São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O Vesgo


O Inter pensou em Mário Sérgio como o Rei do Gatilho, para dar disciplina a um time acusado de sabotagem


QUANDO ERA jogador, Mário Sérgio costumava olhar para um lado e fazer o passe para o outro. Eram jogadas ousadas, passes longos, responsáveis pelo apelido mais apropriado que o futebol brasileiro já criou: "O Vesgo". Os dribles aconteciam nos momentos mais inesperados, tanto dentro, quanto fora de campo.
Em 1987, já no ocaso de sua carreira, Mário Sérgio discutia com o técnico do Bahia, Orlando Fantoni. "Titio Fantoni não o escalava, porque ele já não jogava no ritmo dos companheiros", lembra Bobô, meia-direita titular, com o Vesgo no banco. Só na quinta rodada daquele Brasileirão, Mário Sérgio recebeu a camisa 10 de presente e foi a campo. Jogou os primeiros 45 minutos com atuação extraordinária e desceu para o intervalo como protagonista da vitória parcial por 1 a 0 sobre o Goiás. Sabe o que aconteceu no segundo tempo? Nada.
"Quando chegamos ao vestiário, ele já estava trocado, perfumado. Fez um pronunciamento muito educado, agradeceu a todos nós e disse que não voltaria para o segundo tempo. No vestiário, ele anunciou o fim de sua carreira", lembra Bobô.
Até na aposentadoria, Mário Sérgio foi um dos mais surpreendentes personagens da história do futebol. Como técnico, também.
O Inter não o contratou para ser o Vesgo. Fernando Carvalho pensou mais no outro apelido que marcou sua carreira: Rei do Gatilho.
"Pensamos no Mário porque o discurso do Tite, aliado ao meu, não estava dando resultado. E o Mário Sérgio costuma dar certo em curto prazo", explica o vice-presidente Fernando Carvalho.
O fato é que, hoje, enquanto todos olham para Goiás x São Paulo, no Serra Dourada, para Corinthians x Flamengo, no Brinco de Ouro, é possível que a notícia apareça num desses dribles que o Brasileirão tem nos dado. Um drible daqueles que o Vesgo costumava dar.
O título tem tudo para ser do São Paulo, como já esteve nas mãos do Palmeiras. Exatamente por isso, não é de se desconsiderar as hipóteses de derrota são-paulina e empate rubro-negro que, combinados com vitória colorada na Ilha do Retiro, deixariam o Inter a três pontos do título -aqui também não se considera o Palmeiras morto.
Não que Mário Sérgio mereça ser apontado como técnico de alto nível. Seus times só vão bem quando se defendem e as vitórias no Grenal e sobre o Atlético-MG mostram isso.
O Inter foi buscá-lo para dar disciplina a um elenco acusado de ter sabotado o trabalho de Tite, com o argentino D'Alessandro como líder do movimento. Mário Sérgio barrou Taison e Fabiano Eller, seduziu D'Alessandro e colecionou resultados que fizeram a direção voltar a apostar na taça. Fernando Carvalho aposta que ainda haverá outros cavalos paraguaios neste campeonato, que é páreo duro.
Analogias com corridas de cavalo sempre agradaram a Mário Sérgio. Em 1979, na campanha do título brasileiro do Inter, o então ponta- -esquerda saiu de uma vitória sobre o São Paulo-RS direto para o Jóquei Clube de Porto Alegre, para assistir ao GP Bento Gonçalves.
O favorito do páreo era Garve, mas Mário Sérgio preferiu Big Lark, o azarão, como hoje aposta no Inter.
Em 1979, Big Lark perdeu para Garve.


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