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JOSÉ GERALDO COUTO
A um passo do fascismo
As torcidas ditas organizadas
agem muitas vezes como
corpos sem cérebro, contra os
interesses do próprio clube
TENTEI algumas vezes desafinar o coro dos que condenam
em bloco as torcidas organizadas como bandos de arruaceiros
violentos. Procurei ponderar que,
num país de instituições desacreditadas e baixo grau de organização da
sociedade civil, participar de uma
torcida uniformizada pode ser um
momento importante de socialização e aprendizado para amplos setores da juventude, sobretudo da que
mora nos bairros mais pobres.
Algumas organizadas de grandes
clubes, como a Gaviões da Fiel e a
Mancha Alviverde, são entidades sócio-culturais que ultrapassam o âmbito estritamente esportivo: têm escolas de samba, desenvolvem atividades assistenciais etc.
Mas o fato é que existe, sim, um
perigo latente nessas agremiações: o
de fomentar e dar cobertura às manifestações mais selvagens do espírito de facção. Dependendo da situação, vestir uma camisa de organizada pode ser um salvo-conduto para
agredir quem é de outro time (ou de
outra torcida do mesmo), tombar
carros, jogar bombas, fazer arrastões, ameaçar de morte.
Nada diferente, portanto, do que
faziam -e ainda fazem- milícias
paramilitares fascistas pelo mundo
afora. Mudam os alvos de acordo
com a cultura e o país: num lugar são
os árabes, em outro os negros, em
outro os judeus ou os gays. Mas a essência de ignorância e fúria cega, de
pulsões juvenis mal compreendidas,
é quase sempre a mesma.
Quando membros de uma organizada agridem rivais (geralmente
quando estes últimos estão em menor número) ainda é possível minimizar o evento como caso isolado,
que não condiz com os propósitos da
entidade em questão. É discutível,
mas deixemos passar por enquanto.
Muito mais grave, a meu ver, é
quando vemos dirigentes dessas torcidas anunciarem que usarão todo o
seu poder de fogo para "dar uma
prensa" num determinado jogador
ou dirigente. É o caso, no momento,
da Gaviões da Fiel com Tevez. Um líder dessa que é a maior organizada
de São Paulo chegou a dizer algo como: "Vamos atacar no ponto mais
vulnerável, que é a vida pessoal".
Além de eticamente intolerável, a
atitude me parece politicamente
burra e contraproducente. Ora, Tevez é o principal jogador do Corinthians, um craque que tem honrado
como poucos a camisa alvinegra
com seu talento e sua garra. Até os
alambrados do Pacaembu sabem
que o Corinthians é um time com
Tevez e outro sem ele.
Mas os "organizados" que se julgam donos do time -e cujas práticas
selvagens afastaram dos estádios
tantos torcedores autênticos-
acham que um gesto de pedir silêncio à torcida justifica todo o tormento que puderem impor ao jogador.
Mais cedo ou mais tarde Tevez iria
mesmo embora, por força das leis
econômicas do futebol globalizado.
Mas os verdadeiros corintianos deveriam ser os últimos a querer
apressar essa partida. Ou não?
CLÁSSICOS ESVAZIADOS
A justificada prioridade que o São
Paulo e o Inter estão dando à semifinal da Libertadores tem o efeito
indesejado de esvaziar dois dos
principais clássicos de amanhã: o
San-São, no Morumbi, e o Gre-Nal,
no Beira-Rio. Tricolores e colorados jogarão desfalcados, poupando
atletas para os duelos da próxima
semana. Já no Maracanã, Fluminense e Botafogo estarão focados, o
primeiro tentando se manter perto
do topo, o segundo buscando ficar
pelo menos entre os dez primeiros.
JOGO DE CENA
A CBF está mais interessada em
jogar para a torcida do que num
trabalho de longo prazo. Os torcedores acharam que faltou fibra e liderança à seleção na Alemanha?
"Traz o Dunga, que tem imagem de
xerife. Se não der certo a gente troca." O ex-capitão que se cuide.
jgcouto@uol.com.br
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