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FUTEBOL
Indústria de cosméticos contraria lógica machista da bola e estampa marca em quatro clubes do Norte e Nordeste
Patrocínio "maquia" esporte cabra-macho
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O futebol "cabra-macho" vive
uma revolução de conceitos. Se
ainda não proliferam pelo Norte e
Nordeste metrossexuais como o
inglês David Beckham, os times já
se renderam a um sutil toque feminino nos uniformes.
Fortaleza e Paysandu, na Série
A, e Bahia e Vitória, na B, exibem
no peito o logotipo da Muriel
Cosméticos, uma indústria paulista cuja produção é obviamente
mais voltada para o público feminino que para o masculino.
A opção regional é estratégica.
Cerca de 80% do faturamento da
empresa se dá no Nordeste e no
Norte do Brasil, segundo o presidente da empresa, Paulo Boldarin. Mas e a escolha pelo futebol?
"Segundo dados do IBGE, o número de mulheres que assiste a
futebol é de cerca de 30%, até porque muitos lares tem só um televisor", diz Boldarin, 45, que recorda
que a indústria também produz
linha masculina, como desodorantes, xampus e sabonetes.
A indústria, que já existe há 28
anos, enfrenta pouca resistência
entre os torcedores. Em Salvador,
onde os dois principais times são
patrocinados pela Muriel, houve
pouco espaço para a gozação.
"A galera do Bahia brincava
porque o Renê Simões, que era da
seleção feminina, tinha acabado
de assumir o time", afirma Sérgio
Souza, presidente da Leões da
Fiel, organizada do Vitória. "Eles
diziam: já que vocês trouxeram o
treinador do time feminino, com
a Muriel vindo era o que bastava."
Souza, no entanto, não vê nenhum problema em ver o time associado à vaidade feminina. Tanto que também pretende associar
a torcida à marca.
"Nós os sondamos para ver se
eles têm interesse em patrocinar
um bandeirão, aí a gente pode fazer uma publicidade no estádio
para eles", afirma o torcedor.
Pelo lado do tricolor baiano, o
acerto do Bahia desperta alguma
revolta, mas a razão não tem nenhuma relação com machismo.
"Foi um patrocínio feito nas coxas. Por ter a maior torcida do
Nordeste, o Bahia tinha condições
de barganhar um patrocinador
mais forte e reforçar o elenco", diz
Cristóvão Contreiras, diretor social da Bamor, uma das maiores
organizadas do Bahia. "Nós não
conhecemos os valores do contrato, mas sabemos que são irrisórios", completa Contreiras.
"Dinheiro a gente não vê a cor",
defende o presidente do Bahia,
Marcelo Guimarães, que afirma
que o contrato firmado é bem melhor que o com a Quartzolit, última marca estampada na camisa.
"Diante da nossa situação, temos
que valorizar a receita."
Segundo Boldarin, que diz ter
um faturamento de R$ 6,5 milhões por mês, os valores não podem ser revelados por força de
contrato. A Folha apurou, no entanto, que o investimento total da
Muriel nos quatro times gira em
torno de R$ 1 milhão por mês.
Os contatos da empresa com
Vitória e Bahia foram iniciados
quase simultaneamente e anunciados em conjunto, no início do
ano. Depois, a Muriel resolveu investir em times da Série A, fechando em fevereiro com o Paysandu e
em março com o Fortaleza.
Boldarin se diz satisfeito com o
resultado. "Pegamos dois times
da Série B, que tem transmissão
aberta na Rede TV, e dois da Série
A, que a Globo e a Record transmitem às quartas e domingos."
Além disso, a Muriel usa as
marcas dos clubes como incentivo de fidelidade, dando camisas
de futebol aos redistribuidores.
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