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FUTEBOL
Torcedores e dirigentes se dizem satisfeitos com reação no jogo que selou novo rebaixamento do time no Brasileiro
Rebaixado, Grêmio chora e festeja garra
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A ERECHIM
Muito mais por tristeza, mas
também por uma inesperada alegria tardia, os gremistas foram às
lágrimas. A reação nos acréscimos contra o líder do Brasileiro
criou, em cartolas, atletas e torcedores, a consoladora sensação
que o time caiu de pé, brigando.
"O Grêmio é isso. É mais que
um clube de futebol. É uma religião, uma seita. Mostramos a velha garra de sempre", festejou,
com olhos marejados, o presidente do clube, Flavio Obino, após o 3
a 3 com o Atlético-PR.
O gol de Cláudio Pitbull provocou uma reviravolta no clima carregado que dominava o estádio.
Os dirigentes, nas cadeiras do Colosso da Lagoa, se abraçavam.
"Sou do Grêmio. Tenho orgulho
desse clube!", bradava, chorando,
o vice de futebol Hélio Dourado.
O goleiro Márcio, irritado, chutou
uma placa de publicidade e provocou a torcida do rival. "Tem
que ter respeito por nós. Caímos
com dignidade, jogando bem."
Pitbull também chorou. "Isso [o
rebaixamento] marca a carreira
do jogador, mas honramos a camisa do clube."
Como numa conquista de título, a torcida disputou a tapas camisas atiradas pelos gremistas à
saída do gramado. Antes de o ônibus da delegação deixar Erechim
rumo a Porto Alegre, um grupo
de uns 30 torcedores aplaudiu o
time e cantou um pedaço do hino
do Grêmio.
Por instantes se esqueceu o vexame do time. Uma rara exceção
foi um torcedor que, nas cadeiras,
culpou, aos berros, Obino pelo rebaixamento e pediu a saída do dirigente -o que vai acontecer em
breve, já que ele não se candidatará à reeleição no pleito de dezembro. Seguranças do clube contiveram o manifestante.
Abandonado por suas torcidas
organizadas -que não foram a
Erechim alegando não acreditar
numa milagrosa ressurreição do
time e, dizendo-se desamparadas
pela diretoria, querem até fechar
as portas-, o Grêmio teve de se
contentar com um apoio inconstante do público erechinense.
Os primeiros a chegar ontem
vestiam vermelho e preto e carregavam um pequeno caixão com
as cores e o escudo do Grêmio. A
torcida do Atlético-PR ocupou
desde o final da manhã as cercanias do estádio. Nas arquibancadas, cerca de 1.500 atleticanos
apoiavam o líder do Brasileiro
com ajuda de torcedores do Inter.
E não pareciam nem um pouco
constrangidos com o fato de seu
time consumar o rebaixamento
do adversário -muito pelo contrário. "É uma sensação boa, muito boa, saber que afundamos o
Grêmio", disse Dráuzio Cordeiro
Júnior, líder da caravana da torcida "Os Fanáticos".
O público total foi de 9.647 pessoas, 8.222 pagantes. Bem menor
do que o do jogo do Inter na cidade há duas semanas, quando o
Colosso, com capacidade para 15
mil torcedores, lotou.
Os mais de 8.000 gremistas só
começaram a surgir perto do início do jogo, e a empolgação sugeria que ainda acreditavam na sobrevivência na Série A, apesar dos
desfalques de seis titulares.
Até Denis Marques abrir o placar, a torcida apoiava o time.
Após o segundo gol, anotado por
Fernandinho, as vaias começaram a aparecer.
Jogador mais visado pelas arquibancadas, o meia Felipe Melo,
o pior do time ontem, chegou a
provocar os torcedores colocando
a mão na orelha, como quem não
escutava os protestos. Ao término
do primeiro tempo, reconheceu
que não estava "jogando nada" e
foi sacado no intervalo.
Atleta mais festejado pela torcida, o goleiro Márcio cobrava mais
empenho: "Não podemos aceitar
a derrota assim".
No segundo gol de Fernandinho, o terceiro do Atlético-PR,
pareceu que o placar estava definido. A reação do presidente Flavio Obino quando Roberto Santos fez 3 a 1 ilustrou o fim da esperança gaúcha. Enquanto parte do
estádio celebrava, o dirigente ficou sentado, de braços cruzados,
com os olhos vermelhos.
Quando o Grêmio fez o segundo gol, com Baloy, quase metade
de sua torcida havia deixado o
campo. Obino continuou de braços cruzados. O empate foi o ópio
gremista. Só então Obino levantou os braços e pulou. Parte da
torcida voltou, e instalou-se uma
estranha festa.
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