São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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Manual chinês narra a história oficial

Guias distribuídos pelo comitê organizador dos Jogos fornecem a visão do governo sobre temas como Tibete e Taiwan

Texto ignora a luta tibetana por independência e diz que governo no exílio foi banido porque representaria uma volta do regime de servidão


ADALBERTO LEISTER FILHO
EDUARDO OHATA
ENVIADOS ESPECIAIS A PEQUIM

Ao menos nos impressos oficiais, a China não se esquiva de comentar os assuntos mais espinhosos do noticiário internacional a respeito do país.
Em guias distribuídos pelo Bocog (comitê organizador dos Jogos), órgão ligado ao governo, o país dá sua visão sobre a situação do Tibete e as relações com Taiwan, entre outros temas que geram polêmica.
A pequena ilha, considerada Província rebelde por Pequim, é descrita como "parte inalienável do território chinês" no guia "China 2008", que aponta razões históricas para isso.
Segundo o informativo, o país asiático desenvolveu burocracia administrativa na ilha de Taiwan desde o século 12. Perdeu o território em 1895, por meio do "humilhante Tratado de Shimonoseki" após derrota em guerra contra o Japão.
Recuperou a região com o fim da Segunda Guerra Mundial, mas não ficou muito tempo no comando da ilha.
Após ser derrotado no continente em conflito contra o grupo de Mao Tse-tung, Chiang Kai-shek migrou para a ilha com sua tropa e reivindicou o status de verdadeiro representante da China em órgãos internacionais, como a ONU.
A situação criou, neste ano, um constrangimento durante a cerimônia da tocha olímpica. Taiwan se recusou a participar da etapa nacional do revezamento e acabou fora do périplo do símbolo olímpico.
Nos informativos, tais problemas são ignorados. Apesar de, na prática, haver dois governos há mais de 50 anos e na Olimpíada as duas equipes competirem separadas, a versão oficial encara o fato apenas como uma ameaça iminente.
O livreto "China: Fatos e Cifras 2008" insiste no ponto de que os dois territórios formam "um país com dois sistemas".
"Hu Jintao [presidente da China] afirmou: as atividades separatistas pela "independência de Taiwan" são o maior desastre contra a soberania e a integridade territorial do Estado, o maior obstáculo contra o desenvolvimento das relações entre ambas as fronteiras e a maior ameaça à paz e à estabilidade na região do estreito de Taiwan", diz o informativo.
O Tibete, cujas manifestações por sua independência o colocaram como protagonista do noticiário durante o revezamento internacional da chama olímpica, não passa de uma "região autônoma" da China.
Segundo o livro "Tibete da China: Fatos e Cifras", a região espontaneamente decidiu incorporar-se ao hoje país-sede da Olimpíada. A obra, a começar pelo título, ignora a luta tibetana pela independência. Também não menciona a invasão sofrida pelo país em 1950.
A anexação do Tibete, segundo o livro, ocorreu após negociação diplomática: "Conforme o acordo, o Tibete materializou a liberação pacífica".
Os embates pelos quais passou o território são vistos como a luta entre forças progressistas, aliadas ao governo de Pequim, e conservadoras, que defendiam a manutenção de uma ordem feudal "que já havia sido abolida havia mais de cem anos em quase toda a Europa".
E, se hoje há um governo tibetano no exílio, banido da China, é porque ele representaria o retorno do regime de servidão. "Em 10 de março de 1959, o grupo reacionário que detinha o poder no Tibete proclamou a "independência" e desencadeou sublevação total na tentativa de salvaguardar seus interesses."


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