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Romário vira cartola e, agora, prega disciplina
Ex-artilheiro é trunfo do centenário América-RJ
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Com mais de mil gols nos
gramados, segundo suas contas, Romário, 43, começa hoje
uma nova carreira. Aposentado
desde o final de 2007, ele será
apresentado no América como
o principal trunfo do centenário clube do Rio para voltar à
primeira divisão estadual.
O ex-atacante será uma espécie de garoto-propaganda para
conseguir patrocinadores para
o seu time de coração. E pode
virar gestor do clube depois.
Romário permanece polêmico. Em entrevista à Folha, o
ex-jogador, que já fugiu de concentrações durante as viagens
com os times que jogou, declarou que a disciplina é fundamental para um futebolista ter
sucesso na carreira.
FOLHA - Qual o motivo que o levou
ao América?
ROMÁRIO- Na verdade, estou
numa de ajudar o clube a correr
atrás de investidores e patrocinadores. Queremos fazer um
time legal para levar o América
para a primeira divisão. Não
quero ganhar nada com isso.
Estou aqui mais como torcedor. Isso pode até virar profissão, mas, por enquanto, é apenas a minha paixão.
FOLHA - Qual será sua função?
ROMÁRIO- Não vou ficar no dia
a dia do América. Quero apenas
viabilizar patrocínios para o
clube. Depois, posso ser o gestor do futebol do time. Vocês
sabem como é difícil isso, principalmente no futebol carioca,
que tem uma falta de credibilidade fodida e é uma sacanagem
do caralho. Imagina no América, na segunda divisão.
FOLHA - Agora do lado de fora, o
que você acha fundamental para
um atleta ter sucesso?
ROMÁRIO- No futebol de hoje, a
disciplina é uma coisa que o jogador precisa. Isso nunca foi
uma marca minha [risos]. Mas
o futebol está cada vez mais
profissional. Não vou ser disciplinador. Vou ser o cara de
sempre, mas cada um tem a sua
maneira de cobrar. Espero que
a minha maneira seja positiva.
FOLHA - Um jovem como você foi
teria lugar no América?
ROMÁRIO- Nunca gostei de treinar e concentrar. Mas, para jogar até 41 anos, tive que fazer isso. As pessoas não precisam só
fazer o que gostam. Mas, se esse
garoto der resultado no campo,
a multa será menor [risos].
FOLHA - Você sente falta de algo
do tempo de jogador?
ROMÁRIO- Não vejo muito jogo,
mas, quando olho na TV, dá
aquela coisinha. Não é falta,
mas uma saudadezinha. Posso
dizer que joguei até o limite,
mas nunca fiquei de saco cheio
do futebol, dos 90 minutos. Enchi o saco de uma porrada de
coisa que tinha ligação com o
futebol. Vocês, da imprensa,
eram chatos. Hoje estou aqui
pedindo ajuda. Vê como são as
coisas. Elas mudam [risos].
FOLHA - O que você está achando
da volta do Ronaldo?
ROMÁRIO- Tem gols que só ele
faz. Aqueles [contra o Santos]
são exemplo. É legal ver ele
dando a volta por cima. Acho
que o primeiro gol foi o mais difícil. Às vezes, o que é mais bonito não é mais difícil.
FOLHA - O que achou da saída do
Adriano da Inter de Milão?
ROMÁRIO- Entendo totalmente
o Adriano. Passei por isso no
Barcelona. Perdi dinheiro para
jogar no Flamengo, mas fiz o
que queria. Ele tem toda a razão. Sou da favela e sempre vou
lá. Se se sente bem lá, está certo. Gosto dessa frase que vou
dizer: a gente só sente falta do
que teve. Entendeu? Se ele nascesse no Leblon, só sentiria falta do Leblon. Se foi criado na
favela, vai sentir falta de lá.
FOLHA - Você está fazendo mesmo
depilação no corpo?
ROMÁRIO- A minha esposa aluga essas máquinas para clínica,
e virei a cobaia [risos]. Minha
mãe resmungou. Tirar os pelos
é para gente que tem a cabeça
mais aberta, mas minha mãe
sabe o filho que tem.
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