São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2004

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FUTEBOL

Torcedores e dirigentes se dizem satisfeitos com reação no jogo que selou novo rebaixamento do time no Brasileiro

Rebaixado, Grêmio chora e festeja garra

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A ERECHIM

Muito mais por tristeza, mas também por uma inesperada alegria tardia, os gremistas foram às lágrimas. A reação nos acréscimos contra o líder do Brasileiro criou, em cartolas, atletas e torcedores, a consoladora sensação que o time caiu de pé, brigando.
"O Grêmio é isso. É mais que um clube de futebol. É uma religião, uma seita. Mostramos a velha garra de sempre", festejou, com olhos marejados, o presidente do clube, Flavio Obino, após o 3 a 3 com o Atlético-PR.
O gol de Cláudio Pitbull provocou uma reviravolta no clima carregado que dominava o estádio. Os dirigentes, nas cadeiras do Colosso da Lagoa, se abraçavam. "Sou do Grêmio. Tenho orgulho desse clube!", bradava, chorando, o vice de futebol Hélio Dourado. O goleiro Márcio, irritado, chutou uma placa de publicidade e provocou a torcida do rival. "Tem que ter respeito por nós. Caímos com dignidade, jogando bem."
Pitbull também chorou. "Isso [o rebaixamento] marca a carreira do jogador, mas honramos a camisa do clube."
Como numa conquista de título, a torcida disputou a tapas camisas atiradas pelos gremistas à saída do gramado. Antes de o ônibus da delegação deixar Erechim rumo a Porto Alegre, um grupo de uns 30 torcedores aplaudiu o time e cantou um pedaço do hino do Grêmio.
Por instantes se esqueceu o vexame do time. Uma rara exceção foi um torcedor que, nas cadeiras, culpou, aos berros, Obino pelo rebaixamento e pediu a saída do dirigente -o que vai acontecer em breve, já que ele não se candidatará à reeleição no pleito de dezembro. Seguranças do clube contiveram o manifestante.
Abandonado por suas torcidas organizadas -que não foram a Erechim alegando não acreditar numa milagrosa ressurreição do time e, dizendo-se desamparadas pela diretoria, querem até fechar as portas-, o Grêmio teve de se contentar com um apoio inconstante do público erechinense.
Os primeiros a chegar ontem vestiam vermelho e preto e carregavam um pequeno caixão com as cores e o escudo do Grêmio. A torcida do Atlético-PR ocupou desde o final da manhã as cercanias do estádio. Nas arquibancadas, cerca de 1.500 atleticanos apoiavam o líder do Brasileiro com ajuda de torcedores do Inter.
E não pareciam nem um pouco constrangidos com o fato de seu time consumar o rebaixamento do adversário -muito pelo contrário. "É uma sensação boa, muito boa, saber que afundamos o Grêmio", disse Dráuzio Cordeiro Júnior, líder da caravana da torcida "Os Fanáticos".
O público total foi de 9.647 pessoas, 8.222 pagantes. Bem menor do que o do jogo do Inter na cidade há duas semanas, quando o Colosso, com capacidade para 15 mil torcedores, lotou.
Os mais de 8.000 gremistas só começaram a surgir perto do início do jogo, e a empolgação sugeria que ainda acreditavam na sobrevivência na Série A, apesar dos desfalques de seis titulares.
Até Denis Marques abrir o placar, a torcida apoiava o time. Após o segundo gol, anotado por Fernandinho, as vaias começaram a aparecer.
Jogador mais visado pelas arquibancadas, o meia Felipe Melo, o pior do time ontem, chegou a provocar os torcedores colocando a mão na orelha, como quem não escutava os protestos. Ao término do primeiro tempo, reconheceu que não estava "jogando nada" e foi sacado no intervalo.
Atleta mais festejado pela torcida, o goleiro Márcio cobrava mais empenho: "Não podemos aceitar a derrota assim".
No segundo gol de Fernandinho, o terceiro do Atlético-PR, pareceu que o placar estava definido. A reação do presidente Flavio Obino quando Roberto Santos fez 3 a 1 ilustrou o fim da esperança gaúcha. Enquanto parte do estádio celebrava, o dirigente ficou sentado, de braços cruzados, com os olhos vermelhos.
Quando o Grêmio fez o segundo gol, com Baloy, quase metade de sua torcida havia deixado o campo. Obino continuou de braços cruzados. O empate foi o ópio gremista. Só então Obino levantou os braços e pulou. Parte da torcida voltou, e instalou-se uma estranha festa.

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