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FÁBIO SEIXAS
Carta ao morto (ou não)
Maior gênio das pranchetas, Colin Chapman poderia aparecer para ensinar umas lições à atual turma da F-1
CARO Colin Chapman,
Dizem velhas lendas que
você está vivo e que mora em
algum pedaço ermo do Mato Grosso, quiçá nos confins do Pantanal.
Às vezes acredito, geralmente tenho minhas dúvidas. Mas, no fundo,
torço para que seja verdade. E, nos
últimos dias, passei a torcer também
para que você encerre o auto-exílio e
apareça para ensinar uma liçãozinha ou duas aos que te sucederam.
Sim, sei que você teve seus motivos para sumir. Sua morte, a F-1 comenta até hoje, foi providencial. As
dívidas se acumulavam, e aquele
desvio de dinheiro da fábrica da DeLorean para sua conta na Suíça renderia uns dez anos de cadeia.
Mas já passou muito tempo. Talvez o crime tenha prescrito, sei lá.
De qualquer forma, o Brasil é uma
nação amistosa e acolhedora, veja o
exemplo do seu compatriota Ronald
Biggs, que até música gravou por
aqui e só foi embora porque quis.
Reconsidere, pois, a morte.
Porque, se conheço um pouco da
sua história e do seu temperamento,
sei que você deve estar "p..." da vida,
achando o cenário criativo da F-1
pior que a visão de Tânatos. E só algo
forte e chocante, como sua "ressurreição" seguida de uma reprimenda
pública, pode mudar as coisas.
Veja esse caso, agora, do assoalho
da Ferrari. Aparentemente, a escuderia apareceu para a primeira corrida do ano com um engenhoso sistema sob o carro. A regra estipula
que nenhuma parte do chassi pode
ceder mais do que 5 mm quando
submetida à força de 500 Newtons.
Pois bem, o assoalho da F2007
obedece a essa condição. Passa, sem
problemas, pela vistoria da FIA. Ou
seja, está nos conformes, é legal.
Segundo consta, submetido a uma
força maior do que essa, como a enfrentada na pista com a resistência
do ar, o assoalho cede. O carro, assim, fica mais colado no chão. É o tal
do efeito solo, não preciso te explicar, você o conhece como ninguém.
Genial! Aplausos para a Ferrari,
que, no deserto de idéias de uma F-1
que hoje soma mais operadores de
AutoCADs do que projetistas, encontrou uma maneira honesta de
conseguir vantagem sobre as rivais.
As outras que corram atrás. Como
fizeram quando você criou o monocoque e o patrocínio ou abriu novas
fronteiras para a aerodinâmica.
Mas isso, meu caro Colin, era na
sua época. Agora é bem diferente.
Sabe o que FIA, dos seus velhos
conhecidos Max e Bernie, decidiu?
Que, a partir da Malásia, o procedimento da vistoria vai ser alterado.
Não deu detalhes. Mas o fato é que
a inovação da Ferrari está na berlinda. Muito provavelmente, será vetada. E, assim, a F-1 voltará a ter um
grid com carros mais ou menos
iguais e jogará novamente no lixo o
preceito da inovação tecnológica.
Ponto para os nerds do AutoCAD.
Anda, Colin, apareça, grite, esperneei, ensine a essa turma o que é (ou
foi) a F-1. Sei que não faz o seu tipo,
mas, se quiser, mande um e-mail.
Meu endereço está aqui ao lado.
SECOND LIFE
Um exemplo de como o "índice
nerd" da categoria anda elevado?
Alonso preferiu não participar dos
testes desta semana na Malásia. Ficou em Woking, tentando encontrar soluções para os problemas do
carro no simulador da McLaren.
PREOCUPAÇÃO
Raikkonen passará os próximos
dias com um elefante atrás da orelha. O motivo, o superaquecimento
do motor nas voltas finais em Melbourne, resultado de um vazamento de água. O risco de perder dez
postos no grid de Sepang é enorme.
BOLICHE
Se você ainda não viu a comemoração do "Doutor" após a vitória de
domingo, não perca mais tempo.
Corra para o YouTube e digite
"Rossi" e "Jerez". Nunca tinha visto nada igual, em nenhum esporte.
fseixas@folhasp.com.br
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