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Revista dos EUA mostra Rio à mercê de gangues
"New Yorker" retrata insegurança e ausência do Estado na adversária de Chicago
Publicação ressalta índices de mortes, explica a estrutura do tráfico e expõe ligação entre origem de facções e presos políticos nos anos 70
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
Na semana do anúncio da escolha da sede da Olimpíada de
2016, a respeitada revista "New
Yorker" apresenta reportagem
de 12 páginas sobre a ação dos
traficantes no Rio de Janeiro.
O retrato mostrado pela publicação é de uma cidade comandada por gangues, onde o
poder público tem participação
irrisória, incapaz de garantir a
segurança da população.
O título da reportagem já indica o que o leitor encontrará
nas páginas seguintes: "Terra
de gangues. Quem controla as
ruas do Rio de Janeiro?".
O autor, Jon Lee Anderson,
jornalista de prestígio, já escreveu uma biografia sobre Che
Guevara e livros sobre guerrilhas e sobre o Afeganistão.
O texto contrasta com a campanha do Rio aos Jogos Olímpicos, que explora as belezas naturais da cidade e o sucesso de
políticas de segurança pública.
A partir da história de Iara,
"subdelegada" de 31 anos e mãe
de três filhas, que pertence ao
Terceiro Comando Puro e trabalha para Fernandinho, o traficante Fernando Gomes de
Freitas, comandante do Morro
do Dendê, na Ilha do Governador, a reportagem traça um painel da atuação do tráfico da cidade e da atuação da polícia.
O jornalista da "New Yorker"
se encontrou com o traficante.
Questionado sobre onde fica a
linha entre certo e errado, diz:
"Quem está decidindo?".
Anderson estima que existam hoje mais de mil favelas na
capital fluminense. Em um panorama sombrio, a reportagem
afirma que não há meios de escapar completamente da miséria do Rio de Janeiro.
O jornalista relata que os moradores do Morro do Dendê vivem sob a autoridade de um regime de fato, comandado pelo
traficante e seu exército particular, um padrão que se repete
por toda a cidade.
Na tentativa de traduzir para
o público norte-americano o
funcionamento do tráfico carioca, Anderson afirma que pelo menos 100 mil pessoas trabalham para traficantes, envolvidos em uma estrutura hierárquica similar à do mundo corporativo, com gerentes gerais,
subgerentes e donos.
A reportagem descreve também as origens de algumas facções criminosas, como o Terceiro Comando Puro e o Comando Vermelho, este último
nascido da mistura de criminosos comuns e presos políticos
na prisão em Ilha Grande, no final da década de 70.
De acordo com o texto, mais
de 20 anos após a restauração
da democracia, não existem
mais guerrilhas marxistas no
país, apesar de vários ex-guerrilheiros ocuparem cargos no
governo do presidente Lula.
"O Estado está praticamente
ausente das favelas", diz a reportagem, que compara os índices de mortes violentas do
Rio com os norte-americanos.
Os policiais cariocas matam
em média pouco mais de três
pessoas por dia, mais do que o
número de todo os EUA.
Para o chefe da Polícia Civil
do Rio, Allan Turnowski, ouvido em julho para a reportagem,
a situação do Rio de Janeiro hoje não é de calamidade.
"Se fosse, não haveria volta. E
nós podemos. Isto aqui ainda
não é Bagdá ou o México. Nós
temos a capacidade de controlar qualquer parte da cidade
que quisermos", afirmou ele.
"O problema é que não podemos ficar para terminar o serviço", completou Turnowski.
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