São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011

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RITA SIZA

Cartão vermelho


Nem a Fifa nem o COI se mostraram incomodados com o escândalo e a saída de Orlando Silva Jr.

Não fosse o caso de Orlando Silva Jr. ser o sexto ministro a cair em menos de um ano de governo, talvez a notícia da demissão do homem com a responsabilidade de supervisionar o esporte brasileiro tivesse outra repercussão aqui na terra. Assim, a novidade foi sobretudo apresentada como mais um escândalo de corrupção ao mais alto nível, e mais um exemplo de como a "faxina" da presidente Dilma Rousseff se tem revelado eficaz e implacável.
Claro que se comentou como esta saída acontece num momento delicado de preparação do Copa de 2014 e da Olimpíada do Rio em 2016. Aliás, o ministro foi sempre apresentado como "o homem por trás" da organização desses megaeventos. Mas o facto de esse "detalhe" não ter provocado enorme sobressalto não deixa de ser revelador.
Se isso é bom ou mau, não sei. Pode argumentar-se que a opinião pública (e publicada) já interiorizou de tal maneira a noção de que o mundo do esporte está impregnado de fraude e corrupção que a notícia não causa verdadeira surpresa -essa é a visão pessimista. Ou então pode se esperar, num impulso mais positivo, que, independentemente de dirigentes ou de movimentações extemporâneas de dinheiro, e apesar dos dramas de bastidores e ansiedades de último minuto, o dia da abertura chegará para revelar um grande sucesso. Afinal, é a tradição: tudo o que está mal em ensaios e preparativos acaba por correr bem e tornar-se uma maravilha quando se acendem as luzes da ribalta.
Uma coisa é certa, nem a Fifa nem o COI se mostraram especialmente incomodados com o escândalo e a saída de Orlando Silva Jr. da pasta do Esporte. Mantiveram a calma e, mesmo considerando o incidente "desagradável" e lamentando a "situação" que originou a demissão, manifestaram plena "confiança" de que o tumulto não terá "qualquer impacto nas preparações" dos eventos.
Na verdade, não houve quem não repetisse essa mensagem: o escândalo terá consequências muito limitadas em termos de organização da Copa e Olimpíada. Todos ficamos a perceber a aparente insignificância do governo federal nestes processos. São os comités organizadores e as federações que trabalham com os governos estaduais ou com as cidades para pôr os projectos de pé.
É certamente um alívio saber que o governo não tem nada que ver com os atrasos na construção de infraestruturas, na definição de programas de transportes ou nos regulamentos que determinam o preço dos ingressos. E todos podemos ficar tranquilos, agora que sabemos que as decisões importantes estão nas mãos desses outros organismos impolutos e sem mácula que são a Fifa e o COI...


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