São Paulo, quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

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AÇÃO

Filhos de Iemanjá

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

A "Trip" que está nas bancas traz uma matéria de dois jovens que investiram mais de um ano numa aventura recordista e no mais autêntico espírito "velejar é preciso". Diogo Guerreiro e Flávio Jardim fizeram, entre 17 de maio de 2004 e 18 de julho deste ano, uma arrojada travessia de windsurfe entre o Chuí, no litoral do RS, e o Oiapoque, no AP. Se você a essa altura se pergunta por que dois jovens de classe média e 24 anos se dispõem a encarar um perrengue como esse, lembre-se de que, como escreveu Machado de Assis, Colombo andou mendigando uma caravela para descobrir o novo mundo. Portanto, há que se respeitar os aventureiros.
Mais ainda se levarmos em conta o que ocorreu na viagem: frio, medo, infecções intestinais, tempestades, desistências, fome, sede, assaltos. De cara, a meta, que era percorrer cerca de 60 km/dia, foi quebrada. Devido a ventos irregulares, a média percorrida era de 30 km/dia. Nessa época, a barca era formada por três. Eduardo Moreira era o terceiro da expedição, mas sairia ao passar em frente de casa, em Florianópolis.
Os perrengues começaram cedo. Tantos que os três cogitaram abortar a missão já nas semanas iniciais. Noites maldormidas, normalmente em faróis, fizeram com que eles cogitassem abandonar o barco. Tudo piorou quando foram roubados, em Atlântida, no RS. Vários equipamentos foram levados, e eles tiveram que se adaptar à nova realidade. Ainda em Atlântida, como o vento não vinha, eles resolveram seguir caminhando e arrastando 50 kg de equipamento até Torres, a 60 km dali. O episódio foi extenuante e jogou uma luz nas dificuldades que eles teriam até chegar ao Oiapoque. Valeria a pena continuar? Eles não tinham a resposta e seguiam viagem por teimosia.
Entre Barra Velha e Barra do Sul, em SC, um bizarro acontecimento mudaria o rumo das coisas. Entre esses dois pontos, o vento cessou por completo. Frio e chuva faziam desse o cenário ideal para desistências. Para piorar, água e comida acabaram. Exaustos e desanimados, foram obrigados a esconder o equipamento no mato e andar 20 km em busca de alimento. No dia seguinte, vieram os ventos. De 70 km/h. Junto com uma tempestade medonha. Nesse dia, Eduardo desistiu. E, a partir dali, eles eram dois.
Até chegarem ao Rio, a ausência absoluta de vento e a chegada de ventos extremamente fortes foram se alternando. Velejavam cerca de seis horas por dia, o que significava percorrer entre 20 km e 70 km/dia. Muitas vezes, era possível aumentar a quilometragem e, num dia especial, quando decidiram velejar à noite, percorreram 140 km. Já estavam no Ceará. Em 17 de maio, no Piauí, a expedição completou um ano. O cronograma estava estourado em quatro meses e faltava mar para chegar. Outros perrengues, como atravessar 500 km de mangue, fizeram parte do espetáculo. Finalmente, no dia 18 de julho, eles chegaram ao Oiapoque. Se valeu a pena? Os dois dizem que fariam tudo outra vez. "Tenho certeza de que na cidade as pessoas estão muito mais sujeitas a fatalidades e imprevistos", afirma Diogo.

Nota 10 de caridade
Toda vez que o heptacampeão mundial de surfe, Kelly Slater, tira 10 no WCT, o empresário Jim MacDonald doa US$ 5.000 para uma escola de crianças especiais na Flórida e arrecada alguns milhares pelo programa "Kelly's 10s for Kids", que ele criou. Neste ano foram oito.

Audaciosos paulistas
O Clube Audax, que incentiva o ciclismo de longa distância não competitivo, reabriu as portas em São Paulo. Para 2006, estão previstos eventos de 200 km e 300 km. Informe-se no www.audaxbrasil.com.
Brasileiras no mundial de surfe O time brasileiro para a temporada 2006 terá Jacqueline Silva e a estreante Silvana Lima, única nota 10 na etapa havaiana do WCT.

E-mail sarli@trip.com.br


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