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Nas mãos de Nuzman
Presidente do Rio-2016 decidirá destino de 80% do lucro dos Jogos e governos não receberão devolução do investido
RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO
Se a Olimpíada do Rio em
2016 der prejuízo, os cofres
públicos devem cobrir o buraco. Se der lucro, 80% do dinheiro ficará nas mãos do
presidente do COB e do Comitê Organizador dos Jogos,
Carlos Arthur Nuzman.
É o que foi estabelecido pelo estatuto do Rio-2016, já
aprovado pelas confederações e obtido pela Folha.
O documento determina
que 20% do lucro será dado
ao COB e outros 20% serão
devolvidos ao COI (Comitê
Olímpico Internacional).
Nuzman fará uma proposta para o uso dos outros 60%
para a diretoria do comitê organizador, que a examinará
e decidirá onde deverá ser
aplicado o lucro do evento.
Pelo estatuto, essa diretoria do Rio-2016 será composta por Nuzman e cinco vice-
-presidentes. Um deles será o
secretário-geral do COB, cujo
Conselho Executivo indica os
outros quatro vices.
A entidade só conta com
aliados e subordinados de
Nuzman. Ou seja, na prática,
ele terá o controle sobre a cúpula do comitê organizador.
O texto diz que a definição
do uso de eventual lucro da
Olimpíada já estava estabelecido pelo Host City Contract,
que é o contrato firmado entre o COI e a cidade-sede com
as regras sobre os Jogos.
É obrigatório que a sobra
do dinheiro seja aplicada no
desenvolvimento do esporte
no país. Essa também foi a
destinação do lucro em edições anteriores dos Jogos.
Para se ter uma ideia do
volume de dinheiro, a China
revelou que seu comitê organizador para Pequim-2008
teve lucro de US$ 146 milhões (R$ 268 milhões).
O montante representa todo o dinheiro recebido pelo
COB, por meio da Lei Piva,
em quatro anos de ciclo olímpico para aquela Olimpíada.
Assim, os governos municipal, estadual e federal não
terão nenhuma devolução
do valor investido no evento.
O orçamento dos Jogos do
Rio prevê que as três esferas
públicas deem R$ 1,384 bilhão só para o comitê organizador. Esse total significa
cerca de um quarto do orçamento do organismo.
O restante do dinheiro virá
de pagamentos do COI, de
patrocínios, de venda de ingressos e de licenciamento
de produtos, entre outros.
Mas, pelo documento de
candidatura do Rio, os três
níveis de governos se comprometem a cobrir quaisquer
adiantamentos do COI, além
de "qualquer necessidade
adicional" do comitê.
Fora do orçamento do órgão, prefeitura e Estado do
Rio e o governo federal ainda
terão que bancar mais R$
23,2 milhões em obras de infraestrutura para a cidade.
Excluídas dos lucros, as
três esferas públicas também
ficam alijadas do poder de
decisão do comitê Rio-2016.
Não há autoridade de governo presente na diretoria
da entidade, que, de fato, comanda o organismo. É a cúpula que autoriza despesas,
contrata serviços e elabora
planos e salários.
Há membros do governo
no Conselho Executivo do
Rio-2016. São três representantes, um de cada nível. Mas
Nuzman tem quatro integrantes aliados nesse organismo. Ou seja, é majoritário.
A função do conselho, de
acordo com o estatuto, é apenas a de verificar as ações
dos órgãos deliberativos.
Existe ainda uma assembleia, composta por associados, entre eles as confederações, que aprova as contas.
Só que as cotas do Rio-2016
pertencem todas ao COB.
Ao estruturar a Olimpíada,
Nuzman manteve o poder e o
dinheiro em suas mãos.
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