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ENTREVISTA - ZÉ ROBERTO
"É difícil voltar ao país e ser o melhor"
Ídolo do Santos descarta retorno à seleção e diz ter "sede" de título inédito
Meia santista, astro do time e do futebol brasileiro desde 2006, diz que só vai
pensar no futuro após o fim do contrato, em 30 de junho
DOS ENVIADOS A SANTOS
De uma entrevista a outra, 11
meses, uma Copa, dois prêmios
de melhor em campo em partidas do Mundial, uma cirurgia
no joelho, um tratamento controverso, um contrato com o
Santos, a condição de principal
jogador em atividade no Brasil.
E a melhor chance de, enfim,
cruzar o peito com a primeira
faixa de "campeão" escrita assim mesmo, no seu português.
Em maio de 2006, às vésperas da Copa, Zé Roberto, 31, recebeu a Folha no CT do Bayern
de Munique para falar de futebol, claro, mas também sobre a
vida na Alemanha. Na última
quarta, Zé Roberto, 32, recebeu
a Folha no CT do Santos para
falar de futebol, claro, mas
também sobre a vida no Brasil.
Confrontado com o antes e o
depois, com o cotidiano lá e
aqui, com a expectativa seguida
da frustração com a seleção, o
ídolo santista revelou uma decisão, uma perturbação e um
desejo. Não vê mais sentido em
jogar pela seleção. Se deixar o
Santos, será para recuperar a
tranqüilidade abalada com a
violência no país. E quer bater
o São Caetano para saciar a sua
"sede de títulos".
(FÁBIO SEIXAS E JULYANA TRAVAGLIA)
FOLHA - : Muitas pessoas te apontam como o melhor jogador em atividade no Brasil. Você concorda?
ZÉ ROBERTO - Tive uma regularidade de jogos. A boa campanha
do Santos também favorece. O
time, no meu ponto de vista, é o
melhor. Está na final do Paulista e nas oitavas da Libertadores. Tudo isso contribui. Não
faz um ano que voltei para o
Brasil e, já na etapa final do
Brasileiro, era tido como um
dos melhores do campeonato
com só 11 jogos. É difícil um jogador que ficou tanto tempo fora conseguir ser apontado o
melhor da posição, como eu fui.
FOLHA - Há quase um ano, numa
entrevista pouco antes da Copa, você disse que a seleção poderia se
complicar se não tivesse preocupação com a marcação. Foi isso?
ZÉ ROBERTO - Não foi só isso. Várias coisas aconteceram no fracasso do Brasil. A marcação fez
com que o Brasil saísse da Copa. Num lance de bola parada,
um jogador entrou sozinho e
fez o gol. Mas em campo, todos
viam que a gente não jogava como equipe, as coisas não saiam.
Quem assistiu à Copa sabe o
que houve. O envolvimento, o
clima... Não estava favorável.
FOLHA - Por que o Brasil perdeu?
ZÉ ROBERTO - Até hoje me faço
essa pergunta. Não querendo
me esquivar, não tem muito o
que falar. A equipe que se doou
mais, venceu, foi a Itália. O Brasil, em algumas questões, ficou
devendo em campo. Tinha um
time no papel excelente, mas
na prática não funcionou.
FOLHA - O Juninho Pernambucano
e o Roberto Carlos já falaram que
não querem mais a seleção. Você
ainda pensa em servir a seleção?
ZÉ ROBERTO - Meu objetivo na
seleção sempre foi disputar
uma Copa do Mundo e ser campeão. Disputei três Copas das
Confederações, ganhei duas vezes a Copa América, mas meu
objetivo sempre foi a Copa do
Mundo. Para eu voltar à seleção
teria que ser com esse objetivo.
Mas acho difícil ir para uma Copa com 36 anos. Então, eu não
tenho mais este objetivo.
FOLHA - Em 2006, a essa altura do
ano, sua situação com o Bayern era
parecida com a de agora, o contrato
estava acabando e você não sabia
para onde iria. Seu contrato com o
Santos termina em junho. E agora?
ZÉ ROBERTO - Estou como o velho ditado diz, entre a cruz e a
espada. Interesse de outros clubes existe desde quando eu deixei o Bayern. Mas fica a questão
do carinho do público, da campanha "Fica Zé", de empresários que buscam o presidente...
Quando acabou o vínculo no
Bayern, decidi só acertar com
um clube após a Copa. Queria
focar no Mundial e deu certo.
Agora quero fazer o mesmo.
Mas claro que fica a questão.
Será que não vale a pena ficar
com um momento tão bom?
FOLHA - No ano passado, falando
sobre a vida na Alemanha, você
exaltou muito a civilidade do país.
Disse que chegou a levar bronca da
sua mulher por jogar papel pela janela do carro. Como foi esse retorno
ao Brasil, essa readaptação?
ZÉ ROBERTO - Para os meus filhos foi rápida. Acho que pelo
clima e pela família... Mas é
triste viver num país onde você
liga a TV e vê algo que te deixa
temeroso. Embora eu venha
expor as minhas opiniões e até
contestar muitas coisas, acho
que isso não vai mudar muito.
Acho que a gente precisar saber
conviver com a criminalidade.
Isso pesa, é claro que sim,
porque eu tenho família, três filhos. Na Alemanha, você leva
uma vida tranqüila, tem sua liberdade. Isso com certeza deve
pesar numa decisão e isso não
vem só de mim. O Mineiro [ex-volante são-paulino, hoje na
Alemanha] tomou a decisão de
sair por causa da criminalidade.
FOLHA - Você nunca ganhou um título no Brasil e agora tem a chance
contra o São Caetano. Como é isso?
ZÉ ROBERTO - Estou com sede de
títulos. Saí muito cedo do Brasil
[em 1997, aos 23 anos] . Não ganhei títulos com o Bayer Leverkusen, mas chegamos a algumas finais. Em quatro anos
com o Bayern foram sete títulos. No Real Madrid foi pouco
tempo, mas também ganhei título. O que me falta é aqui no
Brasil e estou com sede de títulos. E agora tem esse bicampeonato para o Santos e a Libertadores, que é uma possibilidade.
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