São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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FUTEBOL

Despedida de um craque

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Logo após a Copa de 1994, nos Estados Unidos, assisti a vários jogos da seleção francesa pela TV, e os narradores e comentaristas só falavam no Djorkaeff, o craque do time.
Ao lado de Djorkaeff estava o jovem Zidane, ainda com cabelos. Jogava com elegância, sem olhar para a bola. Raramente errava um passe ou perdia o domínio da bola. Uma maravilha! Mas os narradores insistiam com o esforçado Djorkaeff. Devia ser pelo hábito e pelo seu nome bonito de se pronunciar.
Zidane se tornou um dos maiores jogadores da história do futebol. Djorkaeff não foi bom nem ruim. Foi o Djorkaeff, de nome bonito.
Zidane é um dos raros e brilhantes meias-armadores. É preciso diferenciar o meia-armador, como Zidane, Deco, Ricardinho e poucos outros, que atuam de uma intermediária a outra, que participam da marcação e iniciam as jogadas ofensivas no seu campo, do grande número de excelentes meias ofensivos, como Kaká, Alex, Roger e outros, que atuam livre, do meio para a frente e mais próximo dos dois atacantes.
Essa diferença existe porque houve uma divisão no meio-campo entre os armadores defensivos (volantes), que quase só marcam, e os ofensivos (meias-atacantes), que quase só jogam do meio para a frente. Quase que desapareceram os típicos meias-armadores. A maioria dos técnicos não dá importância a essa diferença.
Para suprir a falta do meia-armador, alguns volantes têm tentado fazer a dupla função, de marcar e organizar as jogadas. Mas são poucos os que fazem isso bem, mesmo os que atuam em seleções e nos times mais ricos do mundo.
A minha referência são os pouquíssimos volantes de grande talento, capazes de brilhar em uma grande seleção, como as do Brasil e Argentina, e não apenas os bons jogadores dessa posição espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Pelo que mostrou no River Plate e na seleção Argentina, Mascherano é um desses poucos brilhantes volantes. Ele apenas inicia a sua carreira no Corinthians e ainda não encontrou o seu jeito de atuar.
Volto ao Zidane. Ele anunciou a sua despedida após a Copa com a dignidade que sempre teve. Se quisesse, ainda ganharia muito dinheiro por uns cinco anos. Mas ele sabe que não dá mais para brilhar com regularidade como nos seus melhores momentos.
Antes disso, Zidane vai fazer um grande esforço para jogar bem na Copa da Alemanha e ajudar a seleção francesa, como fez nas eliminatórias européias.

Segredos de Xerém
O Fluminense tem três ótimas promessas. Além de boas atuações, Lenny fez um golaço contra o Cruzeiro. A sua análise consciente após o jogo, ao explicar os treinos que fez para não cair no momento do contato físico com o adversário, fez com que eu acreditasse ainda mais no seu sucesso.
Se o lateral Marcelo jogar no Fluminense o que jogou na recente seleção sub-17, será um dos candidatos à vaga do Roberto Carlos para a Copa de 2010, que será na África do Sul.
Arouca já é uma realidade para o Flu. Não está ainda entre os melhores volantes brasileiros, porém é o mais promissor em relação à seleção, para depois da Copa. Arouca marca bem, tem um bom passe e avança como um meia.
Muitos vão dizer: "Você vai estragar os garotos com esses elogios". Não é por aí. Todos os grandes craques foram muito elogiados na infância e no início de suas carreiras e não deixaram de ser craques. Os que ficaram no meio do caminho não se tornariam craques, com ou sem elogios.
Qual é o segredo de Xerém? O bom trabalho feito nas categorias de base do Fluminense não é apenas técnico e físico. Há também ajuda psicológica e uma preocupação com a formação humana dos garotos.

Péssimo jogo
Palmeiras e São Paulo fizeram na quarta-feira um péssimo jogo, com 60 faltas. Os dois times chutavam a bola para a frente e corriam atrás. Não havia troca de passes. E muitas pessoas ainda gostaram e disseram que Libertadores é assim mesmo. Confundem futebol com trombadas.
Diferentemente do São Paulo, que tem feito belos e eficientes jogos nos últimos tempos, esse tem sido o futebol do Palmeiras, mesmo nas vitórias com Leão. O time só vai melhorar quando fizer bem o básico, que é trocar passes. Há jogadores para isso.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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