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ATENAS 2004
Atleta mais premiado de Sydney-00 fala que já nadou contra dopados e gera celeuma às vésperas dos Jogos
Existe trapaça nas piscinas, diz "Thorpedo"
DA REPORTAGEM LOCAL
A natação andava à margem
dos escândalos de doping. Mas
uma declaração do atleta mais
premiado da última Olimpíada
deixou ontem os dirigentes da
modalidade em maus lençóis.
Ian Thorpe, que pendurou quatro medalhas no peito -sendo
três de ouro- em Sydney-2000,
disse em um programa de TV
australiano que o combate ao uso
de substâncias proibidas utilizado
na natação não é eficaz.
"Quem acredita que as provas
de Atenas estão livres do doping é
ingênuo. Eu já nadei contra atletas que estavam dopados", disse.
Thorpe, 21, cujo apelido é
"Thorpedo", não citou nomes,
mas mesmo assim enfureceu os
dirigentes. Ontem, um dia após
seu depoimento, a Federação Internacional de Natação divulgou
nota oficial para condenar a atitude do atleta e apresentar a defesa.
De acordo com a entidade, "os
últimos 11 anos foram marcados
por avanços significativos no
combate ao doping". A Fina também se auto-apregoa no comunicado "uma das federações internacionais que mais investem no
controle de drogas no esporte".
Desde 2000, realizou 6.893 testes para detectar substâncias.
Desse total, 2.884 foram em competições. Os outros 4.009 foram
efetuados sem aviso prévio, durante o treinamento dos atletas.
Nesse período, 82 competidores
acabaram suspensos, mas a única
estrela de primeira grandeza do
grupo foi a costa-riquenha Claudia Poll, que conquistou ouro nos
200 m livre em Atlanta-1996.
Coincidência ou não, o intervalo foi pródigo em recordes. Na
Olimpíada de Sydney, 15 marcas
mundiais foram batidas. Em 2001,
no Mundial de Fukuoka (Japão),
outras oito caíram. Por fim, em
Barcelona, no ano passado, mais
14 tempos foram alterados no livro dos melhores da história.
Como comparação, o atletismo
não viu nenhum recorde mundial
ser superado nos últimos dois
Mundiais nem nos últimos Jogos.
Só que, nesse mesmo espaço de
tempo, várias estrelas das pistas
foram barradas em testes de doping, como Dwain Chambers, velocista britânico flagrado com
THG, e Kelli White, campeã mundial dos 100 m e 200 m, cujo exame apontou uso de estimulante.
Mais: a modalidade foi a grande
afetada no escândalo do THG (tetraidrogestrinona), droga concebida em um laboratório dos EUA
que tirou muitos atletas do mapa.
Nas piscinas, ninguém foi flagrado com o esteróide, que melhora
a força e a potência muscular.
As declarações de Thorpe já
ecoaram e dividiram alguns atletas. Grant Hacket, seu companheiro na seleção australiana, engrossou o coro dos reclamantes.
"Sabemos que os atletas que
usam drogas estão um passo
adiante dos que controlam o uso
de substâncias proibidas. Acho
que já faz muito tempo que não
existe uma Olimpíada livre do doping", declarou o nadador, recordista mundial dos 1.500 m.
Ex-campeã mundial e hoje presidente da Comissão de Atletas da
Fina, a norte-americana Janet
Evans seguiu o caminho oposto.
"Tenho absoluta certeza: a política antidoping é suficiente para
coibir quem busca burlar as regras. Eu sinceramente creio que a
natação é um esporte limpo."
Com agências internacionais
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