São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Clóvis Rossi

Campeões e história

O TÉCNICO Carlos Alberto Parreira está enganado quando diz que "a história não fala de jogo bonito, mas de campeões". Fala de campeões, sim, como é óbvio, mas fala também de jogo bonito, às vezes até mais do que de campeões. Exemplo 1: fora os historiadores do futebol, os colecionadores de estatísticas e os torcedores da Alemanha, ninguém sabe o nome nem sequer de um jogador do time campeão mundial de 1954. Mas até os que nasceram bem depois já ouviram falar de Puskas, o genial jogador da Hungria, que não foi campeão. Foi vice. Aliás, foram Puskas e alguns companheiros os contratados por times estrangeiros, e não algum campeão pela Alemanha. Ou, posto de outra forma, os campeões ficaram nos livros básicos de história, mas não no livro da memória alegre do futebol. Exemplo 2 : a Alemanha ganhou de novo em 1974, mas a memória registra muito mais a inesquecível "laranja mecânica" holandesa, apenas vice. Johan Cruyff é, no mínimo, tão histórico quanto Franz Beckenbauer. É importante acrescentar -e Tostão já o fez mais de uma vez- que ganhar e jogar bonito não são coisas incompatíveis, bem ao contrário. Prova? A seleção de 1958 ou a de 1970, para ficar só em exemplos do próprio Brasil e não mencionar a Argentina de Maradona, em 1986. Só aquele fantástico gol em que Maradona saiu de sua própria intermediária e passou por todos até quase desembarcar na rede da Inglaterra prova que jogo bonito e vitória podem, sim, ser sinônimos. Desconfio que Parreira sabe disso e esperava que o Brasil-2006 conjugasse as duas coisas. Não é o Brasil de 1994, que estava havia 24 anos e cinco Copas sem vencer, que havia sido miseravelmente eliminado pela Argentina no Mundial anterior e que, fora do campo, amargava sucessivos fracassos no combate à inflação, o monstro do momento. O título era vital, o espetáculo nem tanto. Agora, o Brasil vem de três finais de Copa sucessivas, duas das quais ganhas, vem de ver seus atletas receberem um atrás do outro o título de melhor do mundo. E acabou a inflação. Vital, agora, é o espetáculo (do crescimento, na economia, e da magia, nos estádios).

crossi@uol.com.br


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