São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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TOSTÃO

Não está tão ruim

Nos últimos 50 anos, as grandes gerações do futebol brasileiro surgiram mais ou menos de 12 em 12 anos

NAS MINHAS caminhadas pela cidade, quando converso com as pessoas, com a minha imaginação e com a minha consciência, noto grande desânimo e indignação dos torcedores com a seleção, com o futebol que se joga hoje no Brasil e com Dunga.
Estou preocupado, mas não tão pessimista. Nos últimos 50 anos, o futebol brasileiro teve momentos espetaculares, bons e ruins. Existiu quase sempre um intervalo de mais ou menos 12 anos entre duas excepcionais gerações. Isso tem uma lógica. Um craque costuma brilhar, no máximo, em três Copas.
Doze anos após a espetacular geração de 1958, surgiu a de 1970, reforçada pelo Rei Pelé. Demorou mais 12 anos para aparecer a de 1982, que não ganhou, mas encantou. Em 1994, 12 anos depois, houve um pequeno atraso na formação de outra excepcional geração. Apesar do título, o Brasil não encantou, porque só havia um fenômeno (Romário) e não por causa do estilo retranqueiro de Parreira.
Se Ronaldo, Cafu, Roberto Carlos e Rivaldo, que foram brilhantes nas Copas de 1998 e 2002, estivessem no Mundial de 1994 ou Romário jogasse o Mundial de 1998, as seleções de 1994 e 1998 seriam também espetaculares.
Em 2006, 12 anos depois, o Brasil teve também uma ótima geração, apesar do fracasso no Mundial. Era a grande favorita na Copa. Os veteranos Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo, que poderiam ser ótimos reforços para essa Copa, não estavam mais em forma. Se Kaká e Ronaldinho brilharem e o Brasil for campeão em 2010, os dois ficarão entre os grandes jogadores da história. Para mim, já estão.
Nas Copas de 1966, 1974, 1978, 1986 e 1990, quando a seleção brasileira jogou mal e perdeu, foram períodos de transição entre duas excepcionais gerações.
No momento, o Brasil está pior do que os europeus. Deve ser passageiro. Se Dunga ou outro técnico organizar um bom conjunto, Kaká e Ronaldinho jogarem o que sabem e alguns promissores jovens evoluírem, o Brasil poderá ganhar e encantar na próxima Copa do Mundo.
O que mais me preocupa é a formação de atletas no Brasil.
As escolinhas e as categorias de base dos clubes se transformaram em fábricas de jogadores para exportação. Os jovens, com ou sem talento, são colocados na mesma linha de produção em série.
Há mercado para todos no exterior. Além disso, os "professores" não sabem ensinar. Sofreram uma lavagem cerebral e não mais sabem o que é jogar um bom futebol.

Final da Eurocopa
As escolas de futebol sempre foram de países, e não de continentes. O estilo do Brasil é diferente do da Argentina. O mesmo ocorre entre os países da Europa. Com o tempo e a globalização, essas diferenças vão diminuir bastante.
Espanha e Alemanha são ótimos representantes de dois estilos. O da Espanha, mais leve, cadenciado, habilidoso, de mais toque de bola, parecido com o do Brasil de outras épocas. Do outro lado, o da Alemanha, mais pesado, disciplinado e com jogadores mais altos e fortes. As duas seleções são ofensivas.
Não há favorito.
Por causa do estilo mais bonito, vou torcer para a Espanha.


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