São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2007

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XICO SÁ

Futebol é um armário de surpresa

Muitos aspectos mostram que o futebol está mais para o universo gay do que para o dito mundo "macho"

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, que discussão mais tola essa do homossexualismo ludopédico. Juca Kfouri, aqui na Folha, já disse quão hipócrita é o bate-boca moral sobre o tema; resta, porém, levantar aspectos que tornam o futebol um esporte com mais afinidades estéticas e dramáticas, digamos assim, com o universo gay do que com o dito mundo "macho".
Senão vejamos as comemorações dos gols. Há momentos mais celebrativos e testosteronizados como estes? Ninguém poupa nem o latifúndio dorsal do companheiro de ofício. Alguns rolam na grama mais passionais do que Burt Lancaster e Deborah Kerr na película "A Um Passo da Eternidade" (1953).
E não apenas dentro das quatro linhas. Nas arquibancadas, nas gerais, nos sofás e nos bares por aí o congraçamento masculino só perde para algumas noites da boate "A Lôca", aqui na Frei Caneca, na paulicéia desvairada, desvairadíssima. Durante o jogo, a dramaturgia é a mesma. Em cobrança de escanteio, meu Deus, é um pega-pega generalizado. Camisas são rasgadas, calções puxados, um roça-roça digno do melhor ensaio de sexo selvagem.
Não carecemos nem penetrar no folclore ou no caricato. Lembra das patoladas, tendência dos anos 1980, da várzea ao Maraca? Rebobinando o videoteipe do cocuruto, recordo de uma clássica do Ailton, do Fluminense, pacato pai de família e atleta de Cristo. Claro que a patolada, como ficou conhecido o ato de barrar a penetração do rival atingindo os seus países baixos, é coisa rara no momento, por causa da cobertura mais ampla da TV, muito mais onipresente no campo.
Outro dia, porém, após um jogo da Copa dos Campeões, o zagueiro mexicano Carlos Salcido (PSV) até elogiou ironicamente o atacante inglês Robbie Fowler (Liverpool). "Ele tem a mão melhor do que a da minha mulher", mandou o chiste.
Sem falar na nudez coletiva nos vestiários, que talvez só encontre páreos em quartéis e seminários. Por que, então, o futiba seria atividade mais de "macho", no sentido caricato, do que as outras? Só por intolerância, como vemos agora.
Intolerância do torcedor, o que solta grito histérico no estádio -"Fulano, veado!"-, dos próprios boleiros, dos técnicos e dos cartolas. Precisa ser muito homem mesmo, e a atitude é louvável, para assumir que é gay num time profissional. Não é fácil mostrar que, em vez de uma caixinha, o futebol pode ser um armário de surpresa.

SECACIÓN
Secador que é secador está com a zebra onde a zebra estiver. Encontrava-se este cronista no domingo em Assunção, numa aventura lítero-boêmia movida a cumbias, guarânias e portunhol selvagem, quando o Sportivo Luqueño sagrou-se campeão, 54 anos depois, desbancando com antecedência o favorito Cerro Porteño. O poeta Douglas Diegues e El Domador de Yacarés, como se intitula um novo amigo da área, celebram até agora o inacreditável título do bravo time azul e amarelo.

E VIVA MÉXICO!
Os comancheros bailaram em campo como Elvis Presley na beira da piscina na fita "O Seresteiro de Acapulco".

xico.folha@uol.com.br


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