São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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Para destroçar recordes, Phelps voa sob a água

Americano melhora desempenho submerso e já soma quatro ouros no Mundial

Nadador quebra a marca dos 200 m medley e, de acordo com especialistas, é um dos melhores do mundo no "quinto estilo" da natação

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Michael Phelps na água, medalha de ouro, recorde. O norte-americano repetiu pela terceira vez o roteiro no Mundial ao vencer os 200 m medley em 1min54s98 e se tornar o primeiro homem na história a nadar a prova abaixo do 1min55s.
Phelps, que soma quatro ouros no torneio (um foi no revezamento 4x 100 m livre), já havia declarado que chegaria à Austrália mais rápido do que nunca. A grande diferença em seu desempenho, porém, desta vez está também sob a água.
Nos últimos tempos, o técnico Bob Bowman investiu em aprimorar seu nado submerso. O resultado salta aos olhos na Rod Laver Arena. Phelps, 21, tem aproveitado como nenhum outro os metros que pode cumprir sem dar braçadas.
Antes dos 200 m livre, em que estraçalhou o recorde do aposentado Ian Thorpe, ele deu a dica: "Creio que a chave será o trabalho feito embaixo d'água".
Na prova, Pieter van den Hoogenband, o segundo colocado, até conseguia segui-lo durante as braçadas, mas era deixado para trás a cada virada.
"Phelps foi capaz de economizar uma energia enorme para os últimos 50 metros, quando destruiu Hoogenband e quebrou o recorde", afirmou Alexandre Pussieldi, treinador brasileiro radicado nos EUA.
Pelas regras internacionais, o atleta pode percorrer até 15 metros embaixo d'água na hora da saída e após as viradas.
O nadador permanece na posição de "streamline", com os braços completamente estendidos sobre a cabeça, pés e mãos juntos e executa movimentos de ondulação.
"Em uma prova de 200 m, o nadador pode fazer 60 metros em "streamline". Phelps talvez seja hoje o melhor do mundo nessa técnica e tira vantagem disso. Para ele, esse trabalho submerso funciona melhor do que para outras pessoas", disse o treinador Alberto Klar.
Segundo ele, para desenvolver um bom "streamline", o atleta depende de treinamento específico e genética. Alguns competidores têm mais potência nos membros inferiores do que outros e respondem melhor a esse tipo de técnica.
O investimento no nado embaixo d'água ganhou projeção internacional na última década. Nos EUA, é chamado por vários técnicos de "quinto estilo" -os quatro da natação são livre, costas, peito e borboleta.
Conseguir atingir um alto nível, porém, não é simples. Além de fazer treinos específicos, o nadador precisa ter muita resistência física e aptidão.
"A musculatura das pernas é a maior do corpo, a que requer mais oxigênio. Portanto, um trabalho submerso tem demanda e custo energético muito grandes. Assim, um atleta precisa estar extremamente bem preparado para enfrentar esse tipo de treino e competir como Phelps", falou Pussieldi.
Para o ex-nadador Ricardo Prado, o bom nado submerso do americano não é novidade. A diferença neste Mundial é que o atleta está mais veloz e resistente. "O que [Phelps] tem feito é explorar mais isso nas provas de nado livre e em momentos da disputa em que os outros já não têm tanta energia. Ele pode fazer algo que os outros não conseguem mais", afirmou.
Responsável pela evolução do pupilo, Bowman não revela sua tática para aprimorar a performance de Phelps. Quando questionado em Melbourne sobre o segredo, saiu-se com essa: "Eu o mantenho o máximo embaixo d'água. O máximo que ele agüentar. Assim, eu não preciso escutá-lo, nem ele precisa me escutar. E tem dado certo".


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