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Campanha que exalta a 10 faz troça do "homem-Copa"
Propaganda da Nike diz que "ninguém se mata" pela camisa que consagrou Cafu, o lateral que superou 12 peneiras para bater o recorde de finais de Mundiais
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Nike não esconde que sua
atual estratégia de marketing é
glamourizar a camisa 10. Mas
uma peça publicitária desse esforço pode ter o efeito colateral de
minar a imagem de outra camisa:
a de número 2.
No período em que a seleção
brasileira tem seu mais importante camisa 2 de todos os tempos, o
capitão Cafu, a fornecedora de
material esportivo da CBF estampa cartazes com os dizeres: "Ninguém se mata pra jogar com a 2".
Tal slogan parece fora da realidade para quem teve uma trajetória como a de Cafu. Garoto da periferia de São Paulo, foi rejeitado
em nada menos que 12 peneiras
antes de ser aceito no São Paulo.
Com fama de grosso, passava horas treinando fundamentos, como cruzamentos, para justificar a
titularidade em um time grande.
O número 2 tradicionalmente é
destinado ao lateral-direito, atleta
que, ao lado de seu parceiro que
atua pela esquerda, é o jogador
que mais costuma correr numa
partida. "Em geral, os laterais correm 12 km por jogo, 10% mais que
os meias [posição do camisa 10]",
conta Turíbio Leite de Barros, fisiologista do São Paulo.
"A intenção não é de desvalorizar a 2, mas relevar a magia da 10",
explica Katia Gianone, gerente de
comunicação da Nike do Brasil.
Para ela, o fato de "ninguém se
matar para jogar com a 2" não
menospreza o lateral-direito do
Milan. "A campanha não tem nada a ver com o Cafu", explica ela.
Gianone diz que a campanha
"Joga 10" foi concebida pela agência norte-americana da marketing que cuida da publicidade
mundial da Nike, a Wieden &
Kennedy. "A campanha tem várias peças publicitárias, não apenas esta que cita a camisa 2. A estratégia de marketing deve ser
compreendida como um todo e
não ter um outdoor analisado fora do contexto", afirma.
"A idéia surgiu a partir de pesquisas entre jovens de 14 a 16 anos
e atletas. Ronaldinho, por exemplo, afirmou que em seus times de
peladas sempre havia disputa pela
camisa 10, enquanto ninguém
queria usar a 2 ou a 3. O dado foi
confirmado por pesquisas com os
jovens", relata a gerente da Nike,
reiterando que a campanha da
empresa é destinada também aos
demais países sul-americanos,
além do Brasil -cujo capitão da
equipe nacional veste justamente
o uniforme "que ninguém quer".
Patrocinado individualmente
pela italiana Lotto, Cafu é o único
jogador a participar de três finais
de Copas do Mundo e o recordista
em partidas pelo time nacional,
com mais de 130 aparições. Na
Copa da Alemanha, deve se tornar o brasileiro com mais jogos
em Mundiais -hoje ele tem 17,
um a menos que Taffarel e Dunga.
Anteontem, após o amistoso
com a Guatemala, Cafu foi elogiado por Carlos Alberto Parreira,
para quem ele atuou muito bem
na vitória do Milan por 2 a 0 sobre
o PSV no jogo de ida da Copa dos
Campeões da Europa, na terça.
Uma das estrelas cuja presença
é tida como certa na Copa da Alemanha, Cafu provavelmente será
poupado do elenco que disputará
a Copa das Confederações.
Marcado para a segunda quinzena de junho, o torneio na Alemanha, última competição oficial
da Fifa antes do início da Copa do
Mundo de 2006, deve ser usado
como laboratório por Parreira para definir o elenco, incluindo o reserva de Cafu, que tentará o hexacampeonato mundial.
O são-paulino Cicinho, um dos
que almejam a suplência do capitão, minimizou o efeito colateral
da campanha publicitária da patrocinadora da seleção. "A camisa
10 sempre foi valorizada pelo que
fizeram Zico, Pelé e Maradona.
Acho que não há depreciação em
jogar com a 2 e quero continuar
usando esse número no São Paulo. Na seleção, se tiver que jogar
com a 2 ou com a 13, não há problema nenhum", declarou ele.
Colaboraram Paulo Cobos e Toni Assis,
da Reportagem Local
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