São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Previsões furadas

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

São Paulo e Corinthians fazem hoje o clássico tão esperado. Ricardinho enfrentará o seu ex-clube. Os adversários do São Paulo aprenderam que a melhor maneira de enfrentá-lo é congestionar os espaços defensivos perto da área, evitar as trocas rápidas de passes pelo meio e contra-atacar. Os laterais do time do Morumbi são fracos e pouco utilizados. Dessa maneira, São Caetano, Cruzeiro, Atlético-MG e outras equipes venceram o São Paulo.
Como o time do Corinthians defende com apenas três jogadores no meio-campo, pois os atacantes participam pouco da marcação, o São Paulo pode ter facilidades nas jogadas rápidas pelo meio. Por outro lado, os três atacantes do Corinthians terão boas chances contra os lentos e razoáveis defensores do São Paulo. Lembram-se das corretas declarações do Gil sobre a lentidão dos zagueiros do São Paulo? Nada mudou.
Kaká é um excepcional jogador, mas para se transformar num grande craque precisa ser menos fominha. Compreende-se que o centroavante de uma equipe seja fominha. O grande meia-atacante, que parte do meio-campo com a bola, necessita ter uma ampla visão de jogo para descobrir espaços na defesa e não somente conduzir a bola para finalizar. Dar o passe decisivo é tão importante quanto fazer o gol. Mesmo que seja menos valorizado.
O São Paulo precisa muito mais da vitória do que o Corinthians. Isso favorece qual das equipes? Deveria dizer "não sei". Mas acho que o time pressionado tem um pouco mais de chance de vencer.
Na verdade, conclusões psicológicas e palpites do vencedor feitas por um comentarista antes de um clássico são tão furadas quanto as previsões dos economistas sobre a alta do dólar.

Melhor futebol do mundo
Diferentemente do que diz a propaganda do pay-per-view, o futebol pentacampeão do mundo está na Europa e não no Brasil.
O Campeonato Brasileiro está indo bem, revelando bons jogadores, mas se quiser ver o melhor futebol do mundo, superior ao da Copa, assista às principais partidas da Copa dos Campeões da Europa. Lá estão os melhores jogadores de outros países e os brasileiros Rivaldo, Roberto Carlos, Cafu, Dida, Gilberto Silva, que recuperaram a forma depois de uma longa e merecida comemoração do penta.
Por causa dos estrangeiros, muitas equipes que disputam a Copa dos Campeões são melhores do que as seleções de seus países. Citaria Real Madrid, Milan, Juventus, Arsenal, Manchester United e até o Bayern de Munique, que não está bem.
Além disso, muitos excepcionais jogadores, que tiveram problemas antes e durante o Mundial de 2002 (Figo, Raúl, Rui Costa, Verón), estão em forma. Há ainda outros craques que não participaram da Copa, como os da Holanda (Kluivert, Bergkamp, Davids, Van Nistelrooy, Frank de Boer).
Muitos jogadores da Europa parecem atuar também com mais entusiasmo nas equipes do que nas seleções. Em alguns países da Europa não há tanta euforia com a Copa. Os jogadores brasileiros e argentinos são muito mais cobrados e pressionados. Esforçam-se mais para não decepcionarem.
Geralmente, os jogadores atuam melhor sob pressão. Esse é um dos motivos das equipes ganharem mais em casa do que fora. A responsabilidade e a ansiedade aumentam a produção de substâncias químicas. Os atletas correm mais e ficam mais concentrados. É o doping psicológico.
Porém há um limite. Quando a tensão emocional é excessiva, os atletas ficam confusos e caem de produção. Aconteceu com o Palmeiras (enfim o time ganhou).
A conquista de muitos títulos mundiais, em todos os esportes, poderia ser também uma desforra, a recuperação da auto-estima de um país do terceiro mundo, explorado pelos mais ricos? Ou estou escrevendo besteira?
Voltando à Copa dos Campeões, quase todas as principais equipes estão jogando com uma linha de quatro defensores. A Roma, que passa por um péssimo momento, é exceção. Ela joga com três zagueiros e três volantes, que raramente se aproximam dos atacantes. É o mesmo desenho tático da seleção italiana.
No inicio de seu trabalho, Felipão adotou o esquema da seleção italiana, contra a Bolívia. Felizmente o time perdeu, e o técnico mudou os planos.
Em vez do modelo italiano, Felipão seguiu o da Argentina, apesar de algumas diferenças.
O grande erro da seleção argentina foi brilhar nas eliminatórias, antes da hora.

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