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FUTEBOL
Vai que é suuua, Lelê!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Meu nome é Leocádio, mas
todos me chamam de Lelê.
Eu gosto à beça de jogar futebol.
A minha posição favorita é goleiro, porque ali a gente pode usar
luva e pular bastante.
Na aula de educação física, eu
sempre jogo no gol. Na minha escola os meninos jogam numa
quadra e as meninas, numa outra. Mas um dia o professor de
educação física, que se chama
professor Santana e é bem gordo,
me chamou e disse:
- Lelê, vem cá um minuto.
Fui lá e a menina-goleira estava
chorando (as meninas são bobas,
choram por qualquer coisa). Alguém tinha dado um chute e o dedo dela estava roxo (as meninas
têm dedos muito fraquinhos). Aí
o professor Santana falou:
- Lelê, entra no gol para completar o time.
Naquela hora todos os meus
amiguinhos começaram a rir e eu
fiquei tão chateado que quase
chorei, mas eu não chorei porque
eu sou menino e menino não chora, e aquela gota que caiu do meu
olho foi porque eu estava suado.
No outro time de meninas, o
que estava jogando contra o meu
time de meninas, tinha uma menina chamada Bruna. Não gosto
dessa Bruna. Eu a chamo de Bruxa. E ela me chama de Lelé. Lelé
da Cuca. O pai dela é amigo do
meu pai e às vezes eles vão em casa, mas não adianta que não vou
com a cara dela de jeito nenhum.
Então começou o jogo e eu estava superbem. Era o maior mole
jogar ali, porque as meninas são
fraquinhas e dão uns chutinhos
que dá vontade de rir, mas aí
uma hora a Bruna veio avançando, passou pelo meio da quadra e
se preparou para chutar. Só para
deixar ela com raiva eu falei "Vai
que é suuua, Lelê". Mas então ela
mandou um chutão. Um chutão
mesmo! Eu vi a bola crescendo,
crescendo, crescendo e pou!
Aí eu fui parar num lugar todo
branco. Mas eu não tinha morrido e aquilo era o céu. Era a enfermaria mesmo.
A tia da enfermaria, que usa
uns óculos muito grossos e se chama dona Francisca, fez um curativão no meu nariz. Eu fiquei com
a maior cara de palhaço e não
queria sair dali de jeito nenhum,
porque os meus amigos iam ver a
minha cara e rir de mim. Eu esperei o maior tempão e aí, quando
eu achei que já dava, eu saí.
Mas a Bruna estava me esperando. Então fui andando para
perto dela e ela veio andando para perto de mim. Aí eu olhei bem
direto nos olhos dela e pensei:
"Vou dizer que até que ela nem é
tão ruim de bola, que ela dribla
bem e que ela tem um chute que
até parecia chute de menino".
Eu também quis pensar o que
ela estava pensando e, na minha
cabeça, aquilo que ela estava pensando era que eu era um goleiro
superbom, que eu quase tinha
morrido só para defender o meu
time e que era muito corajoso
aquilo que eu tinha feito.
Eu fui andando, ela veio andando e aí, quando a gente estava
bem perto um do outro, eu falei:
- Bruxa!
E ela falou:
- Lelé!
E cada um acabou correndo para um lado.
Trivialidades
Talvez você até saiba que o São
Paulo foi penta-vice no Campeonato Brasileiro, mas sabia
que o Atlético-MG é um legítimo hexa-terceiro? E que o Cruzeiro e o Guarani (sem ironia)
foram bi-sextos? Que o Fluminense e o Corinthians são tetra-quartos? Que o Internacional,
além de tri-campeão, ostenta
um tri-nono em seu currículo?
Que o Santos já alcançou um
raríssimo penta-sétimo? E que
a Lusa é a primeira e única
equipe a ostentar um penta-décimo? Interessante, não? É, não.
Aleluia
E o programa do Juca Kfouri finalmente trocou de cenário.
Agora o telespectador já pode
assisti-lo sem óculos escuros
para proteger-se da intensa luz
que vinha daquela faixa branca
da mesa. Aleluia!
E-mail torero@uol.com.br
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