São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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FUTEBOL

Indústria de cosméticos contraria lógica machista da bola e estampa marca em quatro clubes do Norte e Nordeste

Patrocínio "maquia" esporte cabra-macho

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol "cabra-macho" vive uma revolução de conceitos. Se ainda não proliferam pelo Norte e Nordeste metrossexuais como o inglês David Beckham, os times já se renderam a um sutil toque feminino nos uniformes.
Fortaleza e Paysandu, na Série A, e Bahia e Vitória, na B, exibem no peito o logotipo da Muriel Cosméticos, uma indústria paulista cuja produção é obviamente mais voltada para o público feminino que para o masculino.
A opção regional é estratégica. Cerca de 80% do faturamento da empresa se dá no Nordeste e no Norte do Brasil, segundo o presidente da empresa, Paulo Boldarin. Mas e a escolha pelo futebol?
"Segundo dados do IBGE, o número de mulheres que assiste a futebol é de cerca de 30%, até porque muitos lares tem só um televisor", diz Boldarin, 45, que recorda que a indústria também produz linha masculina, como desodorantes, xampus e sabonetes.
A indústria, que já existe há 28 anos, enfrenta pouca resistência entre os torcedores. Em Salvador, onde os dois principais times são patrocinados pela Muriel, houve pouco espaço para a gozação.
"A galera do Bahia brincava porque o Renê Simões, que era da seleção feminina, tinha acabado de assumir o time", afirma Sérgio Souza, presidente da Leões da Fiel, organizada do Vitória. "Eles diziam: já que vocês trouxeram o treinador do time feminino, com a Muriel vindo era o que bastava."
Souza, no entanto, não vê nenhum problema em ver o time associado à vaidade feminina. Tanto que também pretende associar a torcida à marca.
"Nós os sondamos para ver se eles têm interesse em patrocinar um bandeirão, aí a gente pode fazer uma publicidade no estádio para eles", afirma o torcedor.
Pelo lado do tricolor baiano, o acerto do Bahia desperta alguma revolta, mas a razão não tem nenhuma relação com machismo.
"Foi um patrocínio feito nas coxas. Por ter a maior torcida do Nordeste, o Bahia tinha condições de barganhar um patrocinador mais forte e reforçar o elenco", diz Cristóvão Contreiras, diretor social da Bamor, uma das maiores organizadas do Bahia. "Nós não conhecemos os valores do contrato, mas sabemos que são irrisórios", completa Contreiras.
"Dinheiro a gente não vê a cor", defende o presidente do Bahia, Marcelo Guimarães, que afirma que o contrato firmado é bem melhor que o com a Quartzolit, última marca estampada na camisa. "Diante da nossa situação, temos que valorizar a receita."
Segundo Boldarin, que diz ter um faturamento de R$ 6,5 milhões por mês, os valores não podem ser revelados por força de contrato. A Folha apurou, no entanto, que o investimento total da Muriel nos quatro times gira em torno de R$ 1 milhão por mês.
Os contatos da empresa com Vitória e Bahia foram iniciados quase simultaneamente e anunciados em conjunto, no início do ano. Depois, a Muriel resolveu investir em times da Série A, fechando em fevereiro com o Paysandu e em março com o Fortaleza.
Boldarin se diz satisfeito com o resultado. "Pegamos dois times da Série B, que tem transmissão aberta na Rede TV, e dois da Série A, que a Globo e a Record transmitem às quartas e domingos."
Além disso, a Muriel usa as marcas dos clubes como incentivo de fidelidade, dando camisas de futebol aos redistribuidores.


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