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JOSÉ GERALDO COUTO
A hora e a vez da mulher
É possível que num futuro próximo seja mais fácil
ver arte no futebol feminino
do que no masculino
NO FILME "Quanto Mais
Quente Melhor", Jack Lemmon e Tony Curtis, vestidos
de mulher para fugir de gângsteres,
observam fascinados o andar bamboleante de Marilyn Monroe, de saltos altos, na plataforma de uma estação de trens. Mal conseguindo se
equilibrar sobre os saltos, Lemmon
pergunta: "Como é que elas conseguem? Devem ter um sistema especial de molejo embutido".
Por mais incongruente que pareça, lembrei dessa cena memorável
ao assistir ao baile que as moças brasileiras deram nas americanas na semifinal da Copa do Mundo feminina
de futebol. Foi o maior espetáculo
futebolístico -de qualquer sexo-
que vi nos últimos tempos.
Não foi por acaso que a CBF se
curvou e o próprio Dunga se encantou com o jogo das meninas. Já é
tempo de deixarmos de olhar o futebol feminino com uma condescendência superior e reconhecermos
que elas podem ter sobre nós algumas vantagens dentro de campo.
Pois, se todos admitem que uma
grande virtude num futebolista é o
jogo de cintura, as mulheres estão
muitos pontos à nossa frente nesse
quesito. Cabrochas de escola de
samba, bailarinas de dança do ventre... Que homem é capaz de requebrar como elas?
Já que no futebol masculino predominam cada vez mais a força bruta e o condicionamento físico, a ponto de Tostão ter observado que o último grande atacante baixinho foi
Romário, é possível que num futuro
próximo tenhamos mais chance de
encontrar a arte do futebol entre
mulheres do que entre homens.
Um exemplo evidente: é muito
mais bonito ver jogar a seleção feminina alemã, que amanhã faz a final
contra o Brasil, do que a masculina.
E não me refiro apenas à beleza das
pernas, mas ao jogo em si.
Um lance como o drible de Marta,
que, de costas para a adversária, deu
um toque de calcanhar, girou o corpo e foi buscar a bola do outro lado, é
de fazer inveja até a um Ronaldinho
ou a um Messi. Vai jogar bem assim
na China (de preferência amanhã).
Dunga enfatizou o "espírito de sacrifício" das garotas. Tudo bem. Mas
Marta, Cristiane, Formiga e companhia estão mostrando muito mais
do que isso. Estão mostrando talento, ousadia, invenção e prazer de jogar. É isso o que as torna únicas. Sacrifício por sacrifício, qualquer brasileira da classe média para baixo
também faz, e não é de hoje.
E bem feito para o técnico dos
EUA. Um sujeito que magoa, deixando no banco uma mulher tão linda quanto a goleira Hope Solo, merece o pior dos castigos.
Emoções tricolores
O coração são-paulino se dividiu na
quarta-feira. Os mais jovens festejaram a bela vitória sobre o Boca
Juniors. Os mais velhos choraram a
morte de um dos maiores ídolos da
história do clube, Roberto Dias, zagueiro de classe incomparável. O
leitor Bento Bravo faz uma sugestão ótima: trocar o nome do estádio
do São Paulo de Cícero Pompeu de
Toledo ("um bom dirigente, mas
que nunca entrou em campo") para
Roberto Dias. Nada mais justo. Roberto Dias carregou e tocou o piano
do time na época de vacas magras,
nos anos 60, quando todos os recursos do clube eram canalizados
para a construção do estádio.
jgcouto@uol.com.br
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