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AÇÃO
Filhos de Iemanjá
CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA
A "Trip" que está nas bancas
traz uma matéria de dois jovens que investiram mais de um
ano numa aventura recordista e
no mais autêntico espírito "velejar é preciso". Diogo Guerreiro e
Flávio Jardim fizeram, entre 17 de
maio de 2004 e 18 de julho deste
ano, uma arrojada travessia de
windsurfe entre o Chuí, no litoral
do RS, e o Oiapoque, no AP. Se você a essa altura se pergunta por
que dois jovens de classe média e
24 anos se dispõem a encarar um
perrengue como esse, lembre-se
de que, como escreveu Machado
de Assis, Colombo andou mendigando uma caravela para descobrir o novo mundo. Portanto, há
que se respeitar os aventureiros.
Mais ainda se levarmos em conta o que ocorreu na viagem: frio,
medo, infecções intestinais, tempestades, desistências, fome, sede,
assaltos. De cara, a meta, que era
percorrer cerca de 60 km/dia, foi
quebrada. Devido a ventos irregulares, a média percorrida era
de 30 km/dia. Nessa época, a barca era formada por três. Eduardo
Moreira era o terceiro da expedição, mas sairia ao passar em frente de casa, em Florianópolis.
Os perrengues começaram cedo.
Tantos que os três cogitaram
abortar a missão já nas semanas
iniciais. Noites maldormidas,
normalmente em faróis, fizeram
com que eles cogitassem abandonar o barco. Tudo piorou quando
foram roubados, em Atlântida,
no RS. Vários equipamentos foram levados, e eles tiveram que se
adaptar à nova realidade. Ainda
em Atlântida, como o vento não
vinha, eles resolveram seguir caminhando e arrastando 50 kg de
equipamento até Torres, a 60 km
dali. O episódio foi extenuante e
jogou uma luz nas dificuldades
que eles teriam até chegar ao Oiapoque. Valeria a pena continuar?
Eles não tinham a resposta e seguiam viagem por teimosia.
Entre Barra Velha e Barra do
Sul, em SC, um bizarro acontecimento mudaria o rumo das coisas. Entre esses dois pontos, o vento cessou por completo. Frio e
chuva faziam desse o cenário
ideal para desistências. Para piorar, água e comida acabaram.
Exaustos e desanimados, foram
obrigados a esconder o equipamento no mato e andar 20 km em
busca de alimento. No dia seguinte, vieram os ventos. De 70 km/h.
Junto com uma tempestade medonha. Nesse dia, Eduardo desistiu. E, a partir dali, eles eram dois.
Até chegarem ao Rio, a ausência absoluta de vento e a chegada
de ventos extremamente fortes foram se alternando. Velejavam
cerca de seis horas por dia, o que
significava percorrer entre 20 km
e 70 km/dia. Muitas vezes, era
possível aumentar a quilometragem e, num dia especial, quando
decidiram velejar à noite, percorreram 140 km. Já estavam no
Ceará. Em 17 de maio, no Piauí, a
expedição completou um ano. O
cronograma estava estourado em
quatro meses e faltava mar para
chegar. Outros perrengues, como
atravessar 500 km de mangue, fizeram parte do espetáculo. Finalmente, no dia 18 de julho, eles
chegaram ao Oiapoque. Se valeu
a pena? Os dois dizem que fariam
tudo outra vez. "Tenho certeza de
que na cidade as pessoas estão
muito mais sujeitas a fatalidades
e imprevistos", afirma Diogo.
Nota 10 de caridade
Toda vez que o heptacampeão mundial de surfe, Kelly Slater, tira 10
no WCT, o empresário Jim MacDonald doa US$ 5.000 para uma escola de crianças especiais na Flórida e arrecada alguns milhares pelo
programa "Kelly's 10s for Kids", que ele criou. Neste ano foram oito.
Audaciosos paulistas
O Clube Audax, que incentiva o ciclismo de longa distância não competitivo, reabriu as portas em São Paulo. Para 2006, estão previstos
eventos de 200 km e 300 km. Informe-se no www.audaxbrasil.com.
Brasileiras no mundial de surfe
O time brasileiro para a temporada 2006 terá Jacqueline Silva e a estreante Silvana Lima, única nota 10 na etapa havaiana do WCT.
E-mail sarli@trip.com.br
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