São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Carta ao morto (ou não)

Maior gênio das pranchetas, Colin Chapman poderia aparecer para ensinar umas lições à atual turma da F-1

CARO Colin Chapman, Dizem velhas lendas que você está vivo e que mora em algum pedaço ermo do Mato Grosso, quiçá nos confins do Pantanal. Às vezes acredito, geralmente tenho minhas dúvidas. Mas, no fundo, torço para que seja verdade. E, nos últimos dias, passei a torcer também para que você encerre o auto-exílio e apareça para ensinar uma liçãozinha ou duas aos que te sucederam. Sim, sei que você teve seus motivos para sumir. Sua morte, a F-1 comenta até hoje, foi providencial. As dívidas se acumulavam, e aquele desvio de dinheiro da fábrica da DeLorean para sua conta na Suíça renderia uns dez anos de cadeia. Mas já passou muito tempo. Talvez o crime tenha prescrito, sei lá. De qualquer forma, o Brasil é uma nação amistosa e acolhedora, veja o exemplo do seu compatriota Ronald Biggs, que até música gravou por aqui e só foi embora porque quis. Reconsidere, pois, a morte.
Porque, se conheço um pouco da sua história e do seu temperamento, sei que você deve estar "p..." da vida, achando o cenário criativo da F-1 pior que a visão de Tânatos. E só algo forte e chocante, como sua "ressurreição" seguida de uma reprimenda pública, pode mudar as coisas. Veja esse caso, agora, do assoalho da Ferrari. Aparentemente, a escuderia apareceu para a primeira corrida do ano com um engenhoso sistema sob o carro. A regra estipula que nenhuma parte do chassi pode ceder mais do que 5 mm quando submetida à força de 500 Newtons.
Pois bem, o assoalho da F2007 obedece a essa condição. Passa, sem problemas, pela vistoria da FIA. Ou seja, está nos conformes, é legal. Segundo consta, submetido a uma força maior do que essa, como a enfrentada na pista com a resistência do ar, o assoalho cede. O carro, assim, fica mais colado no chão. É o tal do efeito solo, não preciso te explicar, você o conhece como ninguém.
Genial! Aplausos para a Ferrari, que, no deserto de idéias de uma F-1 que hoje soma mais operadores de AutoCADs do que projetistas, encontrou uma maneira honesta de conseguir vantagem sobre as rivais. As outras que corram atrás. Como fizeram quando você criou o monocoque e o patrocínio ou abriu novas fronteiras para a aerodinâmica.
Mas isso, meu caro Colin, era na sua época. Agora é bem diferente. Sabe o que FIA, dos seus velhos conhecidos Max e Bernie, decidiu? Que, a partir da Malásia, o procedimento da vistoria vai ser alterado. Não deu detalhes. Mas o fato é que a inovação da Ferrari está na berlinda. Muito provavelmente, será vetada. E, assim, a F-1 voltará a ter um grid com carros mais ou menos iguais e jogará novamente no lixo o preceito da inovação tecnológica.
Ponto para os nerds do AutoCAD. Anda, Colin, apareça, grite, esperneei, ensine a essa turma o que é (ou foi) a F-1. Sei que não faz o seu tipo, mas, se quiser, mande um e-mail. Meu endereço está aqui ao lado.

SECOND LIFE
Um exemplo de como o "índice nerd" da categoria anda elevado? Alonso preferiu não participar dos testes desta semana na Malásia. Ficou em Woking, tentando encontrar soluções para os problemas do carro no simulador da McLaren.

PREOCUPAÇÃO
Raikkonen passará os próximos dias com um elefante atrás da orelha. O motivo, o superaquecimento do motor nas voltas finais em Melbourne, resultado de um vazamento de água. O risco de perder dez postos no grid de Sepang é enorme.

BOLICHE
Se você ainda não viu a comemoração do "Doutor" após a vitória de domingo, não perca mais tempo. Corra para o YouTube e digite "Rossi" e "Jerez". Nunca tinha visto nada igual, em nenhum esporte.

fseixas@folhasp.com.br


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