São Paulo, domingo, 29 de abril de 2007

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ENTREVISTA - ZÉ ROBERTO

"É difícil voltar ao país e ser o melhor"

Ídolo do Santos descarta retorno à seleção e diz ter "sede" de título inédito

Meia santista, astro do time e do futebol brasileiro desde 2006, diz que só vai pensar no futuro após o fim do contrato, em 30 de junho


DOS ENVIADOS A SANTOS

De uma entrevista a outra, 11 meses, uma Copa, dois prêmios de melhor em campo em partidas do Mundial, uma cirurgia no joelho, um tratamento controverso, um contrato com o Santos, a condição de principal jogador em atividade no Brasil.
E a melhor chance de, enfim, cruzar o peito com a primeira faixa de "campeão" escrita assim mesmo, no seu português. Em maio de 2006, às vésperas da Copa, Zé Roberto, 31, recebeu a Folha no CT do Bayern de Munique para falar de futebol, claro, mas também sobre a vida na Alemanha. Na última quarta, Zé Roberto, 32, recebeu a Folha no CT do Santos para falar de futebol, claro, mas também sobre a vida no Brasil.
Confrontado com o antes e o depois, com o cotidiano lá e aqui, com a expectativa seguida da frustração com a seleção, o ídolo santista revelou uma decisão, uma perturbação e um desejo. Não vê mais sentido em jogar pela seleção. Se deixar o Santos, será para recuperar a tranqüilidade abalada com a violência no país. E quer bater o São Caetano para saciar a sua "sede de títulos". (FÁBIO SEIXAS E JULYANA TRAVAGLIA)

 

FOLHA - : Muitas pessoas te apontam como o melhor jogador em atividade no Brasil. Você concorda?
ZÉ ROBERTO -
Tive uma regularidade de jogos. A boa campanha do Santos também favorece. O time, no meu ponto de vista, é o melhor. Está na final do Paulista e nas oitavas da Libertadores. Tudo isso contribui. Não faz um ano que voltei para o Brasil e, já na etapa final do Brasileiro, era tido como um dos melhores do campeonato com só 11 jogos. É difícil um jogador que ficou tanto tempo fora conseguir ser apontado o melhor da posição, como eu fui.

FOLHA - Há quase um ano, numa entrevista pouco antes da Copa, você disse que a seleção poderia se complicar se não tivesse preocupação com a marcação. Foi isso?
ZÉ ROBERTO -
Não foi só isso. Várias coisas aconteceram no fracasso do Brasil. A marcação fez com que o Brasil saísse da Copa. Num lance de bola parada, um jogador entrou sozinho e fez o gol. Mas em campo, todos viam que a gente não jogava como equipe, as coisas não saiam. Quem assistiu à Copa sabe o que houve. O envolvimento, o clima... Não estava favorável.

FOLHA - Por que o Brasil perdeu?
ZÉ ROBERTO -
Até hoje me faço essa pergunta. Não querendo me esquivar, não tem muito o que falar. A equipe que se doou mais, venceu, foi a Itália. O Brasil, em algumas questões, ficou devendo em campo. Tinha um time no papel excelente, mas na prática não funcionou.

FOLHA - O Juninho Pernambucano e o Roberto Carlos já falaram que não querem mais a seleção. Você ainda pensa em servir a seleção?
ZÉ ROBERTO -
Meu objetivo na seleção sempre foi disputar uma Copa do Mundo e ser campeão. Disputei três Copas das Confederações, ganhei duas vezes a Copa América, mas meu objetivo sempre foi a Copa do Mundo. Para eu voltar à seleção teria que ser com esse objetivo. Mas acho difícil ir para uma Copa com 36 anos. Então, eu não tenho mais este objetivo.

FOLHA - Em 2006, a essa altura do ano, sua situação com o Bayern era parecida com a de agora, o contrato estava acabando e você não sabia para onde iria. Seu contrato com o Santos termina em junho. E agora?
ZÉ ROBERTO -
Estou como o velho ditado diz, entre a cruz e a espada. Interesse de outros clubes existe desde quando eu deixei o Bayern. Mas fica a questão do carinho do público, da campanha "Fica Zé", de empresários que buscam o presidente... Quando acabou o vínculo no Bayern, decidi só acertar com um clube após a Copa. Queria focar no Mundial e deu certo. Agora quero fazer o mesmo. Mas claro que fica a questão. Será que não vale a pena ficar com um momento tão bom?

FOLHA - No ano passado, falando sobre a vida na Alemanha, você exaltou muito a civilidade do país. Disse que chegou a levar bronca da sua mulher por jogar papel pela janela do carro. Como foi esse retorno ao Brasil, essa readaptação?
ZÉ ROBERTO -
Para os meus filhos foi rápida. Acho que pelo clima e pela família... Mas é triste viver num país onde você liga a TV e vê algo que te deixa temeroso. Embora eu venha expor as minhas opiniões e até contestar muitas coisas, acho que isso não vai mudar muito. Acho que a gente precisar saber conviver com a criminalidade. Isso pesa, é claro que sim, porque eu tenho família, três filhos. Na Alemanha, você leva uma vida tranqüila, tem sua liberdade. Isso com certeza deve pesar numa decisão e isso não vem só de mim. O Mineiro [ex-volante são-paulino, hoje na Alemanha] tomou a decisão de sair por causa da criminalidade.

FOLHA - Você nunca ganhou um título no Brasil e agora tem a chance contra o São Caetano. Como é isso?
ZÉ ROBERTO -
Estou com sede de títulos. Saí muito cedo do Brasil [em 1997, aos 23 anos] . Não ganhei títulos com o Bayer Leverkusen, mas chegamos a algumas finais. Em quatro anos com o Bayern foram sete títulos. No Real Madrid foi pouco tempo, mas também ganhei título. O que me falta é aqui no Brasil e estou com sede de títulos. E agora tem esse bicampeonato para o Santos e a Libertadores, que é uma possibilidade.


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