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Portugal busca aura da Copa no vôlei
Com gritos, união e rigor à la Scolari, ex-auxiliar de Bernardinho tenta erguer seleção na Liga Mundial
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Minha missão é criar dificuldades para eles dia a dia."
O discurso parece sádico,
mas tem objetivo certeiro. Chico dos Santos trabalhou por
seis anos na seleção brasileira.
Agora, tenta usar sua bagagem
para alavancar o ainda tímido
vôlei português e embutir nos
atletas a filosofia que o ajudou a
forjar o melhor time do mundo.
A primeira missão é fazer sua
equipe repetir pelo menos um
esboço do que os conterrâneos
apresentaram na Copa sob a
batuta de Luiz Felipe Scolari.
Teste importante ocorre hoje, às 12h, em Lisboa, pela Liga.
Como adversário, o Brasil.
"Portugal conseguiu aquele
espírito na Copa porque foi
treinado por brasileiro. Aqui
não é como o Brasil, em que você tem de fazer muito esforço
para chegar lá. Eles vivem serenamente. Têm de aprender a
brigar pelas coisas", diz Santos.
Essa é a parte mais difícil. Para os portugueses, mesmo na
seleção, o vôlei é raramente
profissão. Os salários são baixos, a prioridade é estudar.
"Já dispensei atletas de treino por causa das provas da faculdade. Tento passar que podem tirar algo mais do vôlei."
O preço disso já foi apresentado. O cartão de visita veio nos
treinos. Segundo o técnico,
bem piores do que os dados ao
lado de Bernardinho e que levavam os brasileiros à exaustão.
"Eles são jovens, agüentam."
A frase remete também ao
estilo do treinador, dentro e fora de quadra. Como Scolari e
Bernardinho, tem opiniões fortes e vê os jogos à beira de um
ataque de nervos. Sobram gritos, gestos e caretas.
Ao mesmo tempo, sabe como
poucos manter o grupo sob
suas rédeas. Só não é adepto de
inovações motivacionais.
"Eu sou técnico de voleibol.
Jogador fica motivado ao saber
que tem um objetivo e alguém
junto para brigar com ele."
Santos também apresentou
aos novos pupilos princípios
básicos do vôlei de alto nível.
"Quando chegamos à seleção, Giba, Nalbert e Gustavo
achavam que era o ataque que
ganhava jogo. Mudamos essa
mentalidade. Demos mais
atenção ao bloqueio, ao contra-ataque, e hoje o time está muito
acima dos outros", afirma.
O técnico tem contrato de
um ano, para conhecer o time.
E proposta para ficar até 2008.
"Aí vamos trabalhar pela vaga em Pequim. Você tem que
ter um objetivo grande para
trabalhar grande. Se não conseguir a vaga, não sei se fico."
Antes disso, tenta passar pelo
primeiro grande teste. Portugal
soma só uma vitória em quatro
duelos na Liga. Seu levantador
titular, Nuno Pinheiro, quebrou um dedo da mão e ficou
fora dos dois primeiros jogos.
"Ele vai atuar, mas só pode
bloquear com uma mão."
Pior que o abismo técnico
que separa as duas equipes, no
entanto, talvez seja a proximidade entre Santos e os rivais.
"Os brasileiros já conhecem
meus gestos e o que falo no jogo. Vão ficar de olho. O jeito é
tentar ficar o mais quieto possível no banco." Se conseguir.
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