São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2007

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Chávez promove seu "Pan vermelho"

Na Venezuela, Jogos Esportivos da Alba viram manifestação socialista que inclui até canções guerrilheiras na abertura

Brasil falta à cerimônia de abertura de evento que reúne atletas de países de aliança alternativa formada por presidente venezuelano


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARQUISIMETO

Canções guerrilheiras, público homogeneizado de vermelho e o culto à personalidade de Hugo Chávez deram o tom da abertura dos Jogos Esportivos da Alternativa Bolivariana para os Povos da América (Alba), mais uma das criações da chamada petrodiplomacia do presidente venezuelano.
Os Jogos, já em sua segunda edição, foram inaugurados anteontem à noite por um breve discurso de Chávez no estádio de beisebol de Barquisimeto (360 km a oeste de Caracas).
O líder do "socialismo do século 21" estava acompanhado dos aliados Evo Morales (Bolívia) e Daniel Ortega (Nicarágua). Com Fidel Castro doente, Cuba estava representada pelo vice, Carlos Lage.
Apesar dos presentes oferecidos -camisetas vermelhas, algumas com os dizeres "Chávez é um vencedor" e marmita-, o público ocupou pouco mais da metade dos 20 mil lugares do estádio de Barquisimeto, que tem uma população de cerca de 850 mil pessoas.
A afluência foi ainda menor se descontados os funcionários que seguram as plaquinhas, ao estilo da Olimpíada de Moscou na ex-União Soviética, em 1980. Ocupando uma divisão inteira da arquibancada, formavam palavras como "presidente Chávez", "pátria, socialismo ou morte" e a imagem-ícone do venezuelano com punho cerrado e boina vermelha.
O evento contou ainda com desfiles de atletas e apresentações de grupos musicais com repertório "revolucionário", como uma salsa em homenagem ao guerrilheiro nicaragüense Augusto Sandino.
Todas as apresentações ocorreram diante da tribuna. Do gramado, o locutor incitava o público a gritar "viva o socialismo" e o inevitável "o povo unido/ jamais será vencido".
Estava prevista ainda uma partida de beisebol entre Cuba e Venezuela, em que Chávez faria o arremesso inicial. Talvez pelo pouco público, o confronto acabou cancelado.
De acordo com a organização, irão competir cerca de 4.000 atletas de 31 países, embora mais da metade sejam venezuelanos (1.764) e cubanos (824). Segundo o comitê organizador, o Brasil participará com "oito ou nove" atletas, mas a comitiva não chegou a tempo para participar da abertura.
É um número bem maior do que a primeira edição dos Jogos, realizados em Cuba, quando menos de 2.000 atletas estiveram presentes.
Além dos esportes mais tradicionais, os Jogos promovem ainda disputa de bolas criollas (espécie de bocha) e até mesmo dominó, a grande novidade deste ano.
Os Jogos coincidem com a quinta cúpula da Alba, espécie de anti-Alca (Área de Livre Comércio das Américas, proposta pelos EUA) criada por Chávez com a participação de Cuba, da Nicarágua e da Bolívia, todos governos de esquerda.
Nos últimos anos, Chávez, assim como Cuba, investe pesado em esporte como uma política de Estado. O maior deles será a Copa América, que será de 26 de junho a 15 de julho .
Com pouca tradição em futebol, o governo Chávez está construindo praticamente todos os estádios que sediarão os Jogos. Isso vai gerar um gasto total de US$ 700 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão).
Também está sendo investido dinheiro na preparação de equipes de competidores venezuelanos. Em 2006, um total de US$ 510 milhões (R$ 1,1 bilhão) foi destinado ao setor. É um orçamento maior do que o que o governo brasileiro destina à área esportiva. Nesses Jogos, a Venezuela terá três equipes.
O objetivo de Chávez é aumentar o número de medalhas esportivas nacionais em competições internacionais. Assim, ajudará a imagem de seu governo. Cuba, parceira de Chávez, tem resultados expressivos em Pans e Olimpíadas, graças a um incentivo à prática de esportes desde a idade escolar.
O governo venezuelano nega que a intenção seja substituir os Jogos Pan-Americanos , mas "aquecer" os jogadores para o evento que será no Rio de Janeiro, a partir de 13 de julho.


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