São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

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Sem gol

Goleiros reservas dos reservas usam folga para estudar, levam vida de gente "comum" e se divertem com raros momentos de fama

RAFAEL REIS
DE SÃO PAULO

Fabio Szymonek, 21, cumpre diariamente a mesma rotina de vários jovens de sua idade. Acorda cedo, passa o dia todo no trabalho e, à noite, vai para a faculdade.
Leonardo da Silva Vieira, 20, deixou a casa dos pais para exercer sua profissão. Hoje, divide acomodação com companheiros de empresa.
Danilo Fernandes Batista, 23, vive em Guarulhos, mas trabalha em São Paulo. Todos os dias, enfrenta o caótico trânsito paulistano para ir ao serviço. Nos fins de semana, sai da cidade e aproveita a tranquilidade do interior.
Os três são jogadores profissionais de futebol. E defendem clubes de primeiro escalão, entre os maiores do país. Mas pouca gente sabe disso.
Eles são goleiros. Mas não aqueles que vestem a camisa 1 e são chamados de "o melhor do Brasil" por torcedores nos estádios antes dos jogos.
São reservas, ou melhor, reservas dos reservas. Já se esqueceram de como é uma partida oficial e precisam treinar em dias em que seus companheiros irão jogar.
Em compensação, escapam das concentrações, têm os fins de semana livres e folgam todas as noites. Enfim, levam vidas parecidas com as de trabalhadores comum.
"Quem gosta disso é a namorada. Não conseguimos nos ver durante a semana, então temos que aproveitar bem essas folgas", disse Fábio, que só foi relacionado para três partidas até hoje.
O goleiro de 1,96 m é o único jogador do elenco do Palmeiras que cursa faculdade -estuda educação física. Danilo vive exatamente a mesma situação no Corinthians.
"Como não preciso de me concentrar, consigo ir de segunda à sexta na faculdade, fazer meus trabalhos e atividades de estudo", disse.
"Essa situação acaba me ajudando, porque eu não sabia se conseguiria conciliar futebol e faculdade. Se jogasse, ficaria bem mais difícil."
Danilo é estudante do último ano de administração. "Todo mundo acha que, por ser jogador, tenho que fazer educação física". E foi na faculdade que começou a lidar com um artigo raro para atletas na sua situação: a fama.
"O pessoal da minha sala sabe que que jogo no Corinthians e isso acaba se espalhando pela faculdade. Fica todo mundo me olhando", afirmou o arqueiro, que costuma viajar para um sítio da família nos fins de semana.
O são-paulino Léo só se sente mesmo uma celebridade quando vai visitar a noiva e o filho em Suzano. No resto do tempo, dividido entre o CT da Barra Funda, onde mora com outros jogadores recém- -promovidos da base, shoppings e restaurantes, é quase um desconhecido.
"Só dou autógrafo porque existem uns são-paulinos fanáticos, que acompanham tudo. Mas vira e mexe acontece de alguém me reconhecer e me chamar de Fabiano", diverte-se, lembrando do antigo companheiro de quarto, que deixou o clube.
O corintiano Danilo também não consegue escapar das confusões. "Sempre falam: "E aí, Rafael [Santos, goleiro reserva do clube]?. Aí digo que não sou ele, mas que também jogo. O reconhecimento não é muito grande, mas é gostoso", define.


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