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XICO SÁ
Futebol é um armário de surpresa
Muitos aspectos mostram que o futebol está mais para o universo gay do que para o dito mundo "macho"
AMIGO TORCEDOR , amigo secador, que discussão mais tola
essa do homossexualismo ludopédico. Juca Kfouri, aqui na Folha, já disse quão hipócrita é o bate-boca moral sobre o tema; resta, porém, levantar aspectos que tornam
o futebol um esporte com mais afinidades estéticas e dramáticas, digamos assim, com o universo gay
do que com o dito mundo "macho".
Senão vejamos as comemorações
dos gols. Há momentos mais celebrativos e testosteronizados como
estes? Ninguém poupa nem o latifúndio dorsal do companheiro de
ofício. Alguns rolam na grama mais
passionais do que Burt Lancaster e
Deborah Kerr na película "A Um
Passo da Eternidade" (1953).
E não apenas dentro das quatro
linhas. Nas arquibancadas, nas gerais, nos sofás e nos bares por aí o
congraçamento masculino só perde para algumas noites da boate "A
Lôca", aqui na Frei Caneca, na paulicéia desvairada, desvairadíssima.
Durante o jogo, a dramaturgia é a
mesma. Em cobrança de escanteio,
meu Deus, é um pega-pega generalizado. Camisas são rasgadas, calções puxados, um roça-roça digno
do melhor ensaio de sexo selvagem.
Não carecemos nem penetrar no
folclore ou no caricato. Lembra das
patoladas, tendência dos anos
1980, da várzea ao Maraca? Rebobinando o videoteipe do cocuruto,
recordo de uma clássica do Ailton,
do Fluminense, pacato pai de família e atleta de Cristo. Claro que a patolada, como ficou conhecido o ato
de barrar a penetração do rival
atingindo os seus países baixos, é
coisa rara no momento, por causa
da cobertura mais ampla da TV,
muito mais onipresente no campo.
Outro dia, porém, após um jogo
da Copa dos Campeões, o zagueiro
mexicano Carlos Salcido (PSV) até
elogiou ironicamente o atacante
inglês Robbie Fowler (Liverpool).
"Ele tem a mão melhor do que a da
minha mulher", mandou o chiste.
Sem falar na nudez coletiva nos
vestiários, que talvez só encontre
páreos em quartéis e seminários.
Por que, então, o futiba seria atividade mais de "macho", no sentido
caricato, do que as outras? Só por
intolerância, como vemos agora.
Intolerância do torcedor, o que solta grito histérico no estádio -"Fulano, veado!"-, dos próprios boleiros, dos técnicos e dos cartolas.
Precisa ser muito homem mesmo, e a atitude é louvável, para assumir que é gay num time profissional. Não é fácil mostrar que, em
vez de uma caixinha, o futebol pode
ser um armário de surpresa.
SECACIÓN
Secador que é secador está com a
zebra onde a zebra estiver. Encontrava-se este cronista no domingo
em Assunção, numa aventura lítero-boêmia movida a cumbias, guarânias e portunhol selvagem, quando o Sportivo Luqueño sagrou-se
campeão, 54 anos depois, desbancando com antecedência o favorito
Cerro Porteño. O poeta Douglas
Diegues e El Domador de Yacarés,
como se intitula um novo amigo da
área, celebram até agora o inacreditável título do bravo time azul e
amarelo.
E VIVA MÉXICO!
Os comancheros bailaram em
campo como Elvis Presley na beira
da piscina na fita "O Seresteiro de
Acapulco".
xico.folha@uol.com.br
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