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Chávez promove seu "Pan vermelho"
Na Venezuela, Jogos Esportivos da Alba viram manifestação socialista que inclui até canções guerrilheiras na abertura
Brasil falta à cerimônia de abertura de evento que reúne atletas de países de aliança alternativa formada por presidente venezuelano
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARQUISIMETO
Canções guerrilheiras, público homogeneizado de vermelho e o culto à personalidade de Hugo Chávez deram o
tom da abertura dos Jogos Esportivos da Alternativa Bolivariana para os Povos da América
(Alba), mais uma das criações
da chamada petrodiplomacia
do presidente venezuelano.
Os Jogos, já em sua segunda
edição, foram inaugurados anteontem à noite por um breve
discurso de Chávez no estádio
de beisebol de Barquisimeto
(360 km a oeste de Caracas).
O líder do "socialismo do século 21" estava acompanhado
dos aliados Evo Morales (Bolívia) e Daniel Ortega (Nicarágua). Com Fidel Castro doente,
Cuba estava representada pelo
vice, Carlos Lage.
Apesar dos presentes oferecidos -camisetas vermelhas,
algumas com os dizeres "Chávez é um vencedor" e marmita-, o público ocupou pouco
mais da metade dos 20 mil lugares do estádio de Barquisimeto, que tem uma população
de cerca de 850 mil pessoas.
A afluência foi ainda menor
se descontados os funcionários
que seguram as plaquinhas, ao
estilo da Olimpíada de Moscou
na ex-União Soviética, em
1980. Ocupando uma divisão
inteira da arquibancada, formavam palavras como "presidente Chávez", "pátria, socialismo ou morte" e a imagem-ícone do venezuelano com punho cerrado e boina vermelha.
O evento contou ainda com
desfiles de atletas e apresentações de grupos musicais com
repertório "revolucionário",
como uma salsa em homenagem ao guerrilheiro nicaragüense Augusto Sandino.
Todas as apresentações
ocorreram diante da tribuna.
Do gramado, o locutor incitava
o público a gritar "viva o socialismo" e o inevitável "o povo
unido/ jamais será vencido".
Estava prevista ainda uma
partida de beisebol entre Cuba
e Venezuela, em que Chávez faria o arremesso inicial. Talvez
pelo pouco público, o confronto acabou cancelado.
De acordo com a organização, irão competir cerca de
4.000 atletas de 31 países, embora mais da metade sejam venezuelanos (1.764) e cubanos
(824). Segundo o comitê organizador, o Brasil participará
com "oito ou nove" atletas, mas
a comitiva não chegou a tempo
para participar da abertura.
É um número bem maior do
que a primeira edição dos Jogos, realizados em Cuba, quando menos de 2.000 atletas estiveram presentes.
Além dos esportes mais tradicionais, os Jogos promovem
ainda disputa de bolas criollas
(espécie de bocha) e até mesmo
dominó, a grande novidade
deste ano.
Os Jogos coincidem com a
quinta cúpula da Alba, espécie
de anti-Alca (Área de Livre Comércio das Américas, proposta
pelos EUA) criada por Chávez
com a participação de Cuba, da
Nicarágua e da Bolívia, todos
governos de esquerda.
Nos últimos anos, Chávez,
assim como Cuba, investe pesado em esporte como uma política de Estado. O maior deles
será a Copa América, que será
de 26 de junho a 15 de julho .
Com pouca tradição em futebol, o governo Chávez está
construindo praticamente todos os estádios que sediarão os
Jogos. Isso vai gerar um gasto
total de US$ 700 milhões (cerca
de R$ 1,5 bilhão).
Também está sendo investido dinheiro na preparação de
equipes de competidores venezuelanos. Em 2006, um total de
US$ 510 milhões (R$ 1,1 bilhão)
foi destinado ao setor. É um orçamento maior do que o que o
governo brasileiro destina à
área esportiva. Nesses Jogos, a
Venezuela terá três equipes.
O objetivo de Chávez é aumentar o número de medalhas
esportivas nacionais em competições internacionais. Assim,
ajudará a imagem de seu governo. Cuba, parceira de Chávez,
tem resultados expressivos em
Pans e Olimpíadas, graças a um
incentivo à prática de esportes
desde a idade escolar.
O governo venezuelano nega
que a intenção seja substituir
os Jogos Pan-Americanos , mas
"aquecer" os jogadores para o
evento que será no Rio de Janeiro, a partir de 13 de julho.
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