São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Vacilo

Recordista da prova e megafavorito, Usain Bolt é eliminado da final dos 100 m do Mundial ao queimar a largada e perde chance de virar 'lenda'

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A DAEGU

O roteiro dos 100 m do Mundial de atletismo parecia o mesmo de outros grandes eventos nos últimos anos. Mas o final foi diferente.
O recordista mundial (9s58) e atual campeão olímpico, Usain Bolt, 25, que tentava repetir o título de Berlim-2009 para, segundo ele, tornar-se uma "lenda", nem conseguiu correr a final.
O jamaicano foi desclassificado, vítima de "false start" (largada falsa, em tradução livre), regra em vigor desde 2010 que determina que quem se adiantar ao sinal de partida está desclassificado.
Ciente de que havia cometido a infração, Bolt tirou a camisa assim que deixou o bloco de partida e a jogou no chão. Mostrava-se inconformado, parecia não acreditar que havia queimado.
Até mesmo seus adversários pareciam surpresos.
"Eu não conseguia acreditar, é meio surreal. Não achei que fossem tirá-lo da prova. É muito duro tirar o Usain", afirmou o norte-americano Walter Dix depois de conquistar a medalha de prata na Coreia do Sul, atrás de Yohan Blake, compatriota de Bolt.
Terceiro colocado, Kim Collins, de São Cristóvão e Névis, posicionou-se contra a regra. "Não acho que isso esteja certo. Essas coisas acontecem, e você precisa dar uma chance às pessoas."
Até a implantação da largada falsa, um atleta poderia queimar a saída e seria advertido. Se houvesse uma nova infração, o responsável seria desclassificado, independentemente de quem fosse.
Bolt não foi a única vítima da regra em Daegu. Ela também desclassificou o novato sul-coreano Kim Kukyoung, 21, e o veterano britânico Dwain Chambers, 31.
Até uma estrela numa prova na qual a largada não é tão essencial, a britânica Christine Ohuruogu, ex-campeã olímpica e mundial dos 400 m, foi desclassificada.
A empresa que fornece o material de cronometragem para a Iaaf, entidade que controla o atletismo mundial, garante que qualquer alteração de pressão no bloco de partida é registrada para acusar uma infração cometida.

SEM PALAVRAS
Após seu erro, Bolt se dirigiu à pista de aquecimento e fez um breve comentário. "Não há nada para falar agora, preciso de um tempo."
Questionado se disputaria os 200 m, não confirmou presença. "É na sexta, certo? Então vamos ver na sexta."
Mesmo sem Bolt, a torcida jamaicana comemorou.
Companheiro de treino do recordista mundial, Blake, 21, ficou com a medalha de ouro ao marcar o tempo de 9s92.
Dix marcou 10s08, e Collins, 35, voltou ao pódio após o ouro do Mundial de Paris-2003. Tornou-se assim o mais velho a conquistar medalha, a apenas um centésimo do americano.
Os tempos teoricamente fracos para uma temporada em que nove atletas já correram abaixo de 9s90 podem ser explicados em parte por causa da força do vento.
Na hora da prova, na noite sul-coreana, ele era contrário em 1,4 metro por segundo. Para um recorde mundial ser registrado, o vento favorável precisa estar no limite de dois metros por segundo.
Mas a final dos 100 m do Mundial de Daegu-2011 não deve ficar marcada na história pelos tempos, e sim pela precipitação de Usain Bolt.


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