos selecionáveis
Agustín Delgado, Edison Méndez, Giovanni Espinoza, Ulises
de la Cruz e Guerrón, foram tacos e luvas de beisebol.
Isso porque Rafael Correa, o
presidente equatoriano, levou
também para o esporte a aliança que tem com os governos de
Cuba, dos irmãos Castro, e Venezuela, de Hugo Chávez, países onde o beisebol goleia o futebol em popularidade.
O primeiro passo foi a assinatura de um convênio com o Inder, o Instituto Nacional de Esporte, Educação Física e Recreação de Cuba, o órgão estatal que toca o esporte cubano,
onde o futebol é primário.
Mas foi a ideia esdrúxula de
um ministro, que foi preso no
início do ano acusado de corrupção e enriquecimento ilícito, que deixou os futebolistas
do Vale do Chota indignados
com o governo Correa.
Indicado pelo presidente para o Ministério do Esporte, que
só ganhou esse status na atual
administração (antes era só
uma secretaria), Raúl Carrión
pretendia trocar o futebol pelo
beisebol, modalidade absolutamente ignorada pelos equatorianos descendentes de africanos, no maior celeiro do futebol
do rival brasileiro de hoje.
"O beisebol é maravilhoso,
vou implantá-lo para a raça negra no Equador", projetou Carrión, causando repulsa nos jogadores que chegaram a clubes
europeus depois de uma vida
de miséria no Vale do Chota.
"Em Chota, as pessoas gostam 100% de futebol. Posso
afirmar que ninguém gosta de
beisebol. Seria melhor reforçar
as escolas de futebol. Conheço
minha gente e garanto que o
beisebol não terá acolhida alguma lá", afirmou o volante Méndez, do PSV, da Holanda.
Carrión programou gastar
US$ 6 milhões (cerca de R$ 13,7
milhões) em um centro de treinamento que teria o beisebol e
o softbol, sua versão feminina,
como principais atrações.
A demissão e a prisão de Carrión não acabaram com a ideia
de fazer o beisebol de cubanos e
venezuelanos rivalizar com o
futebol. Sua sucessora no ministério diz que o projeto segue
em estudo no governo Correa.
O governo equatoriano quer
gastar dinheiro com beisebol
numa região onde os jogadores
de futebol tiram dinheiro do
próprio bolso para atenuar o
ambiente de miséria.
Ulises de la Cruz, que esteve
nas Copas de 2002 e 2006, gastou 10% do salário que recebia
em clubes ingleses em obras sociais no Vale do Chota.
"Muitos jogadores têm muito dinheiro. Eu respeito todos
os estilos de vida, mas fico frustrado que tantos jogadores tenham como prioridade sua
próxima grande casa ou seu
próximo grande carro", disse.
Apesar da ideia do beisebol, o
presidente Correa não perde a
oportunidade de pegar uma carona na popularidade dos jogadores negros do Vale do Chota
e outros astros equatorianos.
No final do ano passado, por
exemplo, ele recebeu a delegação completa da seleção local
para um almoço na sede do governo -com direito a muitas
fotos e propaganda do encontro. (PAULO COBOS)
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