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FUTEBOL
Paulo e Jorge - 1
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Amplidão celeste, terça-feira: São Paulo está sentado
confortavelmente em uma nuvem-poltrona. Saboreia generosos pedaços de ambrosia e bebe
néctar num cálice prateado. De
repente, ele ouve o som de patas
de um cavalo que galopa pelos
céus. O santo missivista levanta-se e vai ver quem se aproxima:
- Ah, só podia ser você, Jorge.
- Sou eu mesmo, meu velho.
Vim ver se você mudou de idéia.
Ainda não era meio-dia, mas
são Jorge parecia já ter provado
um bom tanto da bebida que vem
do fruto da parreira. Na sua auréola de santo, por exemplo, estava pendurado um botton do Corinthians. Ele amarrou o cavalo
na ponta de uma estrela e disse:
- Vamos apostar ou não?
- É claro que não. O senhor sabe muito bem que apostas são
proibidas aqui nas alturas.
- Mas não é a dinheiro. É só
pela graça da coisa. Vamos fazer
assim: se o São Paulo passar pelo
Timão, eu pinto meu dragão de
tricolor. Agora, se o Coringão ganhar, você se veste de baiana e
dança o tchi-ca-bum diante do
Pai, do Filho e do Espírito Santo.
- Noto uma ligeira desproporção nos termos dessa aposta.
- Tá bom, não precisa dançar.
- Só a roupa de baiana?
- É. Topa?
- Não.
- Quer saber de uma coisa? No
seu lugar eu faria o mesmo, afinal
o França está machucado, o Nelsinho está cumprindo aviso prévio e o seu time não ganha um
clássico paulista há mais de um
ano. Aliás, as duas últimas contra
o Timão foram 3 a 1 e 2 a 0. Estou
até lembrando: Deivid domina,
chuta, a bola passa entre as pernas de Rogério, gooooooooool!
Ele fez então uma dancinha de
escárnio. O rosto de são Paulo foi
ficando tão vermelho quanto a
capa de são Jorge. Mas conseguiu
se controlar e contra-atacou:
- Isso não são modos de um
santo se portar. Ah, me desculpe,
esqueci que você já não é mais
considerado um santo.
Jorge parou de dançar e disse:
- Os regulamentos não estavam preparados para mim.
- Regulamentos são regulamentos.
- Mas alguns são ridículos. Se
classificar pelo número de cartões, por exemplo.
Aí foi a conta. São Paulo deixou
de lado seu prato de ambrosia e
passou a falar em voz alta:
- Escute aqui, dobre a língua
quando for falar do meu tricolor?
Nós somos mais que vencedores,
nós somos bicampeões mundiais.
- Pelos regulamentos, o único
campeão do mundo é o Coringão.
- Pois fique sabendo, seu santo
rebaixado, que dessa vez Rogério
será mais intransponível que as
muralhas de Jericó, Gabriel soprará as trombetas da glória,
Emerson se mostrará mais firme
que Gideão, Gustavo Nery será,
de novo, o nosso anjo vingador,
Fábio Simplício terá a força de
Sansão, Belletti lutará com a astúcia de Davi, Kaká, feito Moisés,
nos guiará pelos caminhos da redenção, Souza será esperto como
Benjamim, Reinaldo transformará água em vinho como o Mestre
fazia, e Sandro Hiroshi... bom o
Hiroshi vai ajudar os outros.
São Jorge esperou que são Paulo
terminasse e, tranquilo, falou:
- Aposta ou não aposta, apóstolo?
São Paulo olhou-o e disse:
- Aposto.
Os dois apertaram as mãos. E,
se não fossem santos, eu diria que
faíscas de ódio saíram de seus
olhos. Se Jorge pintará seu dragão
ou Paulo usará roupa de baiana,
conto na sexta-feira.
Chapéu
Levar um chapéu, assim como levar o drible da vaca ou
tomar uma bola por debaixo
das pernas, é humilhante.
Mas faz parte do jogo. Supõe-se que o atleta deva ter controle emocional e senso de
profissionalismo. Wagner,
do São Caetano, mesmo já
tendo um amarelo, cometeu
a bobagem de pôr a mão na
bola para evitar o chapéu e facilitou a vida do Corinthians.
Holofotes
Alex Mineiro voltou a marcar. Parece que ele não gosta
muito de fazer gols nas fases
intermediárias dos torneios,
mas, quando se tratam de finais, o homem se transforma.
O Cruzeiro que se cuide.
Azar
Bons mecânicos ajudam, um
bom engenheiro é fundamental, um chefe de equipe
competente é necessário.
Mas talvez Barrichello precise é de uma boa benzedeira.
E-mail torero@uol.com.br
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