São Paulo, sábado, 29 de maio de 2004

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MOTOR

Blefe

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Muitos acreditam que uma F-1 sem Schumacher resolveria a parada. Tomando como exemplo o ocorrido no domingo, arrisco escrever o contrário. Boa parte do mundo vibrou com a imagem do alemão deixando o túnel aos pedaços. E vibrou ainda mais quando o replay mostrou o patético motivo do abandono, a desastrada manobra de aquecimento de freios, em português claro, um erro -só para desdizer a última coluna, desgraçado.
Em termos esportivos, no entanto, seria mais interessante que Schumacher continuasse na corrida. Líder com um pit a menos, não iria ganhar. Talvez nem alcançasse o pódio. O desempenho pífio da Ferrari, após séculos de dominação, ficaria estampado não no rosto de Barrichello, mas no do hexacampeão mundial.
Temos a impressão de que o campeonato seria melhor sem aquela Ferrari na frente porque a ação, quando existe, encontra-se lá pelo segundo pelotão. Mas, melhor do que só ter ação, é ter todo mundo na briga, inclusive o líder.
Uma prova de que a coisa pode ser ainda pior está do outro lado do Atlântico. Amanhã, em Indianápolis, mais uma edição das 500 Milhas acontece sem um grande ídolo na pista. Por mais que nos orgulhemos dos últimos três títulos, o que acontece atualmente na maior corrida do mundo está aquém da história do superoval.
Não faltam apenas nomes de peso. Até pangaré virou artigo de luxo. O grid de 33 carros foi disputado por 33 carros, sete destes arranjados de última hora, alguns deles com as médias de classificação mais baixas desde 1997. Algo parecido aconteceu na última edição. Nos bons tempos, conseguir entrar no grid de Indianápolis já era meia vitória. E ser expulso do mesmo grid por pilotos mais rápidos algo não tão incomum. A verdade é que o Pole Day, o Bump Day e todo aquele estranho ritual que sempre cercou a véspera da prova soam ridículos sem que haja um mínimo de concorrência.
Algum fã mais ardoroso da corrida poderá classificar tudo isso como exagero. O público americano responde pelo colunista. A rede ABC, que tradicionalmente transmite as 500 para os EUA em TV aberta, viu uma audiência de 14,1 milhões em 1992 encolher para 6,7 milhões no ano passado.
Recentemente, alguns executivos da emissora sugeriram até transferir a corrida para o horário nobre, ou seja, à noite. Mas, como escreveu um analista do NY Times, seria mais ou menos como adiar o Natal em uma semana. E, claro, não resolveria o problema.
Tony George, como todos no esporte, está sendo afetado por uma crise de patrocínio mundial sem precedentes, a mesma que afeta a F-1 e as séries de monopostos por aqui. Seria tentador afirmar que a falha está na fórmula, no modelo comum a essas categorias. Mas isso ainda não é uma verdade.
O herdeiro de Indianápolis paga o preço de ter dividido o mercado em uma disputa de poder com a Cart que acabou mandando recursos, pilotos e principalmente público para a Nascar, para o exterior e para o nada.
Nesse pôquer, apostou nada menos que as 500. Ganhou uma mão, mas está perdendo o jogo.

Nurburgring
Ao contrário da última semana, quando era possível bancar a chance de a Ferrari naufragar, na Alemanha a matemática é bem mais complicada, sem falar que a McLaren resolveu lançar mão de algo que parece um treino-show -aquele sem resultado prático na corrida. Se Schumacher falhar de novo, prepare-se, outro Mundial começará.

Negativa
A Toyota negou a possibilidade de Ricardo Zonta assumir o carro de um dos titulares em Hockenheim. De fato, o problema ali é outro.

Renault
Certos fatos explicam o estado atual da F-1. A última "Autosport" revela que Trulli, apesar de tanto esforço, não está garantido em 2005.

E-mail - mariante@uol.com.br

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