São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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Tenista recorda 1º torneio com vitória em duplas e hoje estréia em simples

Guga volta como criança

Marcelo Ruschel/Poa Press
Gustavo Kuerten comemora ponto com André Sá, seu parceiro no jogo de duplas ontem, no Torneio de Mallorca, que marcou sua volta às quadras


ENVIADO ESPECIAL A PALMA DE MALLORCA

Tudo ocorreu como em um início de carreira. O jogo foi disputado sob calor forte, na pior quadra do clube. Do lado de fora, menos de 50 pessoas assistindo. No saibro, um tenista que buscava ganhar confiança, mas que às vezes titubeava. E que, no final, admitiu: "Eu parecia uma criança".
Assim foi a volta de Gustavo Kuerten, 25, ao tênis profissional.
Ao lado do parceiro André Sá, o segundo colocado no ranking de entradas bateu ontem o sul-africano Chris Haggard e o belga Tom Vanhoudt pela primeira rodada da chave de duplas do Torneio de Mallorca (Espanha).
Foi seu primeiro jogo desde 19 de fevereiro, quando, sofrendo antigas dores no quadril, perdeu para Agustin Calleri, em Buenos Aires. Aquela derrota disparou o alarme. E, uma semana depois, o tenista se submeteu a uma artroscopia em Nashville, nos EUA.
Nesses 61 dias desde a data da cirurgia, Guga se preparou para a volta, que aconteceu às 18h34 (13h34 de Brasília) de ontem, quando ele sacou uma bola sem devolução dos adversários. Esboçou um sorriso. E foi para o jogo.
Inicialmente marcada para o palco central do Club Nova Sport, a partida foi transferida para a terceira e última quadra do torneio devido a um atraso na programação. O cenário beirava o amadorismo, com funcionários correndo para arranjar um placar e os poucos espectadores procurando cadeiras pelo clube. A dez metros dali, garotos com a camisa do Barcelona jogavam futebol e gritavam "gol" a todo instante.
Foi nesse ambiente de challenger -torneios de menor prestígio na escala da ATP- que os brasileiros impuseram 6 a 3 e fecharam o primeiro set em 28 minutos.
No segundo set, porém, os adversários apertaram o ritmo. O primeiro grito de raiva de Guga veio no quinto game, após dois erros de devolução. O tricampeão de Roland Garros, então, soltou um palavrão e reagiu: salvou quatro quebras de serviço e fechou com um ace (saque indefensável).
Haggard e Vanhoudt, porém, fecharam o segundo set em 6 a 4.
Não bastasse o fato de estar voltando às quadras, Guga enfrentou então uma situação inédita em sua carreira, o match tie-break, novo sistema de desempate que vem sendo testado pela ATP.
Em vez de disputar mais um set, o que desgastaria jogadores como Sá e Kuerten, também inscritos no torneio de simples, as duplas jogam em esquema de tie-break até os dez pontos. Após 1h33min na quadra, os brasileiros fizeram 10 a 8 e comemoraram.
Um pouco ofegante, Guga disse que passou perto de se sentir como na estréia profissional -um torneio em Campinas, em 1993.
"Fiquei quase tão nervoso como naquele primeiro jogo. No final, o André [85º no ranking de entradas] é que segurou. Minhas bolas não estavam afiadas, mas isso vem com o tempo", disse. "Não tive nenhum grilo de sentir dor."
Hoje, por volta das 10h (de Brasília), Guga enfrenta mais um desafio: sua primeira partida de simples após a cirurgia, contra o russo Nikolay Davydenko. O brasileiro prometeu encarar o jogo como uma final. "Nessa fase, eu quero ganhar tudo. Tênis, futebol, bolinha de gude... Só assim minha confiança vai aumentar."


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