São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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Hospício de Bielsa

De cócoras, técnico e assistentes orientam time com chiliques durante o jogo; depois, em entrevista, um educado treinador faz mea-culpa e elogia o Brasil

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

Não seria exagero dizer que a comunicação entre o banco de reservas e os jogadores do Chile na derrota para a seleção brasileira ontem foi uma coisa de louco.
Explica-se: apelidado de El Loco, o técnico Marcelo Bielsa se posicionava de cócoras e não era o único a ter chiliques na beira do campo a cada lance do jogo, disputado em Johannesburgo.
Seus dois auxiliares, os também argentinos Pablo Quiroga e Eduardo Berisso, ficavam assim como ele na beira do gramado gritando com os jogadores chilenos.
Quase sempre os três tentavam passar instruções ao mesmo tempo, aparentemente sem hierarquia alguma -Berisso algumas vezes parecia até mandar mais do que o treinador Bielsa.
O quarto árbitro, responsável por checar o comportamento nos bancos de reservas, perdeu seguidas vezes a paciência com a superpovoada área técnica chilena -em alguns momentos os três juntos saiam dos limites dela e eram repreendidos.
Enquanto isso, do lado brasileiro, só Dunga dava ordens -fora ele, o banco brasileiro só se levantou para comemorar os três gols.
Na obrigatória entrevista coletiva para os técnicos após os jogos da Copa, o quase sempre agitado Bielsa ficou o tempo todo com a cabeça baixa, mas esbanjou elegância e "fair play" nas respostas aos jornalistas.
"O resultado foi justo, assim como nossa eliminação. Talvez o placar pudesse ter sido menor, mas não podemos negar a superioridade do Brasil", falou Bielsa, que por pelo menos três vezes disse que não era a hora de falar se continuaria no cargo.
Ele também se recusou a apontar um jogador como culpado pela derrota -a imprensa chilena se queixou do rendimento ruim dos atacantes Alexis Sánchez e Humberto Suazo, apagados durante toda a Copa-2010.
"Avaliações individuais públicas não são aconselhadas para um treinador. Isso divide o grupo em vez de unir", disse Bielsa, que ainda fez um mea-culpa. "Não avaliamos direito a capacidade do Juan na bola aérea. Colocamos nosso quarto melhor cabeceador para marcá-lo."
Um dos raros treinadores deste Mundial que dirige seu time vestindo o agasalho da empresa que patrocina a seleção, Bielsa disse que o gol de Juan praticamente matou sua equipe. "É muito difícil quando você começa perdendo do Brasil. Aí eles encontram espaços e fica difícil correr atrás." (EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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