São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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Equador põe tacos e luvas no vale que gera craques

DO ENVIADO A GUAYAQUIL

O Equador só deixou de ser um saco de pancadas no futebol sul-americano -disputou sua primeira Copa só em 2002- quando um batalhão de jogadores negros de uma das mais pobres regiões do país surgiu.
E o prêmio dado ao Vale do Chota, onde moram cerca de 30 mil descendentes de africanos e que é a terra dos selecionáveis Agustín Delgado, Edison Méndez, Giovanni Espinoza, Ulises de la Cruz e Guerrón, foram tacos e luvas de beisebol.
Isso porque Rafael Correa, o presidente equatoriano, levou também para o esporte a aliança que tem com os governos de Cuba, dos irmãos Castro, e Venezuela, de Hugo Chávez, países onde o beisebol goleia o futebol em popularidade.
O primeiro passo foi a assinatura de um convênio com o Inder, o Instituto Nacional de Esporte, Educação Física e Recreação de Cuba, o órgão estatal que toca o esporte cubano, onde o futebol é primário.
Mas foi a ideia esdrúxula de um ministro, que foi preso no início do ano acusado de corrupção e enriquecimento ilícito, que deixou os futebolistas do Vale do Chota indignados com o governo Correa.
Indicado pelo presidente para o Ministério do Esporte, que só ganhou esse status na atual administração (antes era só uma secretaria), Raúl Carrión pretendia trocar o futebol pelo beisebol, modalidade absolutamente ignorada pelos equatorianos descendentes de africanos, no maior celeiro do futebol do rival brasileiro de hoje.
"O beisebol é maravilhoso, vou implantá-lo para a raça negra no Equador", projetou Carrión, causando repulsa nos jogadores que chegaram a clubes europeus depois de uma vida de miséria no Vale do Chota.
"Em Chota, as pessoas gostam 100% de futebol. Posso afirmar que ninguém gosta de beisebol. Seria melhor reforçar as escolas de futebol. Conheço minha gente e garanto que o beisebol não terá acolhida alguma lá", afirmou o volante Méndez, do PSV, da Holanda.
Carrión programou gastar US$ 6 milhões (cerca de R$ 13,7 milhões) em um centro de treinamento que teria o beisebol e o softbol, sua versão feminina, como principais atrações.
A demissão e a prisão de Carrión não acabaram com a ideia de fazer o beisebol de cubanos e venezuelanos rivalizar com o futebol. Sua sucessora no ministério diz que o projeto segue em estudo no governo Correa.
O governo equatoriano quer gastar dinheiro com beisebol numa região onde os jogadores de futebol tiram dinheiro do próprio bolso para atenuar o ambiente de miséria.
Ulises de la Cruz, que esteve nas Copas de 2002 e 2006, gastou 10% do salário que recebia em clubes ingleses em obras sociais no Vale do Chota.
"Muitos jogadores têm muito dinheiro. Eu respeito todos os estilos de vida, mas fico frustrado que tantos jogadores tenham como prioridade sua próxima grande casa ou seu próximo grande carro", disse.
Apesar da ideia do beisebol, o presidente Correa não perde a oportunidade de pegar uma carona na popularidade dos jogadores negros do Vale do Chota e outros astros equatorianos.
No final do ano passado, por exemplo, ele recebeu a delegação completa da seleção local para um almoço na sede do governo -com direito a muitas fotos e propaganda do encontro. (PAULO COBOS)


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