São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

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FOCO

Duelo de ex-Palestras lembra crise de identidade histórica

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A identidade italiana de Palmeiras e Cruzeiro, hoje exaltada e marcada na história dos clubes, sofreu abalos na década de 1940.
Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial contra a Itália, em 1942, os clubes disfarçaram a origem.
Por todos os lados, esses clubes de imigrantes receberam pressão para assumirem identificação com o Brasil.
Em 1941, uma parte dos mineiros, em fúria contra os italianos, ameaçou pôr fogo no estádio do Palestra Itália, antigo nome do Cruzeiro.
"Um estado de terror foi criado em Belo Horizonte. Casas comerciais [italianas e alemãs] foram quebradas e saqueadas", escreveu o historiador Plínio Barreto.
O Palestra Itália de São Paulo, que viraria Palmeiras, foi pressionado pelo Estado.
Segundo o historiador Alfredo Salun, da USP, em 1942, o presidente Getúlio Vargas obrigou clubes fundados por imigrantes a expulsarem de seus quadros membros estrangeiros.
Além de obedecer à ordem, o Palestra passou a usar meiões brancos em vez de vermelhos que, junto aos shorts brancos e à camiseta verde, remetiam à bandeira italiana. E mudou de nome.
"Não houve resistência. O clube simplesmente tirou as referências à Itália em troca da garantia de que o governo não iria interferir em seu patrimônio", afirma Salun.
Imediatamente, o Palmeiras começou a dar mostras de que viraria menos italiano e mais brasileiro. A contratação do jogador Og Moreira, o primeiro negro a atuar pelo clube, é vista por Salun como um episódio fundamental do processo de nacionalização.
"O Palmeiras destinou renda de jogos às famílias que perderam parentes no afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães", afirma Salun. O episódio foi o estopim da entrada do Brasil no conflito.
Em Minas, os novos ânimos também mudaram as cores do Palestra. Saiu o verde da bandeira italiana.
Foi escolhido um símbolo bem brasileiro -o Cruzeiro do Sul- para nomear o time.
Hoje, a identidade italiana não se esconde. A torcida do Palmeiras leva aos estádios faixas da Casa de Savoia, família histórica da Itália. (AW)


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