São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Portugal busca aura da Copa no vôlei

Com gritos, união e rigor à la Scolari, ex-auxiliar de Bernardinho tenta erguer seleção na Liga Mundial

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Minha missão é criar dificuldades para eles dia a dia."
O discurso parece sádico, mas tem objetivo certeiro. Chico dos Santos trabalhou por seis anos na seleção brasileira. Agora, tenta usar sua bagagem para alavancar o ainda tímido vôlei português e embutir nos atletas a filosofia que o ajudou a forjar o melhor time do mundo.
A primeira missão é fazer sua equipe repetir pelo menos um esboço do que os conterrâneos apresentaram na Copa sob a batuta de Luiz Felipe Scolari.
Teste importante ocorre hoje, às 12h, em Lisboa, pela Liga. Como adversário, o Brasil.
"Portugal conseguiu aquele espírito na Copa porque foi treinado por brasileiro. Aqui não é como o Brasil, em que você tem de fazer muito esforço para chegar lá. Eles vivem serenamente. Têm de aprender a brigar pelas coisas", diz Santos.
Essa é a parte mais difícil. Para os portugueses, mesmo na seleção, o vôlei é raramente profissão. Os salários são baixos, a prioridade é estudar.
"Já dispensei atletas de treino por causa das provas da faculdade. Tento passar que podem tirar algo mais do vôlei."
O preço disso já foi apresentado. O cartão de visita veio nos treinos. Segundo o técnico, bem piores do que os dados ao lado de Bernardinho e que levavam os brasileiros à exaustão. "Eles são jovens, agüentam."
A frase remete também ao estilo do treinador, dentro e fora de quadra. Como Scolari e Bernardinho, tem opiniões fortes e vê os jogos à beira de um ataque de nervos. Sobram gritos, gestos e caretas.
Ao mesmo tempo, sabe como poucos manter o grupo sob suas rédeas. Só não é adepto de inovações motivacionais.
"Eu sou técnico de voleibol. Jogador fica motivado ao saber que tem um objetivo e alguém junto para brigar com ele."
Santos também apresentou aos novos pupilos princípios básicos do vôlei de alto nível.
"Quando chegamos à seleção, Giba, Nalbert e Gustavo achavam que era o ataque que ganhava jogo. Mudamos essa mentalidade. Demos mais atenção ao bloqueio, ao contra-ataque, e hoje o time está muito acima dos outros", afirma.
O técnico tem contrato de um ano, para conhecer o time. E proposta para ficar até 2008.
"Aí vamos trabalhar pela vaga em Pequim. Você tem que ter um objetivo grande para trabalhar grande. Se não conseguir a vaga, não sei se fico."
Antes disso, tenta passar pelo primeiro grande teste. Portugal soma só uma vitória em quatro duelos na Liga. Seu levantador titular, Nuno Pinheiro, quebrou um dedo da mão e ficou fora dos dois primeiros jogos.
"Ele vai atuar, mas só pode bloquear com uma mão."
Pior que o abismo técnico que separa as duas equipes, no entanto, talvez seja a proximidade entre Santos e os rivais.
"Os brasileiros já conhecem meus gestos e o que falo no jogo. Vão ficar de olho. O jeito é tentar ficar o mais quieto possível no banco." Se conseguir.


Texto Anterior: Estatal pagou R$ 53 mil por uma palestra
Próximo Texto: Estratégia: Técnico quer CT para a base
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.